Opinião: Caves vinícolas transformadas em museu

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Mário Nunes

Na passada semana, em Anadia, decorreu em ambiente de alegria, convívio e saudade, a reunião do Curso de História 1975/79, um curso que marcou positivamente a Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras, e que é recordado por docentes e discentes como um marco histórico que transformou a “serenidade” pedagógica das aulas, pela participação ativíssima dos alunos, que passaram a moldar as lições dispensando a “modorra” das aulas de sebenta. Um curso que reúne, anualmente, há 33 anos consecutivos.

O Município da Anadia, neste périplo do curso pelo País, deu guarida e colaboração ao encontro. Os colegas radicados no concelho foram os organizadores, nesta alternância anual. Duas visitas museológicas marcaram a confraternização: o Museu do Vinho, na cidade; o Underground Museum, em Sangalhos. O Museu do Vinho, um espaço didático de relevante importância no coração da Bairrada, ocupa um edifício exemplar onde o visitante percorre, pedagogicamente, o ciclo do vinho. Desde a seleção da cepa, do terreno em que é plantado o bacelo, passando pela poda, empar, sulfatar, colher as uvas, levar ao lagar, pisar, dornar, filtrar, encher os cascos, engarrafar, embalar e chegar ao circuito comercial, tudo se entende pela explicação do guia, pela imagem, pela exposição dos utensílios agrícolas da produção e pela maquinaria industrial e artesanal que completa o ciclo vinhateiro. Conclui a visita a mostra de milhares de sacarrolhas e verrumas, de milhentos tamanhos e formatos, de diferentes materiais, alguns em prata, marfim, osso, cristal, dourado e vidro. Um espólio deslumbrante.

Depois do farto almoço aconteceu a segunda visita: “Aliança Underground Museum”, em Sangalhos. Quem conhece aquele edifício “Caves Aliança”, fica agora surpreso, pois é convidado, para se enriquecer com o acervo museológico que se derrama nas profundas e intermináveis galerias, onde há 70 anos repousavam vinhos, aguardente e espumante em garrafas e pipas. Hoje estão ornamentadas, sobretudo, com objetos de arte e de artesanato. O Comendador Joe Berardo “desviou” uma parte da Coleção Berardo e organizou aquele espaço expositivo, que abarca oito coleções distintas: arqueologia, etnografia, mineralogia, paleontologia, azulejaria, cerâmica e estanharia. Equipamento museológico de impressionante extensão temporal, algum com milhões de anos. São peças únicas, de múltiplas origens e espécies, agregando valores e significado histórico, geracional, cultural e até sentimental. Este espólio materializa o “Aliança Underground Museum”, distribui-se por 1.500 metros quadrados de área subterrânea ao longo dos túneis das caves, onde permanecem, ainda, algumas centenas de pipas em madeira, toneis e garrafas. Mas, a arte é a rainha.

Uma guia especializada conduz os visitantes pelas maravilhosas esculturas do Zimbabué, em madeira e pelas de pedra de Tengenenge, pelas figuras em terracota com mais de 1.500 anos do Niger. Explica a magia das máscaras rituais, as estátuas, os artigos de joalharia, os utensílios e vestuário dos indígenas. Alude aos fósseis de animais, plantas, peixes e conchas com 20 milhões de anos. Olha os minerais de ametistas, calcites, moscovitas, quartzo, turmalinas do Brasil, os raros azulejos do século XVIII das Caldas e do período Bordalo Pinheiro, os enormes fálicos e outras excêntricas obras de arte. Um “Underground Museum” de excecional dimensão conjuga arte e vinho e evidencia a força da criatividade humana, aproveitando a pródiga natureza. Um encontro da arte, do vinho e do leitão.

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