Luís Santarino
Deixei Coimbra domingo passado. Não assisti ao desfile da Queima das Fitas, o que, desta vez, me entristeceu sobremaneira por razões de afecto pessoal.
Enquanto tentava dormitar, e mudando de continente, assaltava-me uma preocupação enquanto cidadão de Coimbra… e de corpo inteiro!
A festa dos estudantes da maior academia de Portugal parece ser, ano após ano, colocada em causa.
Ora o ruído – com chamada de primeira página – ora “outra coisa qualquer”, é sempre motivo para colocar limites fora do aceitável.
Uma das características da Queima das Fitas é a alegria contagiante de milhares de jovens. Uns, entre eles e elas, bebem de mais? Concordo que sim. Mas que tenho eu a ver com isso e quem tem o direito de questionar tal?
Sou um adepto incondicional dos exageros. Porquê? Simples. Está no nosso ADN! Se não fossemos gente de exageros, será que D. Afonso Henriques teria “dado umas chapadas na mãe? Na crise de 1383 – 1385, seria possível desatar à chapada a uma rapaziada que se queria apoderar do rectângulo? Nós, que dividimos o mundo ao meio, “demos novos mundos ao mundo”, “virámos o Cabo da Boa Esperança”, descobrimos o Brasil, andámos por África e especializámo-nos a “trazer do bom e do melhor das Índias”, que “atirámos uns gajos pela janela em 1640 (não se atrevam a acabar com esse feriado), derrotámos uma ditadura, e atirámos o país em pleno século XXI para a miséria, não somos decididamente, uns exagerados?
Com diria o meu querido professor Martins, “olha que porra… pois claro”!
Coimbra, terra de Camões – quem dirá o contrário? –, que sempre foi um homem de exageros.
Estou de novo a reler a sua estória de vida. Só um homem fruto do exagero poderia escrever uma obra como os Lusíadas”!
Coimbra, os jovens de hoje, são os seus descendentes. Os sossegadinhos, esses, como os suíços, “descobriram o relógio de cuco!
Coimbra só existe porque tem uma universidade respeitada em todo o mundo; porque tem uma Associação Académica, cultural e desportiva, que faz as delícias dos jovens de “todas as idades”; porque a grande maioria dos seus cidadãos desejam que cresça e se desenvolva.
Quem coloca problemas centrando o “barulho” como a sua maior preocupação, não sabe, nem nunca perceberá que o silêncio é o pior dos ruídos!
A Queima das Fitas será sempre uma grande festa dos estudantes e da cidade de Coimbra. Não vale a pena contrariar a tradição porque a nossa vida colectiva não o permitirá.
Muitos dos melhores técnicos que o país conhece são oriundos do ensino superior de Coimbra. Tenho um orgulho imenso de viver o meu dia a dia com jovens que têm dedicado a sua vida ao trabalho e à inovação. A sua vida de luta, de espírito de sacrifício, de trabalho empenhado, de nunca desistirem, faz de todos os jovens que abraçam uma profissão, homens de orgulho pelo que descobrem e inovam.
“Encabre-se” quem gostar, beba água quem tiver mais juízo! Mas sejam sobretudo jovens. Não se deixam atemorizar e muito menos julgar por uma “velhada caduca”!
Nós teremos um grande orgulho em todos os que de Coimbra levarem a saudade, que a todos corrói mas que os mantém vivos!
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