Lucílio Carvalheiro
Não existe formação política que se possa arrogar o título da filha dilecta da moral, da ética; por isso um político afirmar-se mais puro, mais imaculado, mais virtuoso, não é uma definição política.
Mas aqui termina a minha intervenção interpretativa do fenómeno político, não abdicando, no entanto, da qualidade de militante político (não filiado em qualquer partido), para me manter fiel aos princípios, valores e convicções que aceito, ou seja: é em completa solidão que assumo a responsabilidade cívica, sem processo de transferência para terceiros.
Dito isto, aquilo que me pertence é não me deixar enredar por mistificações de mesquinhez política ocasional, ou de conversas de alcoviteiros.
Ora, para o “caso Sócrates”, ex-Primeiro Ministro, talvez seja necessário juntar as observações da Presidência da República, do PSD, do CDS, do Governo PSD/CDS, para reconhecer que aquilo que sopra é o vento de «sindroma»; muita da agitação oficial e oficiosa, traduzida numa sucessão alucinante de declarações, comentários, deixa apenas a impressão do completo vazio, da inutilidade consciente, como se houvesse o propósito de preencher o tempo e entreter o eleitorado.
Tudo porque os factos relevantes e de interesse nacional não abonam aos “detratores”de Sócrates, desde logo: a declaração oficial do actual Primeiro Ministro “Portugal não tem uma dívida pública insustentável” (Sic); daqui se infere que atribuir a penúria nacional ao “Governo Sócrates” é uma explicação de mérito muito discutível; haverá, então, que se questionar a responsabilidade da sociedade civil – a Banca e os seus maus investimentos, o cidadão e os seus gastos de consumo de artigos importados num mercado aberto, livre, sem o Estado poder interferir aduaneiramente – consequente desequilíbrio da balança comercial.
Por outro lado, chega a consternar a insistência com que alguns parecem querer distanciar-se desse consulado Sócrates na base de um capital de queixas, mas sem um exame das variáveis do jogo politico partidário e da sua contribuição para avaliação do conhecimento de todos os problemas, porquanto: no que se refere a esse período, não consta que as classes sócio-profissionais tenham perdido património, diminuído os proveitos, atrasado as carreiras; pelo contrário, todos melhoraram visivelmente de condição profissional e material.
Assim, como os factos relevantes – de interesse nacional – falam mais alto que toda a retórica da Presidência da República e do Governo PSD/CDS leva a quem os ignore (os factos relevantes) estarem cometidos de um efeito tão complexante que os leva a dedicarem-se, na era da nossa Democracia, à primeira conhecida experiência de psicanálise nacional – o sindroma Sócrates.