Numa encruzilhada

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Luís Santarino

O Senhor Presidente da República iniciou um exercício difícil e muito arriscado. Trabalhar “ no trapézio sem rede”, em política é perigoso e não está ao alcance do comum dos mortais.

As declarações feitas não são inocentes. Desejava e deseja perceber se os dois maiores partidos estão dispostos a assumir um governo de salvação nacional.

Imaginava, sabe-se lá saber porquê, que o Partido Socialista não falaria a uma só voz quando estivesse em causa o bom nome de um seu militante ou dirigente.

Percebe-se a preocupação do Presidente com a situação do País.

Por um lado, o governo afirma de forma peremptória que não haverá ajustamentos e, por outro, a grande maioria dos analistas económicos afirma o contrário.

Afinal, quem fala verdade, quem vê para além do hoje, quem consegue ser metacompetente?

Para além disso, e também demasiado importante é o facto do CDS/PP ser um parceiro credível do PSD aos olhos dos portugueses, não se desgastando em situação nenhuma. Ele já percebeu que o trabalho desenvolvido pelos seus ministros, tem da parte dos cidadãos, uma boa, senão imensa satisfação.

O PSD não fez o mesmo que Henry Kissinger, ao aconselhar Francois Miterrand, de forma a anular aspirações futuras do PC francês. Miterrand deu-lhes pastas complicadas de gerir. Resultado, o PC francês ficou sem a sua base social de apoio e hoje, não tem nenhum peso na política francesa.

O PSD deu ao CDS/PP pastas de risco calculado ou sem risco. O CDS/PP está a capitalizar simpatias, nunca podendo ser colocado de fora em futuras negociações. Ora, era isso exactamente que o Presidente não quer, sabendo que o CDS/PP trabalha muito sobre a base social de apoio do PSD. São concorrentes em largas franjas sociais do País.

Cavaco Silva sabe que os problemas do país não se resolvem sem o Partido Socialista. Apesar de António José Seguro afirmar que os passos que daria seriam bem diferentes, o Presidente não acredita. Parece-me que ninguém acredita, pese embora o facto, do PS assumir a responsabilidade dos actos por si rubricados.

Sendo assim, poder-nos-emos encontrar numa encruzilhada. Preparar o terreno discursivo para acordos que não envergonhem, é determinante para a aceitação do cidadão comum.

Parece-me que o Presidente “queimou” uma oportunidade de ouro. Para ser o árbitro numa futura crise, tem de resolver primeiro este imbróglio em torno de José Sócrates. Mesmo assim, tenho dúvidas que os socialistas lhe perdoem estar de forma sistemática a acusar dirigentes seus, porquanto todos sabem, o que foi o desastre da sua governação durante 10 anos.

Mário Soares teve enormes dificuldades de relacionamento com o actual Presidente. O PS não esquece actos e frases dessa altura; “palavra dita não tem retorno!

Claro que, como eu afirmei, teria sido muito mais fácil se o PS tivesse negociado com o PSD a aprovação do orçamento; nem os portugueses sofreriam tanto, nem o Presidente diria tais coisas!

Mas a vida é assim! O arrependimento é saudável…mas não resolve o disparate!

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