Nem mais!

Spread the love

Francisco Queirós

Diariamente, 100 estudantes portugueses abandonam o ensino superior. Números de novembro indicavam que mais de 6 mil jovens tinham feito as malas e regressado a casa.

As dificuldades económicas da família, o aumento das propinas, a dificuldade de acesso a bolsas de estudo empurraram estes milhares de estudantes para fora do ensino superior.

Estudar é um luxo! Propinas de mil euros, despesas de alojamento, alimentação, transporte, livros e outros materiais escolares não são para todos os orçamentos familiares. Para uma família de rendimentos médios ter um filho deslocado a frequentar o ensino superior é insustentável.

O que será então para as famílias de menores rendimentos, famílias monoparentais ou com mais de um filho deslocado e a frequentar o ensino superior? A ação social escolar hoje não garante apoios suficientes a estes jovens. Os preços das refeições nas cantinas subiram, o custo de alojamento em residências também.

Às famílias com dívidas à Segurança Social retira-se-lhes a possibilidade de acesso a bolsa. No último ano letivo, foram 11 mil os estudantes que perderam o direito a bolsa e 12 mil outros sofreram cortes no seu valor.

É assim que o país trata os seus jovens. Muitos dos atuais quadros superiores de empresas, da administração pública, médicos, engenheiros, professores, advogados formados no pós-25 de Abril nunca teriam tido oportunidade de concluir o ensino superior se fosse assim já tão alto o seu preço. E é de preço que se trata.

E é obvio que, existindo uma política de austeridade, existe também uma política de opção de classe. Os filhos dos ricos nunca deixarão de estudar. Os filhos dos ricos serão ricos e os dos pobres serão ainda mais pobres. Garrett, que em “As Viagens na Minha Terra” questionou quantos pobres eram precisos para se fazer um rico, mal saberia que o número de pobres para a produção de um rico haveria de ter um crescimento exponencial.

Retirados os pobres e os filhos das classes médias das universidades e politécnicos faz-se-lhes o favor de não os entregar ao desemprego e a precariedade sem limites! Será pois uma medida louvável! Num país com um desemprego jovem escandaloso e pornográfico onde os poucos licenciados com emprego são homens-a-dias ou mulheres a dias em caixas de hipermercado ou “call centers”, é um favor que se lhes faz. Resta a emigração – sentenciam, sem vergonha.

Daqui, dependurado na insignificância desta página em branco e que agora transformo em letras e palavras, deixem-me sentenciar – cumpra-se a Constituição da República Portuguesa – seguramente bem diversa da constituição merkeliana da troika – “ artigo 73º 1– Todos têm direito à educação e à cultura. 2- O Estado promove a democratização da educação e as demais condições para que a educação, realizada através da escola e de outros meios formativos, contribua para a igualdade de oportunidades, a superação das desigualdades económicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de solidariedade e de responsabilidade, para o progresso social e para a participação democrática na vida coletiva.”

Nem mais!

7 Comments

Responder a João Silva Cancel

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.