O CHUC e a Saúde Mental

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Graça Santos

A cidade de Coimbra é uma referência na saúde do país, com muitas instituições prestadoras de cuidados, todas prestigiadas e dotadas de meios sofisticados de diagnóstico e terapêutica.

Vamos esperar o resultado da criação do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) na perspectiva da melhoria da relação custo/eficácia, mantendo a qualidade e a acessibilidade dos cuidados, favorecendo igualmente a criação de pólos de excelência. Em todas as especialidades médicas há mudanças a fazer, competências a potenciar, algumas resistências a esbater, no entanto, pensamos que respeitando os profissionais e com projectos bem estudados, podemos obter ganhos substanciais.

A Saúde Mental é provavelmente a área onde se pode dar um salto qualitativo na capacidade de dar ao doente um tratamento mais humanizado, menos estigmatizante, mais moderno e tecnicamente mais evoluído, mas também significativamente menos oneroso. Mas também se não houver bom senso e estudo sobre o que actualmente se defende para o doente mental, podemos retroceder 30 anos e ficar na história como os “Velhos do Restelo da Psiquiatria”.

Hoje dispomos de quatro instituições psiquiátricas (Hospital de Lorvão, Colónia Agrícola de Arnes, Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra e Serviço de Psiquiatria dos HUC) que rapidamente podemos reduzir para duas, com as inerentes poupanças e o término de eventuais resquícios de cuidados psiquiátricos asilares em Coimbra.

A Psiquiatria em Coimbra é hoje capaz de garantir uma vasta gama de respostas em áreas tão diversificadas, como os cuidados clínicos, psicoterapias, psiquiatria forense, comunitária, ou mesmo na área da investigação e ensino, em que existem protocolos com universidades como Harvard, Minho, Algarve e Aveiro.

São exemplo disso consultas específicas como a Gerontopsiquiatria, Consulta de Prevenção do Suicídio, que dinamiza esta temática a nível nacional, ou ainda a Consulta de Sexologia, incubadora da toda a Sexologia Portuguesa, com recentes e importantes desenvolvimentos técnicos.

Também na violência doméstica, na reabilitação cognitiva e na psiquiatria forense se desenvolve trabalho a realçar.

Na área das Neurociências, destacam-se técnicas terapêuticas pioneiras, tais como, a Estimulação Magnética Transcraniana e a Estimulação Cerebral Profunda, em colaboração com a Neurocirurgia.

Igualmente, há trabalhos de investigação na área da genética, da neuro-imagem, que nos põe na vanguarda destes conhecimentos.

Asseguramos também um conjunto grande de trabalho de ligação aos Centros de Saúde, tanto no CHPC, como nos “velhos HUC” e a outras especialidades onde a nossa acção é requisitada (oncologia, transplantes, queimados, cirurgia de epilepsia, cirurgia da obesidade, clínica da dor, etc.)

Mas o importante é o que virá a seguir: ou somos capazes de acompanhar o Plano Nacional de Saúde Mental e navegar com os ventos da história, ou vamos para o mais fácil, mas também o mais retrógrado, que é relegar a Psiquiatria para longe da sua mãe, a Medicina, e voltar ao velho conceito de hospital psiquiátrico.

É aqui que se joga o futuro, garantindo a opção da Psiquiatria com capacidade de inovação científica na prestação, mas dando ao doente em crise a possibilidade do tratamento em condições dignas, sem constrangimentos, em paralelo com as outras patologias.

É possível num curto espaço de tempo manter uma dinâmica em que os profissionais gostem do trabalho que fazem e se orgulhem da Instituição em que desenvolvem a sua acção.

Para se atingir tal desiderato, será fundamental ter uma clínica de agudos no actual Serviço de Psiquiatria com a mesma grandeza, incrementar a figura Hospital de Dia nos Centros de Saúde, reforçar o apoio das equipas de Psiquiatria Comunitária para pequenas intervenções em crise e para o aconselhamento do Médico de Família. Provavelmente e de modo transitório poderá haver uma pequena unidade de cuidados intermédios no actual CHPC, até tudo estar em pleno funcionamento e agilizado. Seria aceitável que a reabilitação, os doentes inimputáveis e outras valências psiquiátricas e outras, continuassem por enquanto no Hospital Sobral Cid.

Reconhecemos que se correm riscos, fundamentalmente se as “mentalidades” forem fechadas, preconceituosas, levando ao retrocesso da Psiquiatria, aumentando os factores que levam às dificuldades do tratamento e à ocultação/negação da doença mental como evitamento à estigmatização, deixando assim por tratar muitos doentes.

Estamos convictos que haverá “golpe de asa” da nova Administração para perceber o que se joga nesta altura, pois, deste modo, rapidamente os CHUC serão a excelência da Psiquiatria Portuguesa, tanto na prestação como no ensino e na investigação.

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