Mensagens a apelar à manutenção da Fundação Aristides de Sousa Mendes, alegando a importância do cônsul e a necessidade de recuperar a sua casa, estão a ser enviadas ao Governo por familiares do humanista e amigos desta causa.
O Governo tem em curso um censo às fundações com atividade em Portugal – entre as quais a que tem o nome do cônsul português que salvou milhares de refugiados durante a II Guerra Mundial – para decidir futuras extinções ou o fim dos apoios públicos. “Queremos sensibilizar o secretário de Estado da Presidência e outros membros do Governo para a necessidade de continuar com a fundação”, explicou à Lusa António Moncada de Sousa Mendes, neto do cônsul e instituidor da fundação.
O texto das mensagens a enviar por correio eletrónico a Luís Marques Guedes, que também circula nas redes sociais, diz que a antiga casa de Aristides de Sousa Mendes em Cabanas de Viriato, concelho de Carregal do Sal, conhecida por Casa do Passal, “evoca os atos heróicos deste grande humanista, de que Portugal se deve orgulhar”, e, por isso, é, “a todos os títulos, monumento de toda a humanidade”.
Como seria uma “grande perda para a humanidade que este espaço ruísse”, os subscritores do texto entendem que é importante que a sua proprietária – Fundação Aristides de Sousa Mendes – não seja extinta, uma vez que está empenhada na recuperação do edifício, contando para isso com a “ação empenhada de familiares e amigos” desta causa. “Há pessoas de todo o lado que estão a reagir e a enviar a mensagem, não só de Portugal, mas também da América, do Canadá, do Brasil, da França e da Bélgica”, contou António Moncada de Sousa Mendes.
O neto de Aristides de Sousa Mendes admitiu que a fundação, que existe há doze anos, tem vivido com dificuldades, principalmente porque não tem dinheiro para fazer a sua grande obra: um museu dedicado aos direitos humanos na Casa do Passal. “Obviamente que, quando o museu estiver a funcionar, haverá retorno para a região e para o país. A fundação é a dona da casa. Se a fundação for extinta como é que vai ser? É o Estado que vai assumir isso?”, questionou.
António Moncada de Sousa Mendes lamentou que não haja “ninguém dentro do aparelho do Estado que abrace esta causa”, porque “os direitos humanos em Portugal ainda não assumiram o nível que deviam”. Contou que a Casa do Passal foi comprada com dinheiro dado pelo então ministro dos Negócios Estrangeiros Jaime Gama, que nos dois anos seguintes manteve um apoio financeiro à fundação.
Posteriormente, a fundação chegou a receber dinheiro através de um programa de recolha de sangue do Ministério da Saúde por ações que desenvolvia nas escolas, o que já não acontece há vários anos. “Neste momento não temos nenhum apoio do Estado. Mas, mesmo assim, eles podem decidir extinguir a fundação, não sei porque razão”, acrescentou.
A Fundação Aristides de Sousa Mendes terá que entregar o questionário do censo até quinta-feira. Em setembro, Luís Marques Guedes explicou que o objetivo do censo em curso é “proceder a uma avaliação do custo/benefício e da viabilidade financeira de cada fundação e decidir sobre a sua manutenção, extinção, cancelamento dos apoios financeiros ou a perda do estatuto de utilidade pública, caso tenha sido concedido”.
Aristides de Sousa Mendes, cônsul de Portugal em Bordéus em 1940, distinguiu-se por ter salvo cerca de 30 mil pessoas, na maioria judeus, da perseguição nazi, desobedecendo às ordens do Governo português da ditadura do Estado Novo. O diplomata foi declarado um “Justo entre as Nações” pela Yad Vashem, a autoridade judaica sobre heróis e mártires do Holocausto, em 1966.
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