Rui Cruz
O trânsito é o indicador mais perfeito do grau de desenvolvimento e organização de uma cidade. O trânsito rodoviário é o reflexo da falta de planeamento da mobilidade das pessoas e bens no espaço urbano.
Mais, o trânsito revela a centralidade da cidade num contexto mais vasto da região e do país. Nada poderia demonstrar com mais exactidão quais são os nossos principais defeitos. Ausência de uma visão estratégica da mobilidade no espaço urbano, no seu processo de crescimento, bem como das suas ligações com toda a região circundante, com a qual interage e do qual depende.
Esta reflexão vem a propósito das obras que se iniciaram na Ponte Açude, uma intervenção de reabilitação de uma importante rodovia que vai durar cerca de um ano e meio. As dificuldades de circulação rodoviária em Coimbra a determinadas horas, já eram por demais conhecidas. Mas agora, as dificuldades adensaram-se e têm um impacto em toda a cidade e localidades limítrofes, convidando as pessoas a procurar alternativas e a percorrer maiores distâncias.
Mas não se pense que as dificuldades de circulação são apenas para quem atravessa a cidade num dos sentidos do IC2. Não. Basta ver o que acontece a quem se dirige para Santa Clara vindo do centro da cidade. Os automobilistas vindos da Ponte de Santa Clara, são obrigados a contornar o Estádio Universitário para tomarem a Av. Inês de Castro. A distância entre a saída da ponte e a entrada na Av. Inês de Castro, contornando o Estádio Universitário, é exactamente de 1,5 km. Enfrentam cinco semáforos.
Demoram em média cinco minutos, se tiverem a sorte de apanhar todos os semáforos abertos. Correm o risco de acidente quer junto ao parque de estacionamento do estádio, quer na entrada da Guarda Inglesa, onde já se registaram vários acidentes, alguns com feridos graves. A piorar este cenário, é o facto de todo este caudal de automóveis passar junto a um parque desportivo e a uma escola. O que manifestamente não abona nada a favor da segurança destas crianças, nem deixa os pais sossegados. A juntar a estes condicionamentos, estão ainda as obras no convento de S. Francisco, que estão para durar e causam, também, problemas a quem circula naquela zona de Santa Clara.
Face a esta situação deveras complicada, questionamos se não é a altura ideal para que seja reposto o acesso directo da Ponte de Santa Clara para a Av. Ines de Castro, conforme estava antes. Pois, ao que sabemos, a alteração de circulação ora existente, quando foi feita, era considerada provisória.
Decerto, os custos serão baixos, porque, em nossa modesta opinião, basta regular os semáforos, pintar sinalização horizontal e alterar um ou outro lancil e placas de sinalização.
É inquestionavelmente mais barato do que as toneladas a mais de CO2 libertadas pelos veículos obrigados a contornar o Estádio, fornecendo assim um ar altamente poluído aos atletas que lá praticam os seus desportos. É inquestionavelmente mais barato que os acidentes verificados na faixa mais à esquerda da Guarda Inglesa.
É inquestionavelmente mais barato que os custos do combustível e do tempo de viagem gastos para tão curta distância. Deste modo, o fluxo de trânsito vindo da Guarda Inglesa em direcção ao Portugal dos Pequenitos diminuiria substancialmente, contribuindo para a melhoria da segurança e qualidade de vida de quem aqui vive.
Estamos certos que esta sugestão será bem entendida pela autarquia, até porque são conhecidas as suas preocupações ambientais e de mobilidade. Lembramo-nos da preocupação da autarquia na proposta de um corredor para peregrinos a caminho da Fátima; na participação na semana da mobilidade; nos pequenos Smart eléctricos e os troley que, muito bem, continuam a circular.
Também estamos certos que os atletas da AAC e o público em geral que diariamente frequentam o Estádio Universitário e os alunos da Escola Silva Gaio agradecem um ar mais respirável para a prática desportiva. Tal como as centenas de automobilistas que por ali são obrigados a passar, poupando-lhes tempo e dinheiro.
Uma simples alteração de circulação rodoviária, com a qual saem todos a ganhar.
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