Pingo Doce

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Aires Antunes Diniz

Todos os dias vemos mudanças nas leis e/ou aproveitamentos oportunistas das leis que prejudicam a consecução dos objectivos de equilíbrio orçamental definidos pelo Governo Português e pela Troika.

Um dos mais badalados foi o do Pingo Doce, uma empresa, cujo marketing e propaganda nos têm andado a convencer de que cumpre altos ditames de responsabilidade social, merecendo por isso as compras de todos os portugueses. Contudo, esta e outras grandes empresas têm-se andado a “aproveitar” de todas as falhas da governação, que não tem mão nelas, mostrando os governos do PS/PSD/CDS só coragem quando se trata de pedir sacrifícios aos trabalhadores, pensionistas, crianças, desempregados, pequenas empresas, etc., ou seja a quase todos.

Contudo, o actual governo, querendo mostrar-se um bom aluno, avisou logo que ia fazer mais do que o exigido pela troika, mas vemos que é tudo treta.

Também em 1892, aquando de uma bancarrota que os nossos “economistas” esquecem, também “A lei de 26 de Fevereiro de 1892 contém doutrina mais rigorosa do que a do artigo 42º do regulamento, determinada pelo desejo de remediar as nossas avariadas finanças” , mas logo foi revogada, como nos informava Marnoco e Sousa na sua dissertação para concurso como professor da Faculdade de Direito em 1893.

Estranhamente também nada dizia sobre os contornos da nossa crise financeira, nem sequer nos informava sobre o escândalo do Banco Lusitano. Para ele, nada havia como certo ou errado na prática dos ministros e governos, mostrando-se incapaz de esboçar uma censura à governação, sendo ridicularizado por essa razão.

Podíamos pensar que era algo circunscrito a um tempo em que a economia era ciência desconhecida para cá da fronteira, contudo temos agora alguns milhares de economistas calados que nem uns ratos, ou que surgem na televisão a dizer umas patacoadas. Fazem-no, como se fosse possível nunca terem lido um manual de finanças públicas. Ou então escrevem umas croniquetas sem sal, ou seja, sem qualquer emissão de juízo de valor que aumente o rating da nossa credibilidade.

Limitam-se a confirmar com a sua abalizada opinião como boa a nossa governação, mas toda a avaliação feita pelas doutas agências de rating mostra que só produz lixo. Dizem-me que fazem tal acrítica opinião para não ficarem mal vistos entre os “colegas de profissão”. Mas, isso evidencia que sofrem da síndrome do pensamento de grupo (groupthink). Talvez a consciência dos sacrifícios crescentes que quase todos somos obrigados a suportar os liberte …e cure. Como o remédio desta patologia passa sempre pelo pensamento dos avaliadores críticos das verdades oficiais, tenhamos a coragem cívica necessária para o fazer.

1 – Marnoco e Souza – Syntheses Financeiras. O estado proprietário, industrial e capitalista. A fixação e determinação das despesas públicas. Imprensa da Universidade, Coimbra, 1893, p. 85.

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