Monsenhor João Evangelista
Se integrarmos na designação genérica de obras todos as necessidades de manutenção e restauros podemos afirmar que assim as obras nunca acabam. Algumas atrasam-se mais e há demoras que agravam os problemas, simples no princípio, mas penosos e complicados no fim. Todos os dias somos perguntados sobre o andamento das obras da Sé Velha.
Nesta altura temos em vista a retoma das obras do Claustro, que parece estar para breve, e o projecto da Rota das Catedrais, que vai dar atenção aos telhados, e às muralhas ao restauro e limpeza das obras de arte, à possível recuperação de espaços úteis para o acolhimento de visitas e talvez à iluminação, instalação de aparelhagem electrónica para visitas guiadas. Estas são obras já assumidas pelos serviços regionais do Ministério da Cultura e com fundos já em parte contabilizados.
Tratando-se duma igreja monumento nacional aberta ao culto, qualquer obra exige consultas, acordos e avaliações entre os responsáveis da Igreja e do Estado e tendo sempre em conta a opinião pública, o parecer dos técnicos e a serventia à cultura e ao serviço religioso. Ora acontece que nem sempre as opiniões convergem e a mobilidade das pessoas traz novas sugestões, os orçamentos não comportam ou a vida muda. O governo duma obra destas é um prodigioso exercício de equilíbrio e de arte nas relações humanas. A cada passo pode surgir um conflito que complica tudo.
O último grande restauro de 1895 a 1902 que deu à Sé Velha a formosura da forma primitiva do românico esteve em mais do que uma vez em risco de se perder em conflitos pessoais. Valeu a persistência do Bispo D. Manuel Correia de Bastos Pina com o apoio da Rainha D. Amélia, a competência do Doutor António de Vasconcelos e a fidelidade e competência de António Augusto Gonçalves. A complementaridade e bom entendimento entre estas quatro personalidades ditaram o grande sucesso que foi aquele restauro. E assim, “D. Manuel Correia de Bastos Pina”, àquela mesma igreja, puída pela velhice e conspurcada por obras ruinosas já desfigurada pode restitui-la à forma primitiva e no dia 4 de Julho de 1902 com os cónegos da Catedral e muitos sacerdotes e clérigos de toda a Diocese à sua volta como uma coroa, estando presentes as autoridades conimbricenses, o reitor e o senado da Academia, os magistrados e procuradores, com grande alegria do povo, foi o restauro do templo restaurado solenemente inaugurado segundo o rito pontifical. Também a memória desta mesma igreja será celebrada todos os anos por decreto de S. S. o Papa S. Pio X”. (Liturgia das Horas)
É verdade que as obras da Igreja nunca acabam porque as obras da Igreja são vida, não são um simples abrigo.
O que não é possível é edificar e reparar a Igreja criando ou alimentado conflitos, em que as pedras vivas percam a noção da sua própria identidade de construtores da paz.
Esperamos que as nossas obras não tardem muito a chegar a bom termo.
E precisamos de começar a alertar amigos e a solicitar às entidades colaborantes para duas urgências que estão à muito para além das nossas forças: o telhado da residência e uma grade de resguardo da igreja que todas as manhãs aparece gravemente conspurcada e maltratada.