A Maria trabalha 12 horas por dia e não pode acompanhar os filhos

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Rita Rato, deputada do PCP

A Maria vive na Lousã. Tem 36 anos, dois filhos menores e trabalha numa grande superfície em Coimbra. Mais perto de casa não há emprego. Com o fecho do Ramal da Lousã, o trabalho por turnos e aos feriados e fim-de-semana só pode ir de carro próprio.

Contas feitas ao fim do mês: empréstimo da casa, empréstimo do carro, gasolina, alimentação, creche, o salário de 650 euros e o subsídio de desemprego do marido não chegam para as despesas básicas. Prefere fazer todos os dias este caminho (praticamente pagando para trabalhar) do que se ver parada em casa, com 36 anos, sem trabalho e contas para pagar.

A Maria, além das 8 horas de trabalho diário, com a imposição do banco de horas leva com mais 2h/dia. Mas como o patrão alargou o horário de trabalho para duas horas para almoço porque sabe que a Maria e os colegas não vão sair da empresa, estes trabalhadores têm na realidade 12h de trabalho. Há semanas em que se levanta às 6h da manhã para tratar da casa e dos filhos, fazer-se à estrada para trabalhar e regressar a casa à noite. Semanas há em que só os vê a dormir, não ajuda a fazer os trabalhos de casa, não pergunta como correu o dia, não conta uma história. Meses há em que a folga é sempre num dia de semana e não pode passear e brincar no sábado ou domingo com eles.

Mas a troika estrangeira e os grandes patrões acham isto pouco, e ordenaram ao Governo e à troika nacional (PS, PSD, CDS) o aumento do horário de trabalho em mais meia hora por dia, o fim de quatro feriados e o roubo de três dias de férias. Se assim for, a Maria entrará às 8h30, sai da empresa às 21h, chega a casa às 22h e acorda novamente às 6h30, para voltar a trabalhar. Isto é inaceitável. Mais um mês de trabalho gratuito por ano. Isto não é vida.

Em Portugal os trabalhadores do comércio e indústria conquistaram as oito horas de trabalho por dia em 1919 e os trabalhadores agrícolas em 1962, em plena ditadura fascista. Os grupos económicos e o grande patronato querem agravar brutalmente a exploração dos trabalhadores para continuarem a fugir aos impostos e a amealhar fortunas. Só a mobilização, resistência e luta dos trabalhadores pode travar este retrocesso.

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