“Coimbra perde por não cooperar na afirmação e promoção do Centro de Portugal”

Posted by
Spread the love


Foto Gonçalo Manuel Martins

Pedro Machado, responsável pelo turismo do Centro de Portugal,  defende a fusão de todos os polos numa grande entidade regional de turismo.

Que balanço faz do ano 2011?

O ano de 2011 termina, seguramente, como um ano francamente positivo, para o turismo do Centro de Portugal. Em primeiro, pela dinâmica da atividade do setor em si. Encerramos o ano com um conjunto de resultados ao nível do aumento da procura, quer nacional quer internacional; do aumento de proveitos e das dormidas e ao nível dos investimentos realizados.

Quando fala de proveitos, estamos a falar de que números?

Os dados do INE apontam para que o Centro de Portugal tenha crescido em termos de proveitos globais, 1,4 por cento no acumulado entre janeiro e outubro. Estamos ainda a falar de dados provisórios, mas que significam termos passado de 164 milhões (em 2010) para 167 milhões de euros. Em relação às dormidas, no mesmo período, no que diz respeito aos turistas estrangeiros, o Centro aumenta seis por cento. Mas também ao nível dos países que maioritariamente cresceram, de acordo com o INE, para o Centro de Portugal: a Alemanha, a Bélgica, a Holanda, o Reino Unido e, de uma forma muito exponencial, o Brasil.

Os investimentos concretizados foram significativos para o balanço final?

Sem dúvida. Estamos a falar em mais de 260 mil euros de investimento feito no Welcome Center de Viseu e em cerca de um milhão de euros investidos no Welcome Center de Castelo Branco, um esforço financeiro feito essencialmente pelo município local numa aposta estratégia e de desenvolvimento do setor. Mas também é importante referir a dinâmica que o turismo trouxe à região. Em 2011 tivemos os dois maiores congressos do turismo em Portugal realizados no Centro. Ou seja, o Congresso da Associação de Hotelaria de Portugal, na Figueira da Foz, e o Congresso da Associação Portuguesa de Agentes de Viagens e Turismo em Viseu.

O que é que o Centro espera de 2012?

Numa abordagem superficial, espera-se um ano de algum arrefecimento da procura interna, o que para o Centro de Portugal nos faz refletir na estratégia, no planeamento e, sobretudo, no investimento dos recursos. Uma realidade que nos obriga a repensar e forçar uma aposta na promoção externa enquanto elemento equilibrador desse arrefecimento que deve ser feita numa lógica defendida pelo já falecido Hernâni Lopes de que a tendência do turismo é para a cooperação e para a concertação estratégica. Vamos ter que cooperar mais, que utilizar melhor os recursos financeiros disponíveis e vamos ter que investir mais na promoção externa.

Quais são os principais desafios para 2012?

Assinámos recentemente o contrato para a promoção externa, e há quatro ou cinco indicadores que reforçam tudo isto que acabei de dizer. Portugal tem um desafio para 2012 que nos foi colocado a nós enquanto responsáveis regionais: aumentarmos um milhão de dormidas de estrangeiros. Ao Centro é-nos pedido que aumentemos em 2012, 75 mil dormidas em relação ao número que conseguimos atingir em 2011.

E o Centro tem capacidade para cumprir esse desafio?

O Centro tem muita vontade. Nós ultrapassámos todos os objetivos que nos foram colocados para 2011. Aumentámos o número de dormidas, o número de entradas de estrangeiros e o número de proveitos. Acredito que o possamos fazer de novo em 2012, mas com novas estratégias.

Voltando aos desafios…

O segundo objetivo para 2012 é termos uma intervenção direta nos mercados fundamentais para o Centro de Portugal. Espanha à cabeça, Alemanha, Reino Unido, Itália e Holanda a que juntamos o Benelux e o Brasil. O terceiro grande indicador é ao nível dos produtos turísticos que vamos promover nos mercados externos. O Turismo de Portugal confiou-nos a missão de podermos ter uma intervenção direta ao nível do turismo de natureza e do turismo ativo, patrimonial e do cultural. Há dois nichos de mercado e dois grandes produtos turísticos que vamos influenciar, nomeadamente, no turismo religioso, que deve ter do Centro de Portugal uma aposta acrescida para 2012, mas também ao nível do enoturismo e o cicloturismo. Muitos são os projetos iniciados este ano com as mais diversas parcerias com a CCDR, com municípios que pretendem intensificarmos esta nossa disposição natural e podermos ser um destino privilegiado no domínio do Turismo Religioso.

Quanto ao enoturismo. Temos produto, mas há muito a fazer.

Mas estamos a dar passos seguros. Queremos criar um produto complementar aos que já temos e consideramos que os vinhos também representam um ativo muito forte na dinamização da promoção da marca Centro de Portugal. Há concorrência, claro. Mas por isso é que é fundamental a cooperação que, neste caso, pode ser transfronteiriça. Conseguimos estabelecer parcerias com a CCDR, com Castela e Leão que é muito importante para nós. Tal como é o cicloturismo onde temos em estudo a criação da grande Rota do Atlântico. Um projeto de cooperação que está a ser feito ao nível nacional por forma a que Portugal e a região Centro em particular, se consolidem como um destino de eleição para os amantes do cicloturismo. São conhecidos alguns investimentos que estão a ser feitos na região, como a Ecopista do Dão, a ciclovia da ligação Coimbra – Montemor-o-Velho – Figueira da Foz, mas queremos ser muito mais ambiciosos. Queremos que essas obras contribuam para o posicionamento do nosso país no conjunto da Europa.

Uma forma de contrariar a crise juntando o útil ao agradável?

Se o entendermos como o antídoto para um ano que se prevê, de algum arrefecimento no setor, sim. Acreditamos que, e os resultados estão a ser todos os dias lançados no mercado, o turismo é um dos setores, se não o setor, que pode ajudar Portugal a criar esperança nos portugueses.

Quando fala no aumento do número de dormidas. Significa que a região deve cativar mais turistas ou tem que aumentar a capacidade de resposta?

Neste momento, a região oferece uma capacidade instalada que possibilita o aumento de dormidas e de entrada de turistas, quer nacionais e particularmente estrangeiros. Temos projetos inovadores, como é o caso do hotel de quatro estrelas na Pampilhosa da Serra ou um de cinco estrelas na Praia da Tocha que vêm qualificar o destino. Mas entendo que pode melhorar a qualidade dessa capacidade instalada, nomeadamente, na requalificação de muitos dos nossos empreendimentos turísticos.

E qual será a estratégia para captar mais turistas ao Centro quando se trata de uma região tão diversificada?

Saber, antes de mais, promover a região como um todo e com ofertas aos mais diversos níveis. Em segundo lugar, criar forma de drenar o fluxo dos turistas que mais facilmente entram pelas portas do litoral, nomeadamente pelas cidades de Aveiro, Coimbra ou Figueira da Foz, para a região. Em terceiro lugar, criando atrativos para que as pessoas fiquem mais dias no Centro e visitem toda a região.

Como é que isso se faz se as diferenças são tão marcadas ao nível das respostas e das próprias acessibilidades?

Criando, por exemplo, uma política de eventos, de animação que tenha presente não apenas o litoral, mas também o interior. Falei com um conjunto de empresas e de autarquias que querem promover e potenciar, por exemplo, a prática do cicloturismo nos concelhos do interior do país. Tivemos recentemente uma parceria com os municípios da Pampilhosa da Serra, Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pêra, Pedrógão Grande, Alvaiázere no sentido de podermos ter eventos que tragam as pessoas. E para além dos desafios que já falámos, e do desafio a nós próprios na criação e reforço de produtos complementares, de novos produtos, é podermos ter da parte da CCDRC essa assunção clara de que a entidade que melhor e mais eficaz hoje pode ajudar ao desenvolvimento regional é o Turismo Centro de Portugal. É muito importante para nós que tenhamos uma segunda hipótese como aquela que tivemos em 2009, 2010 e 2011, de realizarmos um investimento de mais de 2,5 milhões de euros na promoção desta região e na sua consolidação enquanto destino.

De um destino enquanto região…

De um destino turístico enquanto região. E por isso liderámos um consórcio em que tínhamos connosco o Turismo da Serra da Estrela, o Turismo de Leiria-Fátima, o Turismo do Oeste e o Turismo de Lisboa e Vale do Tejo. Estamos hoje a construir projetos, nomeadamente roteiros, que lançaremos em 2012 e que fazem a agregação destes territórios à volta. De roteiros para o nosso património cultural ou o nosso património imaginário como é a Rota de Pedro e Inês, entre outros que iremos apresentar. E, por isso, dizemos que pela experiência, pelos trabalhos e pelos resultados que alcançámos, a Turismo Centro de Portugal, que já é parceira da CCDR nos Caminhos da Espiritualidade, na cooperação transfronteiriça sobretudo com Castela e Leão e a Extremadura; que é parceira nesta ambição de termos a criação e a consolidação de uma marca Centro de Portugal, sai reforçada por termos conseguido agregar. E a provar que estamos empenhados nessa tarefa, desafiámos já para estarmos juntos na próxima BTL, as oito comunidades intermunicipais numa única plataforma onde vamos reforçar esta aposta da marca Centro de Portugal.

E serão levados a sério nesse desafio?

Acho que hoje, e permita-me a imodéstia, a Turismo Centro de Portugal já não tem que provar nada a ninguém. Hoje somos respeitados, estamos consolidados como estrutura e o mercado reconhece-nos como um parceiro estratégico para o desenvolvimento do setor do turismo em particular, e da região no geral. Isso faz-se com muito trabalho, mas também com cumplicidade e cooperação.

Não era uma tarefa mais fácil se a região tivesse uma estrutura de promoção?

Os tempos apontam nesse sentido. De acordo com a auscultação com a senhora secretária de Estado do Turismo, com os meus colegas e algumas associações importantes do setor, nomeadamente, a Confederação do Turismo em Portugal, todos os indicadores apontam para que 2012 seja um ano de uma profunda reestruturação do mapa regional do turismo. O que significa termos uma configuração do território do Centro de Portugal coincidente com a NUT II que hoje conhecemos. Significa isto agregarmos a Serra da Estrela, Leiria-Fátima e podermos ter em primeira instância, maior capacidade do ponto de vista de organização e planeamento quer para a promoção interna, quer para a promoção externa.

Na prática, o que muda?

Passamos a ter uma melhor utilização de recursos, que agora estão divididos, e acabamos com a descontinuidade que existe entre alguns produtos e algumas marcas turísticas do Centro de Portugal. E finalmente, poderemos ser mais fortes no posicionamento da nossa imagem externa. É importante para a região, mas é, particularmente importante para o setor empresarial do turismo perceber que o aumento da competitividade e da atratividade faz-se com agregação. Portugal é um país demasiado pequeno para se afirmar em mercados sobretudo, de média e de longa distância. O próprio nome é pouco conhecido. O último relatório da Comissão Europeia publicado em junho de 2011, dizia que Portugal, no conjunto dos 27 países e com cerca de 30 mil entrevistas, estava apenas nas preferências de 1,2 por cento dos europeus que faziam férias.

Onde é que Portugal tem falhado?

Recordando as palavras de Hernâni Lopes, na tal falta de consciência de que falta cooperação. Portugal gasta 45 milhões de euros por ano em promoção externa. E, realmente, é difícil de se perceber que ao fim de, pelos menos estes últimos 10 anos, só tenhamos os tais 1,2 por cento de preferência dos europeus quando viajam para dentro e para fora da Europa.

Conhecendo-se a história, espera dificuldades nesse processo?

Acho que o mais difícil foi ultrapassado quando, em 2008, assumimos a fusão de seis ex-organismos juntando a Rota da Luz (Aveiro), a Dão-Lafões (Viseu), a Região de Turismo do Centro (Centro) e as juntas de Monfortinho, da Curia e do Buçaco. Hoje, estamos a falar apenas em duas realidades complementares que é a Serra da Estrela e de Leiria-Fátima. Quanto a esta última, são conhecidas as dificuldades que enfrenta, sobretudo porque a estrutura que foi criada para aquela função não tem nem os meios, nem os recursos que lhe permitam afirmar-se interna e externamente de forma desligada.

E como pode ser feita essa fusão?

Defendemos à senhora secretária de Estado do Turismo uma alteração profunda que passaria por quatro níveis: ao nível do território, fazendo coincidir o território NUT II Centro de Portugal numa única estratégia. Ou seja, do ponto de vista da promoção – interna e externa -, que esta fosse agregada num único edifício fazendo coincidir estratégia, produto, marca, recursos financeiros. Num terceiro aspeto, aumentar positivamente e significativamente as competências de que as entidades de turismo, criadas em 2008, ainda continuam desprovidas. Ou seja, há um conjunto de competências, nomeadamente, na área da fiscalização, do acompanhamento, do apoio ao investidor, daquilo que é no fundo a desformatação duma legislação às vezes complexa para os nossos empresários que devia ser reconhecida às entidades de turismo regionais. Não estamos aqui a falar apenas em reforço do envelope financeiro, mas no reforço das competências e na autoridade que uma entidade regional deve ter para poder ser, por um lado, mais autónoma, mas simultaneamente também fortalecida do ponto de vista do seu trabalho. Finalmente, ao nível do relacionamento institucional,. Há um conjunto de dinâmicas entre as entidades regionais, o Turismo de Portugal, o Governo, as associações, a CCDR , a ANMP, que deve ser granjeado para essa reforma que se deve fazer.

A agência de promoção para o exterior tem sede em Viseu e a Turismo Centro de Portugal em Aveiro. Como será o futuro se a fusão acontecer ao nível da promoção?

O problema das paredes já foi resolvido há muito tempo pois estamos no domínio das novas tecnologias. E não há nenhum turista que chegue hoje a Portugal e pergunte em Aveiro, Coimbra, Viseu ou Castelo Branco, onde é a sede da Turismo Centro de Portugal. Eles procuram um mapa, um guia, uma brochura, uma informação sobre determinado restaurante onde possam comer bem. O Centro de Portugal tem hoje uma matriz, que defendemos nessa reorganização, que assenta essencialmente em oito plataformas cruciais e estratégicas: as nossas capitais de distrito, Coimbra, Aveiro, Leiria, Viseu, Guarda, Castelo Branco e nas cidades da Figueira da Foz e Covilhã. E esperamos que Leiria também fique dentro da NUT II, a todos os níveis. A partir do momento em que tivermos um edifício único, teremos serviços desconcentrados do ponto de vista, por exemplo, da promoção externa, que coincidiriam com as valências que a Centro de Portugal já criou ao nível das capitais de distrito.

Esse edifício poderá ser em Coimbra?

Coimbra faz parte integrante da Turismo Centro de Portugal. E se há pouco lhe disse que esta entidade regional não tem que provar coisa alguma, também acho que Coimbra está a perder competitividade por não integrar esta aposta na cooperação. E se levássemos a sério as palavras de Hernâni Lopes de que o trunfo para aumentarmos a competitividade e a atratividade de um destino é a cooperação estratégia, então considero que Coimbra está a perder porque ainda não conseguiu entrar numa estratégia de cooperação, nomeadamente, no turismo.

E perde em quê?

Coimbra perde do meu ponto de vista, a quatro níveis. Ao nível daquilo que foi, no caso da Turismo Centro de Portugal, o investimento nas estruturas físicas, nomeadamente, em Castelo Branco, Viseu e também em Coimbra ao nível da modernização administrativa. Mas não só. Há outras perdas mais importantes ainda. No âmbito da promoção externa, qualquer euro que seja investido, de acordo com a contratualização com o Governo, é multiplicado por quatro. Ou seja, se a marca Centro de Portugal se deslocar para uma feira em Espanha, Berlim, Londres ou Brasil, o Estado português multiplica por quatro o investimento que fazemos.

Vamos a números…

Se fizermos uma parceria com os empresários de Coimbra em que estes investem 50 mil euros e a Turismo Centro de Portugal 50 mil euros, o Estado multiplica por quatro e põe 400 mil euros em cima. O que significa que a concertação faz com que sejam investidos 500 mil euros na promoção externa da região Centro. Se Coimbra for sozinha não só não beneficia um cêntimo deste investimento, como deixa de poder multiplicar por quatro a verba que está a gastar. O que significa que, com toda a legitimidade, Coimbra pode fazer todas as intervenções que quiser no mercado externo, mas é preciso que assuma, que está a prescindir de quatro vezes o Orçamento do Estado para fazer a mesma ação em mercados que custam dinheiro. A presença numa feira custa 12.500 euros.

Essa postura significa que Coimbra vale por si… só?

Do meu ponto de vista isso pode querer dizer alguma gestão menos rigorosa dos dinheiros públicos que estão disponíveis para investirmos. E, pior ainda. O facto de Coimbra não estar a fazer essa promoção, faz com que perca competitividade a nível individual, regional e, até, no reforço de uma marca nacional porque não leva consigo a chancela Portugal. Nós já assistimos, em Madrid, numa plataforma de mil metros quadrados e numa feira com mais de 350 mil consumidores entre profissionais e público em geral, vermos todas as marcas e as empresas portuguesas reunidas e a 50 metros de nós, num canto, um stand de nove metros quadrados com Coimbra e a Figueira da Foz isoladas. Espero que Coimbra não queira fazer-se passar pela figura que fez nomeadamente em 2008 e em 2009 no mercado espanhol. Teve não apenas o repúdio de todos os empresários que lá estiveram, dos membros do Governo, dos diretores de hotéis e das grandes empresas da região Centro porque era realmente uma imagem penosa.

4 Comments

Responder a João Campos Cancel

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.