O cabaz de Natal

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Francisco Queirós

É Natal. Assim, o regista o calendário. Talvez já nem tanto o movimento das lojas. Mas é. Para uns, uma festa religiosa; para outros, um momento especial para práticas caritativas; enquanto noutros prevalece o espírito solidário e para muitos mais será também uma festa de família. É Natal. E não há Natal sem o seu cabaz.

Os hipermercados criam os seus cabazes especialmente pensados para o magro poder aquisitivo dos portugueses neste ano. O cabaz de cada um adequa-se a um natal dos simples, e os simples são muito mais que dantes. Há cabazes para todos os gostos e sobretudo muitos cabazes de desgostos. Há cabazes fartos e cabazes fartos de serem mínimos.

Há o cabaz da troika, designado “Programa de Assistência Económica e Financeira”. E que assistência presta um cabaz destes! Contracção do PIB em 2%, inflação de 3,1%, a água, o gás, a electricidade, os transportes a subirem, salários e pensões congeladas até 2013, redução do número de funcionários da administração central e local, aumento de impostos, aniquilação de órgãos de poder local com extinção de freguesias e o sufoco económico das câmaras até à sua morte final, alteração de leis laborais e extinção de elementares direitos e vínculos de trabalho, alargamento dos horários de trabalho e consequente diminuição de salários e ainda muitos mais produtos que compõem um cabaz sem fundo, onde se pode ainda encontrar, como uma das mais belas prendas, a perda da soberania nacional. Afinal, quem manda em Portugal? O cabaz não esconde. Quem dá o cabaz e a assistência financeira inerente pode e manda!

Há outros cabazes. Há o cabaz da caridade, de gente generosa que sofre com o sofrimento dos outros e que bem intencionada, sem dúvida, distribui óleo e azeite, leite e arroz, bacalhau, enlatados e açúcar que ajudarão a fazer feliz uma ceia em 365.

Há também o cabaz do patrão – se ainda os houver – uns mais ao estilo do patrão paternalista e familiar, outros nem tanto, mais ao estilo, “coice todo o ano, garrafita de Porto no Natal”. Há de tudo e para muito gostos e desgostos. Cabazes cheios e muitos cabazes cheios de coisa nenhuma.

Há porém um cabaz diferente. Aquele que não precisa do velhote da Coca-Cola de barbas postiças e com renas voadoras que viajam das terras do norte com paragem (desconfio!) para manutenção na terra-mãe de Frau Merkel. Este cabaz traz escrito no idioma de Camões, Pessoa, Aquilino e Saramago o nome de Portugal. Lá dentro está a Constituição (lei das leis nos estados soberanos) da República. No cabaz há o direito a uma alimentação equilibrada e saudável, à habitação, ao trabalho justamente pago e com direitos, à saúde independentemente da condição económica de cada um, à educação, à cultura e à fruição do lazer e do desporto, à paz e à vida num mundo ecologicamente sustentável. Este pode ser o cabaz do Natal de todos os dias. Afinal, o Natal é sempre que um homem ou mulher quiser!

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