711-2011: 1300 anos após a entrada dos árabes

Spread the love

Manuel Augusto Rodrigues

Em 711, há 1300 anos, a Península Ibérica era invadida pelos Árabes. A Égira (622) marcou o início de uma nova fase da história que prosseguiu com a morte de Maomé (632). A expansão muçulmana atingiu em pouco tempo extraordinárias proporções, logo com o califado dos Omíadas (662-750) e com o dos Abássidas (750-836-1258) com a capital em Damasco em Bagdad, respectivamente. Com uma religião nova, baseada na fé em Allah e com o Corão como livro sagrado, escrito na língua árabe e movidos por um espírito guerreiro e conquistador os Árabes foram implantando as suas crenças e tradições, a pretensão de universalismo, o seu direito e uma moral próprios. Os muçulmanos tinham na “Umma” (comunidade) a sua base, apesar das divisões, sendo a maior entre sunitas e shiitas, estes com origem em Ali, marido de Fátima, filha de Maomé, os quais aguardam a vinda do último imã. Lembre-se igualmente a existência de vários grupos e seitas e de escolas jurídicas.

Foi principalmente ao longo do séc. XIX que surgiram estudiosos de elevada craveira que se debruçaram sobre os vários aspectos da civilização e da cultura árabes. Também o diálogo inter-religioso favoreceu um clima diferente de relacionamento com o mundo muçulmano.

O al-Andalus foi conquistado em 711 pela acção de Musa e de Tarik, pondo-se dessa feita um termo à dominação visigótica. A parte mais ocidental era o al-Gharb (Algarve) e o centro por excelência seria o emirato de Córdova com Abdarram I. A cidade com a sua magnífica mesquita, jardins, etc. era considerada como a mais brilhante capital daquele tempo e segundo Menéndez Pidal a cidade mais civilizada da Europa. Em Poitiers (732) conclui-se o sonho árabe de conquistar a restante Europa. A Reconquista iniciou-se em Covadonga chegando a Coimbra (Qulumriya) em 1064 graças ao papel relevante de Sesnando concluindo-se com a posse de Silves em 1253. Em 1492 os cristãos obtiveram a conquista de Granada e foi determinada a expulsão definitiva dos árabes de Espanha.

Alguns geógrafos árabes como al-Razi e al-Idrisi fornecem-nos dados importantes sobre a história árabe peninsular. As três religiões do livro conviveram momentos pacíficos ao lado de outros de hostilidade. As sinagogas, igrejas e mesquitas acolhiam os crentes das três crenças.

Mas há outra faceta da presença árabe. Referimo-nos ao seu legado científico e cultural. Nunca é demais encarecer o mérito dos grandes sábios em vários domínios que aqui exemplificamos: filologia e literatura (Ibn Quzman), história (al-Biruni e Ibn Kaldun), geografia (al-Bakri e al-Idrisi, Ibn-Batuta), medicina (Ibn Sina e Ibn Ruschud), matemática (al-Kwarismi), astronomia e óptica (az-Zarqal), filosofia (al-Kindiar-Razi, al-Farabi, Ibn Sina, Ibn Ruschd), mística (al-Ghazali, Ibn al-Arabi), arte e técnicas agrícolas. De salientar a transmissão de versões orais de histórias e da poesia árabes entre os povos ocidentais, as viagens para o al-Andalus em busca da cultura árabo-islâmica, as relações comerciais e os contactos políticos e diplomáticos, o papel dos moçárabes, os “scriptoria” nos mosteiros da Península, especialmente em Santa Maria de Ripolli, que adquiriu muitos manuscritos de obras científicas e as escolas de tradutores de Toledo graças aos arcebispos Ximénez de Rada e Afonso X o Sábio.

Com o domínio do império otomano veio uma fase de grande decadência. É no séc. XIX que se assiste a uma renascença com a penetração de ideias modernas e com as independências do séc. XX, sendo de sublinhar o papel que teve a descoberta do petróleo.

O movimento da renascença árabe, a Nahda, inicia-se no séc. XIX e reforçando-se após a 1.ª Guerra Mundial. A Nahda está ligada à invasão do Egipto por Napoleão em 1798 e com acção de alguns líderes como Muhammad Ali. Hoje com mais de um bilião de adeptos o Islão de há algum tempo a esta parte voltou a uma Europa em forte declínio da natalidade, com a sua religiosidade e os seus valores olvidados e numa situação político-económica débil, ao passo que a modernização de alguns países árabes se processa de acordo com as suas tradições e não europeizando-se.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.