20% do orçamento municipal de Coimbra em 2012 vai para o Convento de S. Francisco

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Foto Luís Carregã

Faz hoje um ano que se tornou presidente da câmara. Que mudou sob a sua liderança?

A mudança da pessoa faz com que haja sempre alterações. Mas, numa linha de continuidade ao trabalho iniciado pelo Dr. Carlos Encarnação, estou a executar o programa para o qual fui eleito com ele em 2009.

Isso quer dizer que não houve mudanças?

Haverá mudanças de estilo mas não no essencial.

Mas o que é que gostaria de já ter mudado e ainda não conseguiu? Mudar para que, mais tarde, venha a ser reconhecido de ter tomado uma decisão com certo tipo de influência…

Não estou preocupado em que as pessoas me conheçam por ter tomado esta ou outra qualquer decisão. O que me preocupa é que Coimbra afirme cada vez mais o seu lugar no contexto nacional. Temos andado arredados desse lugar, talvez também por culpa própria.

Ainda vamos a tempo de o ocupar?

Temos de ir a tempo de o ocupar. Portugal precisa de uma região Centro forte que, simultaneamente, precisa de uma Coimbra forte. Coimbra tem muita história e é uma cidade de cultura e ensino reconhecida no mundo inteiro. Neste momento, além disso, Coimbra é também exemplo em termos de empreendedorismo. No exterior, quando se fala de Coimbra liga-se imediatamente ao Instituto Pedro Nunes, entre outros. É uma conquista, mas precisamos de fortalecer esta faceta mais recente de Coimbra. O país precisa deste estímulo que é uma Coimbra forte e competitiva.

Porque é que essa força não foi já usada na hora da constituição das comunidades intermunicipais, onde a centralidade foi transferida para outros concelhos?

O conjunto dos concelhos que estão agrupados é muito mais pequeno do que o conjunto dos concelhos que têm uma relação forte com a cidade. A nossa comunidade, que tem concelhos como Figueira da Foz, Montemor-o-Velho, Soure, Condeixa-a-Nova, não conta com concelhos que pela sua interioridade, apesar da forte relação que têm com a cidade, ficaram de fora dessa divisão, como é o caso da Lousã ou de Miranda a que estamos tão ligados no processo do Metro Mondego, por exemplo. É uma herança do anterior governo que temos de resolver .

De que forma?

Numa primeira fase, aprofundando os laços entre as duas comunidades: Baixo Mondego e Pinhal Interior. As duas podem funcionar de forma mais articulada e abrir o caminho para, no futuro, se poder equacionar uma fusão. Na minha opinião, isso levaria a que este conjunto grande de municípios das duas comunidades ganhasse escala e pudesse ambicionar a ter outra força.

Falou no Metro Mondego. Há novidades no processo?

Nessa questão, só há três hipóteses teóricas. Podemos deixar tudo como está e assumir que desperdiçámos 140 milhões de Euros… Quem passa pelas obras que ainda estão em curso e repara na obra que já está feita, tem dificuldade em perceber que essa hipótese ainda se encontre em cima da mesa.

Mas ainda está em cima da mesa?

É uma das três hipóteses teóricas, mas impossível de aceitar para qualquer um dos concelhos mais directamente envolvidos. Nenhum cidadão veria com agrado deitar pela porta fora 140 milhões para ter menos do que tínhamos antes. Tenho evidentemente lutado para que o Governo não decida neste sentido. A segunda hipótese é voltar a recolocar o comboio à moda antiga na linha. Esta hipótese também não tem sentido neste momento, pois faria com que ainda fosse preciso gastar mais umas dezenas de milhões, além dos 140 já gastos, para apenas termos o que tínhamos antes e que já não serve, como todos sabem: numa cidade moderna e próspera como Coimbra pretende assumir-se, não é possível voltar a ver comboios pesados a cruzarem a nível as avenidas centrais da cidade, além de que a mera reposição da situação anterior estaria sempre em risco de vir a ser fechada pelos elevados prejuízos da operação. Em terceiro lugar, há a hipótese da ferrovia ligeira de superfície.

Aquela que defende e vai continuar a defender?

Acredito que o projeto ainda não deixou de estar em cima da mesa do Governo. Admito, como já admiti, que o projeto possa sofrer alguns atrasos na sua realização. Uma coisa é certa: quando um país tem pouco dinheiro e há projetos complexos para realizar, a melhor coisa a fazer para não haver desperdícios ir direccionando os investimentos que for possível fazer de maneira a que estejam integrados no projecto pré-definido. Portanto, temos de fazer avançar o Metro até ao limite do que for possível.

A revisão dos fundos comunitários será conseguida?

Essa é a chave da questão. Estamos a poucas semanas de saber o que vai acontecer em termos de fundos comunitários, mas a garantia que eu tenho da parte do Governo é que tudo está a ser feito para que este projeto seja passível de ser financiado por fundos comunitários.

Mesmo depois das declarações feitas pelo ministro e secretário de Estado sobre o projeto do Metro Mondego?

As declarações do secretário de estado foram no sentido do que eu lhe disse anteriormente.

Mas o ministro já não foi assim?

O ministro falou de uma maneira mais geral sobre o assunto, sem conhecer o projeto em detalhe. O secretário de estado é que conhece o detalhe. Ele tem estado a trabalhar para encontrar a melhor solução de financiamento para o sistema de mobilidade.

No que diz respeito ao IC3, acredita que ele não parará na zona de Almalaguês?

Não só acredito, como penso que é a única solução economicamente racional. Sem discutir o mérito de avançar com a obra nos moldes que foram definidos – podíamos ter avançado para uma obra bem mais barata não a fazendo toda em perfil de autoestrada -, há contratos que ligam o Estado a grupos de investidores e há, neste momento, taxas de juros baixíssimas para fazer este investimento. Portanto, das duas uma: ou o projeto chega a uma zona de Coimbra que gere tráfego ou o projeto, que nos vai sempre custar a todos muito dinheiro, não vai servir para coisa nenhuma. Então, se temos sempre de pagar, o melhor mesmo é fazer a estrada até à zona norte de Coimbra. Pagar o mesmo para não fazer a estrada não é admissível.

Sendo estas duas obras fundamentais para o desenvolvimento de Coimbra, não teme que elas passem a ser meros sonhos?

Nós estamos a trabalhar para que isso não aconteça. Se tal acontecer, o mínimo que eu posso dizer é que andámos para trás em termos de cidade. Disso não tenho a menor dúvida. Não nos podemos esquecer que os tempos são de escassez financeira e, como tal, temos de puxar pelos investimentos que são fundamentais para a cidade. E esses dois projetos são-no, com toda a certeza.

Outro dos projetos fundamentais é o Convento de S. Francisco. O modelo de gestão já está definido?

Neste momento, estamos a trabalhar nesse modelo, comparando-o com o de equipamentos semelhantes a nível nacional e internacional. O nosso objetivo é criar uma estrutura leve, económica e com muita qualidade.

A saída de Celeste Amaro para a direção regional da cultura atrasou o processo?

Claro que sim. Veio atrasar algumas coisas que estavam a ser preparadas mas tenho a certeza de que o Convento ganhou um forte aliado na Direcção Regional de Cultura.

Quem ficou com o dossiê?

Fiquei eu, com o apoio de um pequena equipa que, neste momento, está a recolher a informação para, nas próximas semanas, anunciar a nossa ideia sobre a forma de gestão do Convento de S. Francisco.

Depois de tantos anos de espera, os conimbricenses vão começar a ver em 2012 obras no âmbito da Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU)?

Está tudo preparado para que assim seja. Há agora uma fase importante que é a entrada no fundo imobiliário dos imóveis pertencentes à Sociedade Metro Mondego.

Isso quer dizer que a decisão está para breve?

Esperemos bem que sim. Aliás, os prédios vão obrigatoriamente entrar no fundo de investimento. Neste momento, há duas hipóteses: ou eles passam através de uma decisão da assembleia-geral da sociedade ou será necessário proceder à sua expropriação. Esta situação não nos passa pela cabeça, mas não podemos deixar que o impasse se prolongue e ponha em causa um projeto estruturante para a Baixa.

Consegue dar uma explicação para que só agora tenha sido possível arrancar com as obras da SRU?

Coimbra decidiu seguir duas estratégias de reabilitação urbana. Na Alta, a estratégia assentou no Gabinete para o Centro Histórico e na recuperação casa a casa. Com um trabalho cuidadoso e demorado, tem havido enormes progressos na reabilitação do espaço público e dos edifícios privados.

E na Baixa?

Estivemos ancorados no projeto do Metro Mondego e noutros projetos estruturantes. Como se registaram atrasos sucessivos, a recuperação da Baixa arrancou mais tarde. Mas julgo que as coisas estão a mudar e a ganhar velocidade. Já temos a ideia do que queremos fazer em toda a Baixa, inclusive na beira-rio.

Estamos a falar do projeto do Busquets?

É um projecto que está a ser realizado pela Parque Expo e que teve em atenção o projeto do Busquets  bem como outros contributos da cidade. É importante termos um bom leque de soluções e hipóteses de trabalho para mudar a face da Baixa e a sua relação com a beira do rio. Neste momento, temos uma barreira de edifícios e uma linha ferroviária que impede a ligação ao rio. Temos de pensar numa cidade onde se quebrem estas barreiras e onde o rio passe a ser acolhido pela Baixa. O fundo de investimento é um primeiro passo nessa direção. Mas vai haver mais projetos.

E que são?

Por exemplo, a recuperação do Terreiro da Erva. No próximo ano, vamos trabalhar afincadamente em recuperar uma praça nobre da cidade e dar-lhe outra dignidade. Aos poucos, e usando os meios financeiros à disposição, vamos fazer alastrar os bons exemplos de recuperação urbana.

Não ficou preocupado com o teor do relatório do Tribunal de Contas?

Temos de esclarecer isto: o que foi publicado não foi um relatório sobre a SRU de Coimbra, mas sobre sociedades de capitais públicos. Sobre o prejuízo, todos sabemos que este tipo de sociedades nunca deu lucro.  Aliás, elas foram criadas para dar prejuízo, a bem da comunidade medido pelo espaço público e privado recuperado.

E não o preocupa os valores mensais auferidos pelo presidente da sociedade?

A SRU é maioritariamente do Estado e pratica um estatuto remuneratório que é comum às restantes sociedades do Estado.

Numa altura como esta o valor não deveria ser revisto? Afinal, estamos a falar de uma verba muito próxima ou até superior à do presidente da câmara…

O estatuto remuneratório das empresas públicas está em revisão. Não nos podemos esquecer que o estatuto actual foi decidido há alguns anos atrás entre o Estado e a Câmara.

Admite rever o valor?

Antes de tudo, devíamos comparar o valor auferido pelo presidente da SRU de Coimbra com os de sociedades como Lisboa ou Porto. Julgo que as contas devem apontar para que os valores auferidos estejam na média das outras sociedades. A haver uma revisão, também não nos podemos esquecer que a maioria do capital está nas mãos do IHRU. Mas respondendo à sua pergunta, digo o seguinte: admito rever o valor. Aqui, como em muitas outras coisas, não há assuntos tabu. Se o assunto for posto em cima da mesa, cá estaremos para o discutir com toda a abertura.

Do exterior fica a ideia que, sob a sua liderança, o iParque perdeu algum fulgor e importância estratégica. Concorda?

Julgo que não perdeu nem fulgor e até ganhou importância estratégica. No tempo do Dr. Carlos Encarnação, o muito trabalho efetuado passou por passar do sonho à concretização efectiva de uma infraestrutura para acolher empresas e iniciativas empresariais. O custo foi de alguns milhões mas, felizmente, julgo que está dado um passo de gigante para que a economia da cidade deixe de estar tão dependente do setor público e possa aproveitar o fantástico potencial da cidade na área tecnológica e na saúde.

Essa importância ainda se mantém?

No meio de uma crise financeira como a que estamos agora a viver, ainda mais importância asssume o iParque. O trabalho que agora estamos a fazer é de outro tipo: entrámos na fase de atrair projetos empresariais para aquele local.

Isso quer dizer que a 1.ª fase está fechada?

Neste momento, o iParque tem os lotes todos ou em construção ou reservados. Estamos a envidar todos os esforços para que as empresas que reservaram os seus lotes, arranquem o mais rapidamente com as obras de construção.

Já decidiram se vão avançar com a 2.ª fase do projeto?

Vamos continuar a fazer um esforço muito grande no próximo ano para adquirir mais terrenos que permitirão avançar para a 2.ª fase do projeto. Uma fase que, até pelas contingências financeiras, deverá sofrer uma mudança: a parte residencial é menos urgente e a prioridade passará a ser a ampliação dos espaços empresariais. O objetivo é continuar a atrair empresas para a cidade e proporcionar espaços para que aquelas que já cá existem não se vão embora.

Em relação ao Turismo de Coimbra, vai fechar em 2012, vai continuar a existir ou o município vai aderir à Turismo do Centro?

A empresa municipal pode continuar a existir, mesmo que a câmara opte por aderir à entidade regional. Os dois assuntos não são exclusivos. Se vai continuar a existir, não é possível dar uma resposta a essa pergunta. Aliás, se forem cumpridas as normas anunciadas pelo Governo, a Turismo de Coimbra teria neste momento o seu futuro traçado: fechava portas no final de 2012. Mas antes da decisão final, quisemos dar à nova administração tempo para provar que o caminho anterior poderia ser invertido. Ou seja, passar a depender menos do orçamento municipal, deixar de ter prejuízos ou passar a ter contas mais sustentáveis.

O prazo dado é o final de 2012?

Esse é o desafio do próximo ano. Ou as coisas vão no caminho correto e Coimbra percebe que ter uma empresa municipal como esta tem vantagens para a cidade, ou então…

A entrega da gestão do convento de S. Francisco à Turismo de Coimbra não poderia ser uma boa solução para todos?

Essa hipótese foi colocada no início e ainda não está posta de lado. Mas num momento como este seria perigoso ancorar um projeto como este numa empresa que, de acordo com a legislação anunciada, poderá ter de fechar. À cautela, não quisemos juntar os dois projetos. Se irão juntar-se, só o futuro o dirá.

Em relação à Turismo do Centro, 2012 poderá significar a adesão à entidade regional?

A possibilidade está sempre em cima da mesa. Mas continuamos a entender que o modelo traçado pelo anterior governo tem fortes lacunas. Por exemplo, ninguém compreende que o Centro não inclua zonas como Leiria/Fátima ou Serra da Estrela, para além de Coimbra. A divisão do território, como acabou por ser feita à última hora, não serve nem Coimbra nem a Região Centro. A forma de definir a localização da sede é outra das questões que, com a entrada do novo governo, pode sofrer alterações. Portanto, vamos aguardar por novidades nesta matéria e, em função disso, avaliaremos se temos ou não condições para entrar.

A credibilidade dos SMTUC não ficou afetada com os recentes processos judiciais?

Os SMTUC são uma estrutura da Câmara com grande prestígio. Todos temos de ter muito orgulho em ter um sistema de transportes como o nosso a funcionar bem e a servir a população de Coimbra há mais de um século. Com os recursos magros que os SMTUC dispõem, seria difícil dispor de um sistema de transporte tão inclusivo como o nosso e que é fundamental para a mobilidade da nossa cidade e para a sua competitividade.

Apesar de todas essas qualidades, o ano de 2011 fica marcado por desvios de dinheiro?

O que aconteceu foram duas questões pontuais que, infelizmente, podem acontecer em todas as organizações, por mais bem geridas que sejam. O que é fundamental – e eu estou completamente descansado em relação aos SMTUC – é que uma vez detetada qualquer inconformidade, há que ser célere na reação e implacável na aplicação da lei.

Neste caso, isso aconteceu? Ainda não são conhecidos os resultados da investigação e já lá vai quase meio ano…

Trata-se de questões delicadas que envolvem polícia, investigação e tribunais. A partir de uma certa fase do processo, temos de deixar que sejam os tribunais e as forças policiais a fazer o trabalho que lhes compete. Não podemos ultrapassar e perturbar esse trabalho. Neste momento, as contas estão feitas, o processo foi entregue à polícia e ao Ministério Público para que o processo decorra o mais rapidamente possível e, desta forma, punir os responsáveis. Não podemos nunca admitir que em instituições que trabalham com dinheiro público investigações como estas não sejam levadas até às últimas consequências.

Mantém confiança na administração e administrador-delegado?

Avaliando o que o conselho de administração e o administrador-delegado fizeram neste processo, julgo que não era possível fazer mais. A confiança mantém-se portanto intocável. Aliás, antes de todo este caso ter sido conhecido, os SMTUC já atravessavam um período de mudança de processos que visava, entre outros, dificultar casos como os que foram detectados.

Que futuro defende para a empresa Águas de Coimbra?

Em primeiro lugar, estou convencido que a empresa é uma boa empresa, bem gerida, bem preparada e que deu passos tecnológicos enormes nos últimos anos. Como tal, tem capacidade para fazer mais do que aquilo que faz, neste momento.

Isso passará pela privatização?

Isso nunca esteve em causa. Pelo menos, no meu horizonte temporal, essa possibilidade nunca esteve em cima da mesa.

O que pretende, então, para esta empresa?

Acho que é uma empresa que pode ir prestando serviços a outras empresas e serviços de águas de outros municípios. Existe capacidade instalada para fornecer certo tipo de serviços a municípios vizinhos que o desejem. Ou seja, a Águas de Coimbra tem que cada vez mais ligar-se aos sistemas congéneres e limítrofes. Depois disso, a empresa deve ir fazendo algumas parcerias. Já evoluímos muito mas não somos os melhores do Mundo. Para tal, é necessário fazer um trabalho de aproximação a outras empresas mundiais para que se mantenha a excelência do serviço prestado, sempre com os menores custos que seja possível.

Os aumentos dos tarifários para 2012 nos SMTUC e Águas de Coimbra, segundo a oposição, andam nos cinco e seis por cento, respetivamente. Não acha uma percentagem demasiado alta?

No caso dos SMTUC, até houve situações em que o preço se manteve ou baixou. Não nos podemos esquecer que nos últimos três anos os tarifários nos SMTUC não tinham sofrido qualquer tipo de aumento.

Está arrependido?

Julgo que foi um risco assumido. Só que houve fatores que nos obrigaram a este ajustamento de preços em 2012. O preço do gasóleo foi um deles. Mas o aumento médio aprovado recentemente é inferior ao que resultaria da soma das taxas de inflação nestes anos todos. Manter os preços de 2008 era uma irresponsabilidade. Mesmo que tal decisão fosse popular… Uma coisa é clara: se o fizéssemos colocaríamos em causa a estabilidade financeira dos serviços ou obrigaríamos à necessidade de maiores subsídios do município. Com o orçamento municipal em 2012 a levar cortes e a legislação a obrigar a um maior equilíbrio nas contas, optámos por fazer uma correção para que pudéssemos manter os nossos serviços municipalizados de transportes a prestar serviço a todos os munícipes, em especial os mais carenciados.

E nas águas?

Aqui nunca houve um congelamento das tarifas. Elas têm vindo a ser ajustadas todos os anos, até porque a empresa compra água e saneamento à Águas do Mondego, com os valores a sofrerem, também eles, ajustamentos anuais. A isto acresce a obrigatoriedade que o Governo e o regulador impõem de estas empresas recuperarem os seus custos através das suas tarifas. Mas o nosso ajustamento é muito abaixo dos aumentos que se têm verificado em municípios que enveredaram por políticas diferentes da nossa e que chegam a ser da ordem dos 30 a 40 por cento.

Já que falou em orçamento, de quanto é o corte para 2012?

O grande corte do orçamento da câmara de Coimbra, por opção nossa, foi feito em 2011. Na altura, o corte foi de 10 milhões de euros. Em 2012 há uma novidade importante: a fatia que cabe ao Convento de São Francisco subiu de 12 para 25 milhões de euros.

Isso representa que percentagem do orçamento para o próximo ano?

Cerca de 20 por cento. Esta necessidade de prever 25 Milhões para o Convento obrigou a um exercício orçamental muito condicionado. No fundo, baixando o orçamento de 2012 em cerca de mais um milhão de Euros, a situação equivale a termos feito um corte de 13 milhões de euros, canalizando 12 desses 13 Milhões para o Convento.

Que obras ficam adiadas?

Há algumas áreas onde isso irá acontecer mas o esforço de contenção será transversal a toda a Câmara.

Em relação ao Estádio Cidade de Coimbra, o protocolo com a Académica é para renovar após 2014?

A questão já foi falada com a Académica. Nos próximos tempos, vamos trabalhar numa versão renovada e adaptada às circunstâncias de hoje desse protocolo. Esse acordo foi realizado num tempo em que a Académica tinha celebrado com uma empresa um acordo de gestão do estádio. Uma situação que agora não se verifica. Há um conjunto de situações que no contrato original não foram previstas e que, passados estes anos de prática, as duas partes sabem que a situação deve ser melhorada.

Fala da questão do judo e do atletismo…

Sim, das salas usadas pelo judo, da utilização da pista de atletismo, o uso de alguns espaços que inicialmente estavam previstos ser usados para um fim e que agora têm outra utilização. É preciso proceder a pequenos ajustamentos. Mas, no essencial, considero que o modelo encontrado é virtuoso. O único clube em Coimbra que tem apetência para usar um equipamento daquela dimensão é a Académica. Eu julgo que a solução de entregar a gestão do estádio ao clube que sempre o utilizou é uma boa solução. Se compararmos com outras soluções, esta é aquela que a nível nacional tem funcionado melhor. Portanto, o acordo é para manter mas temos de corrigir alguns detalhes.

É natural que um parecer jurídico sobre o acordo de gestão do estádio demore tanto tempo a ser dado?

O acordo assinado em 2004 foi bem feito e seguro do ponto de vista jurídico. Quanto ao novo protocolo, vamos caminhar para um acordo entre as duas partes que produza uma solução mais estável do que a atual.

Que opinião tem sobre a entrada norte da cidade (Casa do Sal)?

A entrada norte da cidade não favorece Coimbra. A opção dos viadutos na Casa do Sal não me agrada. Não sei quais foram as razões que levaram a essa decisão há mais de duas décadas, mas o que está ali é feio. Não é uma entrada digna de uma cidade como Coimbra. Toda aquela solução em termos urbanos matou aquela zona da cidade. A própria Fernão de Magalhães também não é uma boa imagem da nossa cidade. Coimbra tem de viver com estes adquiridos  históricos e procurar minorá-los. No que diz respeito à Casa do Sal, colocámos em funcionamento esta semana um sistema de iluminação que estava avariado há algum tempo. O objetivo é dar mais luz a um espaço que era quase sinistro à noite. É o contributo possível para ficar um pouco melhor.

E sobre o estaleiro dos Jardins do Mondego?

Esse é um processo que correu muito mal para a cidade. O principal prejudicado é a cidade, porque fez uma aposta ainda no tempo do presidente Manuel Machado em que os proprietários do atual espaço do Parque Verde cediam esses terrenos para o município em troca de capacidade construtiva no outro lado da linha da Lousã. A parte do terreno que reverteu para usufruto público é um grande êxito. O Parque Verde do Mondego é, ao fim-de-semana, um dos espaços com mais pessoas da cidade. E ainda bem que assim acontece.

Mas não considera que o outro lado é o contraponto deste êxito?

As coisas não correram bem, confesso. Neste momento, temos ali um estaleiro. Nos últimos dois anos, e em função das decisões emanadas pelos tribunais, julgo que fizemos o melhor possível. Julgo que estão os promotores em condições, finalmente, de começar a resolver o que lá está. E Coimbra espera que a resolução seja rápida.

A divergência de opiniões com o vereador João Orvalho já está sanada?

Não há nem nunca houve divergência de opiniões. Quando foi efetuada esta remodelação, devido à saída do anterior presidente, houve novas entradas e pessoas que passaram a ter mais responsabilidades. Como tal, foi necessário fazer um reajustamento de equipa e, confesso, nos primeiros tempos, houve pequenas coisas que não correram bem. Mas a equipa foi sendo afinada e está a funcionar muito melhor do que estava há um ano atrás. E daqui a um ano todos esperamos que esteja a funcionar ainda melhor do que está agora.

Mas não há pontos de conflito?

Isso haverá sempre numa equipa como esta.

As confusões do início do ano letivo, devido às refeições escolares, já estão ultrapassadas?

Há muitos anos que se sabia que a câmara deveria fazer um concurso público nesta matéria. A decisão foi tomada para este ano letivo e, devido ao pouco tempo que tivemos para preparar o concurso, foram registados alguns problemas, principalmente nalgumas instituições de solidariedade que tinham algumas expetativas que depois saíram goradas. Agora, estamos a fazer um trabalho junto dessas instituições particulares de solidariedade social para recompor o que correu menos bem neste processo.

Ao admitir que o processo correu menos bem, está a querer dizer que os erros cometidos neste concurso já não serão cometidos no próximo?

No próximo ano, estamos a preparar um concurso diferente. O novo modelo permitirá que outro tipo de instituições possa concorrer. A ideia é dividir o concurso por lotes, perder alguma coisa em termos de preço pagando um pouco mais pelas refeições e, desta forma, garantir melhor qualidade são algumas das hipóteses que temos em cima da mesa, mas não queria avançar muito mais porque ainda estamos a trabalhar nesse dossiê.

Fazer um concurso destes em tão pouco tempo foi um risco assumido?

Foi um risco assumido por nós todos. Curiosamente, a decisão até foi tomada por unanimidade, apesar de uma parte do executivo se ter arrependido de o ter feito. E se votaram favoravelmente é porque entenderam que o mecanismo do concurso era o mais claro para todos nós. Hoje, a câmara gasta menos neste serviço, apesar de aqui ou além se terem registado alguns problemas de qualidade que têm vindo a ser resolvidos da melhor forma possível em função dos preços e das condições acordadas.

Perante os problemas, não chegou a temer que tivesse de usar o famoso plano B?

Havia um plano B que estava preparado para ser acionado, caso fosse necessário. Como as coisas em termos de concurso acabaram por ser céleres, foi possível adjudicar o concurso antes do início do ano letivo. Com o início das aulas, e porque não houve tempo de testar o sistema, a câmara teve de encontrar forma, em conjunto com a empresa, de garantir que o serviço contratado fosse cumprido. A empresa contratada não é uma empresa de vão de escada, é uma empresa que por ano serve milhões de refeições em escolas de todo o país. Apesar dos problemas que vão existindo e que nós temos tentado solucionar, julgo que estamos no caminho certo para que, no próximo ano, encontremos um modelo que nos garanta ainda melhor qualidade e melhor segurança alimentar do que este ano.

Sente que tem o partido (PSD) ao seu lado?

Sinto que o partido me tem dado todo o apoio de que eu tenho precisado. Tanto a nível nacional como em termos locais. Uma câmara não é, de qualquer forma, uma correia de transmissão de partido nenhum. Nem do meu nem de nenhum outro. Há, portanto, tanto da parte do partido como da parte da câmara, a noção de que um município é uma instituição pública que está ao serviço de todos e assim tem que continuar a ser. Como temos esta sabedoria, julgo que nos temos apoiado simultaneamente mas sem que os partidos da coligação se intrometam excessivamente na câmara. É bom que assim seja e é bom que assim continue a ser. É importante que a gestão de uma câmara não se confunda com um partido. Nem em Coimbra nem em lado nenhum.

Apesar de ainda faltarem dois anos para as eleições autárquicas, está no seu horizonte apresentar-se como cabeça-de-lista da coligação em 2013?

Não estamos em tempo de tomar esse tipo de decisões. O tempo agora é de trabalhar e, acredite, temos muito trabalho pela frente.

Mas alguma vez chegou a pensar nisso?

Vou-lhe apenas dizer isto: aquilo que eu tenho sentido é que trabalhar desta maneira por Coimbra é uma coisa entusiasmante e que me tem apaixonado. A seu tempo, essas decisões serão tomadas.

Não está preocupado por se falar em candidatos para 2013 e nunca referirem o seu nome?

Nada disso. Neste momento, quero apenas continuar a trabalhar em prol de Coimbra. Quando for preciso, cá estarei para tomar as decisões que me parecerem as melhores para Coimbra. Até lá, o entusiasmo é muito e, acredite, há muito para fazer.

Em 2013, a coligação com o CDS-PP e PPM deve ser mantida?

Enquanto for possível manter este alinhamento e, desta forma, conseguir o melhor para a cidade, há sempre lugar para uma coligação, seja com estes partidos ou até mais alargada a outras forças políticas e sociais. O fundamental é conseguir-se uma boa unidade estratégica.

Era este PS que esperava encontrar na oposição?

O PS tem feito a oposição que se espera que um grande partido faça. Como é uma oposição a várias vozes e com pessoas diferentes, tem tido formas de intervenção diversas. Mas acho que, no essencial, o PS tem vindo a cumprir a sua função de nos ajudar a estar mais atentos. Ou seja, colaborar e chamar a atenção para as coisas que não estão bem. Não estaremos sempre de acordo, mas é saudável vivermos em democracia.

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