Francisco Queirós
A mobilidade das pessoas e bens é fundamental em qualquer sociedade. É essencial que os cidadãos se possam deslocar de e para os seus locais de trabalho, para os centros onde existem equipamentos de saúde, serviços públicos, equipamentos culturais e de lazer, etc. Coimbra tem sido desde há muito maltratada em matéria de transportes. Os Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC), ao contrário do que acontece em Lisboa e Porto, não recebem subvenções estatais.
O projecto Metro-Mondego, SA é uma série interminável de maus-tratos, de incompetência, de irresponsabilidades. O recente Relatório da Auditoria do Tribunal de Contas à Metro-Mondego é um libelo acusatório que vem confirmar o que há muito o PCP vinha afirmando. O PCP defende uma solução de modernização da Linha da Lousã, a sua electrificação, e que em Coimbra se desenvolva um projecto de mobilidade que seja compatível com o sistema de transportes dos SMTUC.
Dezassete anos volvidos desde que em 1994 o Decreto-Lei 70/94 determinasse a exploração do metropolitano ligeiro de superfície de Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã e quinze anos depois da constituição da Sociedade Metro-Mondego, em 1996, o que as populações destes concelhos têm é um transporte rodoviário alternativo com fim aprazado e canais a que foram esventrados os carris! Em Coimbra, os seus habitantes ainda “beneficiam” de uma baixa em ruínas à espera do que se prometeu e de um vasto conjunto de promessas não realizadas de requalificação da zona ribeirinha e de outras zonas da cidade. A cidade de Coimbra vê comprometida a sua reabilitação urbana, enquanto os concelhos de Miranda e Lousã já nem os comboios vêem passar.
O relatório do Tribunal de Contas é severo na condenação da incompetência dos decisores políticos que ou nada decidiram ou alteraram decisões para de seguida imporem outros caminhos. Esses decisores políticos têm nomes e pertencem aos partidos que há trinta e seis anos governam Portugal (PS, PSD, CDS). O Tribunal aponta o dedo a vários dos gestores dos sete conselhos de administração que a empresa já teve. E revela comportamentos ilícitos de alguns dos seus administradores, como o uso reiterado e indevido de cartões de crédito para pagamento de despesas pessoais! Num caso, na ordem de cerca de 4 mil euros mensais. Além das responsabilidades criminais por infracções financeiras ou outras é manifestamente imoral, condenável a todos os títulos que um gestor se comporte desta forma. E que responderam os visados ao tribunal em sede de contraditório? Que passados quatro anos já não têm documentos comprovativos de despesas que contudo “entendi, após análise dos seus valores e natureza, não considerar como custo da Empresa, mas antes assumi-los pessoalmente”! Pagando com o dinheiro de todos…Ou como refere outro gestor, com despesas pessoais pagas pela empresa de cerca de 4 mil euros mensais, “os levantamentos denominados “cash advance” destinavam-se a cobrir despesas para as quais não era possível utilizar o Cartão de Crédito, como por exemplo Táxis, gorjetas, etc.” E acrescenta: “Solicito o envio da documentação de suporte da mesma, pois como devem imaginar passado todo este tempo não possuo qualquer documento, no sentido de avaliar o afirmado e proceder ao seu imediato pagamento.”
Demagogicamente, há quem se sirva destes maus exemplos para atacar o sector público, quando o que está em causa são os que o dirigem e administram. Coimbra e a região, fartas de descarrilamentos, precisam urgentemente de uma política séria de transportes.
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