Ideias avançadas, ideias necessárias

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Aires Antunes Diniz

Quando tudo corre mal e a crise parece derribar todas as certezas, fazendo mudanças bruscas e pouco antes impensadas, o bom senso obriga-nos a procurar nova ciência e a dizer adeus às certezas do presente. Trata-se agora de procurar o futuro já que a Europa parece estar a dizer adeus ao passado próximo com a partida de Berlusconi e Zapatero. Mas, sabemos bem que não vale a pena mudar o disco e tocar o mesmo. Tal como aconteceu em 1820, quando Portugal procurava mudar de regímen, “houve por vezes luta renhida, como em Coimbra, onde, entre outros acontecimentos, se deve registar a oposição da junta eleitoral à participação dos estudantes na eleição, sob o pretexto das ideias avançadas que estes manifestavam.”1 Mas, sabemos que foram estas ideias que fizeram desenvolver o país.

No momento actual, de frustração e de miséria, vivemos a ameaça do empobrecimento continuado e, mais, somos confrontados tanto com roubos mesquinhos de quem passa fome, como de quem o faz integrado em grupos nacionais e multinacionais do crime. Para cúmulo, na Justiça, o Estado mostra-se incapaz de se organizar legislativamente, recorrendo ilegalmente ou, pelo menos, fora de qualquer concurso público. E é estranho por nunca ter deixado de cobrar os impostos necessários para contratar como funcionários públicos os juristas competentes que precisa.

Por outro lado, juízes e procuradores quase nunca julgam de forma esclarecedora da opinião pública os que caem nas malhas da polícia. Bem pelo contrário assistimos todos a manobras dilatórias e argumentações sofismadas para destruir escutas antes que os juízes as tomem em consideração para julgarem os arguidos. Ficam assim impunes os que degradaram a nossa vida social e económica.

Para complicar, os economistas que aconselham o Governo, tanto do PS, como do PSD/CDS não arranjam forma de cobrar impostos aos que ganham fortunas. É o caso das SGPS que fogem ao fisco mais rápido que as lebres. Mas, diga-se em abono da verdade que, deste Estado, até as tartarugas e as lesmas conseguem fugir. Para complicar, há até economistas que propõe o fim da Entidade Reguladora da Comunicação. Esquecem que o mercado precisa de regulação para que as empresas funcionem eficazmente. Vemos assim como os que comandam e/ou aconselham o poder estão à deriva, necessitando de ideias avançadas por as do presente já estarem inquinadas por “cambões” de interesses que conflituam com os “interesses nacionais”.

Tudo aconselha que mudemos de ideias por as dificuldades do presente o aconselharem. Está tudo nos livros da boa e prudente contabilidade e é justificada por uma ciência económica, que deve ser também ciência moral e política como nos aconselha Adam Smith e, entre nós, Bento Carqueja em 1932.

1 João de Barros – A Revolução de 1820: a sua obra e os seus homens, Edições Caixotim, 2001, p. 92

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