Aires Antunes Diniz
Acaba de receber um email de um amigo brasileiro que me informa acerca do X Congresso Ibero-americano de História da Educação Latino-Americana (X CIHELA), que se vai realizar em Salamanca de 4 a 7 de Julho de 2012. O tema central do congresso é a Universidade e o seu papel na formação das elites. E assim a Universidade de Coimbra não pode deixar de ser questionada pelo seu papel e, claro, pelas suas falhas que são quase sempre mal definidas.
De facto, os problemas actuais de Portugal e, também, de sempre, são a inoperância dos governos, demasiadas vezes por falta de inteligência, de saber e de honestidade dos actuais e pretéritos governantes.
Entretanto passaram por Coimbra muitos que criticaram os mestres de forma acerba como Joaquim Madureira, que estudou Direito em Coimbra e foi jornalista, que assim recordou que: “Coimbra, então – como ontem, no meu tempo, com Pedros, Pittas e Assizes, como hoje com Assizes, Ayres e Guilhermes, e como amanhã e sempre, enquanto a velha Torre não ruir em lixo e não cair em pó o último mamarracho da Sala dos Camelos – Coimbra era um forno crematório de intelectualidades e independências, mantido na temperatura alta da asneira, pela pesporrência conservadora e dogmática dos mestres, aquecidos, a seu turno, pelas cartas de empenho, pelas cunhas, pelas dispensas e pelos atestados dos discípulos.”1 E conhecia muitos casos. Sei. E um deles foi o de Quim Martins que devia ter sido professor de Medicina.
Contudo, e isso era importante, não questionou as razões que levaram a escolhas desastrosas de alguns professores, assim como levaram a afastamentos de docentes cujo lugar era na Universidade para bem desta. De facto, como Joaquim Madureira explicou bem em relação à desastrosa substituição do professor de Economia, José Joaquim Rodrigues de Freitas, na Academia Politécnica do Porto, também por todo o lado as Universidades Portuguesas escolheram mal demasiadas vezes. Para descobrir porque o fizeram é necessário analisar os livros de actas das escolas e encontraremos perseguições políticas encapotadas, invejas sofismadas, compadrios e clientelismos, e demasiadas vezes incapacidades científicas não compagináveis com o trabalho e inteligência dos rejeitados.
Felizmente, alguns sobreviveram. É o caso de Egas Moniz que foi para Lisboa, de Sobral Cid, que o seguiu pouco depois. Mas, muitos baquearam e isso não se resumiu a uma perda pessoal. Foi uma perda irrecuperável da Universidade. Agora que as Universidades competem com todas as outras, tudo o que as prejudica vai ser melhor escrutinado, tornando difícil impor a presença de Assises.
Infelizmente, a falta de cidadania na Universidade permite a pesporrência conservadora e dogmática de alguns mestres. Mas, isso há-de resolver-se. Acredito.
1 Joaquim Madureira – Caras amigas – Gente Limpa. Antiga Casa Bertrand, Lisboa, 1909, p. 112