Casa dos Pobres: símbolo de solidariedade

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Mário Nunes

Decorria o ano de 1935. A situação política e económica do país obrigava a enormes sacrifícios da população, que enfrentava, também, um sistema repressivo que controlava todas as áreas nacionais (da economia à educação). A pobreza imperava. Assistia-se a dramas familiares, pungentes, com cenários humanos deprimentes na mendicidade, no abandono e na marginalidade, que feriam as entidades e os cidadãos mais sensíveis a esta calamidade. Mas, como resolver, em Coimbra, este panorama e congregar a família conimbricense para eliminar ou atenuar tão aviltante quadro humano?

Tentativas diversas falharam. Porém, a esperança é sempre a luz que brilha na imensidão do desespero, do pessimismo, da descrença e do desânimo. É preciso acreditar e sonhar, mesmo utopicamente. E, foi essa força de confiança que abraçou algumas entidades de Coimbra, para debelar o mal, quando o ambiente desumano se acentuava e a cidade parecia um enxame. Não de abelhas laboriosas, mas um bando faminto, andrajoso e miserável, que percorria as ruas, praças e largos, estendendo a mão à caridade e abeirando-se das casas e habitantes para colher uma migalha de pão que enganasse o fantasma da fome, que trazia doença e passiva aceitação das horríveis vivências daqueles seres humanos.

A instituição policial através do comandante, Sérgio Vieira, do governador civil, Gustavo Teixeira Dias, do presidente da Comissão Administrativa do município, Manuel Serras, e de outros companheiros, acreditaram que fazer uma obra que minorasse a miséria reinante e esvaziasse o quadro repugnante que, diariamente, era pintado com cores negras, seria o princípio da solução. Agregaram à iniciativa outras entidades e instituições, sensibilizaram a população e num gesto heróico de humanidade “construíram” um lar, um refúgio e amparo para albergar e tratar os mais desgraçados. Relevo deve ser dado à comunicação social da época que constituiu a voz dos que não tinham voz.

Neste abraço de amor, nasceu a Casa dos Pobres de Coimbra, no Pátio da Inquisição. Ao longo destes 76 anos, muitos e muitos altruístas e desinteressados em honrarias ou elogios públicos e em benesses oficiais, deram o seu concurso, saber e entusiasmo, para que a obra vingasse e passasse a ser um desígnio de solidariedade das gentes de Coimbra. Fases difíceis foram superadas. A população, solidária e prenhe de fraternidade não enjeitou contribuir com donativos, pagando uma quota e oferecendo apoio voluntário para assegurar e engrandecer a obra criada e sucessivamente legada aos vindouros. Todavia, o espaço tornou-se exíguo e mesmo desconfortável. Necessário melhorar o conforto dos pobres. As direções não descuravam esta exigência. Mas, faltavam meios materiais e financeiros. E, as últimas direções, onde pontificavam homens e mulheres de coragem, exemplos do engº. Augusto Domingues Correia e Aníbal Duarte de Almeida, reiniciaram a caminhada. Falecido o Augusto Correia, Aníbal de Almeida assumiu a liderança. E, com um invulgar estoicismo e inabalável querer, assessorado por outros dirigentes, enraizou a esperança. A Quinta dos Cedros, S. Martinho do Bispo, cedida, permitiu elaborar o projecto e transferir, recentemente, os utentes que residiam, temporariamente, em espaço precário na Praça do Comércio.

Obra social em plena actividade precisa de permanente solidariedade da população, das empresas e instituições oficiais e estatais.

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