Para a “Troika”: usem mas não abusem

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Lucílio Carvalheiro

A história fala-nos de Monarquias Absolutistas, de Imperadores, de Ditaduras. Nestes regimes, havia uma “cara”, um “rosto”, a quem se atribuía o despotismo, a tirania – um alvo personalizado a abater pela sociedade oprimida.

Tendo a sociedade evoluído para o regime democrático, o alvo personalizado foi abandonado. Esquecido. O seu lugar é ocupado, na mente do cidadão-comum, por sinistros desígnios de grupos de pressão poderosos – monopolistas, capitalistas, sindicatos – cuja perversidade é responsável por tudo o que padecemos – especialmente os acontecimentos que, como o desemprego, a pobreza, a escassez de oportunidades, nos afecta. Não pretendo sugerir que tais desígnios nunca ocorram. Pelo contrário, são fenómenos corporativos, típicos.

Ora, sendo a democracia uma conquista do homem, feita pelo homem livre, devemos perguntar, subjugados que estamos pela Ditadura da Troika, “De que é ela feita?” “Quem a usa?”. Todas as respostas nos levarão, em síntese, aos partidos políticos. E a estes haverá que perguntar: porque abandonaram as formas de aparência jurídica, política, estética ou filosófica, numa palavra ideológica? E as suas repercussões no campo do método resultam numa ênfase excessiva do economismo. É irónico que seja a própria história do marxismo a fornecer o exemplo que mostra claramente a falsidade do economismo exagerado.

Parece, pois, que todos os partidos do «arco da governação» – PSD, PS, CDS – foram apanhados na rede e, agora, obrigados a render-se. Sob o ponto de vista ideológico, político, implodiram. Certamente que sim. A política, em Portugal, torna-se num baldio. Mas não se deve permitir que o poder económico – para o caso a Troika – domine o poder político; dentro do Estado (a Troika), embora resulte, em última análise, do memorando acordado, domina-o e influencia a opinião pública através da propaganda – ameaça provocar uma hecatombe financeira. Mas há limites sociológicos definidos em relação ao que pode realizar, ou seja: a Troika só se tornará perigosa se puder comprar o poder político, quer directamente quer pela escravização dos portugueses, que tenham de se vender para viver. O poder da Troika estará, portanto, inteiramente dependente de nós próprios, o mesmo é dizer, do poder político democrático.

Quero com tudo isto significar que devemos insistir num código moral muito mais rígido em questões políticas – teremos que remover a velha capa política. Porque tudo está no poder político e no seu controlo. Deste ponto de vista, o poder político reconquistado será a chave da nossa protecção económica e a da própria Troika. Porquê? Porque a história relata-o; ela conhece como César ou Carlos V chegaram ao poder e, uma vez no exercício desse poder—-aconteceu o que nos permite avisar a Troika: «usem, mas não abusem».

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