Francisco Queirós
Alberto João Jardim existe. É tal a amplitude da personagem que é, ou julga ser, uma marca. Tal a peculiaridade. Jardim procura fazer-se confundir com a Madeira. Ele é, diz, a autonomia.
A ele se deve uma assinalável melhoria das condições de vida dos madeirenses, mergulhados na mais profunda miséria nos tempos do colonialismo de Lisboa nos anos de Salazar e anos depois catapultados para a Europa.
Por Jardim, claro. Jardim sabe que nas últimas décadas a autonomia e o poder regional lá, como no continente o poder local, transformaram e muito a vida das populações. Numa terra paradisíaca, mas onde reinava a miséria mais profunda, a autonomia, o poder regional e local consagrados na Constituição da República foram factores de progresso.
Como por todo o país, o poder local que agora corre riscos de ser aniquilado foi fundamental para melhorar a vida das populações. Mas Jardim agarra-se a essa conquista da Revolução de Abril para colher dividendos pessoais.
Jardim quer ser a Madeira e que a Madeira seja o Jardim. Jardim, que viveu parte da sua vida em Coimbra onde estudou muito pouco, mas gozou muito em treze anos de frequência (raríssima) da Faculdade de Direito, só é igual a si mesmo. Incomparável a quem quer que seja. Jardim será uma marca. Se o for a arrogância palonça, o grotesco, o ridículo e o patético.
Jardim é um desses muito raros personagens que se fosse de ficção não seria credível. Guionista de cinema ou escritor que o criasse seria alvo de duras críticas pelo exagero da caricatura levada ao absurdo, ao inacreditável, enfim ao impossível. Jardim conta com décadas de governação avalizadas pelo voto popular e essa é uma legitimidade real.
Valerá a pena analisar as suas causas. Mas quaisquer que sejam, e se as há, o povo escolhe e nós não escolhemos o povo. Diferente é a legitimidade que lhe é constante e sucessivamente brindada por muitos sectores da sociedade insular e continental, o seu partido, senhores da finança, barões da economia e vários responsáveis políticos.
Afinal, se a Madeira é do Jardim, o Jardim é de alguém. Jardim alcança a graça de misturar o que nem sempre casa bem, a imagem de laparoto e a de chico-esperto, a de “pai de todos” e a de pequeno tirano de paróquia.
Mas alguém lhe deu e dá a mão. Se não servisse, há muito que Jardim teria perdido a graça. Contudo conserva-a! Podem agora alguns sentirem-se pouco cómodos com as últimas revelações das habilidades do artista. Na verdade, a companhia de circo é acarinhada e afilhada com ternura desde sempre. Jardim não é um qualquer “deus ex-machina”. Não será um filho da máquina?
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