Falou e disse

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Gonçalo Capitão

Assisti com particular atenção à entrevista do Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho, à televisão pública e, sincera e objectivamente, gostei.

Desde logo, apreciei a coragem em relação ao problema da ocultação do défice na Madeira. Sou daqueles que sempre tiveram estima por Alberto João Jardim e que reconhecem a magnífica e notória obra que fez na região autónoma. Contudo, numa altura em que carregamos a maior cruz financeira de que tenho memória, não há gastos à tripa-forra ou falta de cuidado orçamental que possa admitir-se, por muito que simpatizemos com o gastador em causa.

Restava, por isso, perceber como iriam ser os passos de Coelho numa matéria em que os presidentes do PSD sempre tiveram o maior recato opinativo. Ora, numa atitude que só surpreende quem não teve o prazer de o conhecer, Passos Coelho não teve problemas em reputar a atitude de inadmissível e irrepetível, anunciando que não se associaria à campanha madeirense. Que fez a oposição que tanto criticara anteriores presidentes por alegada complacência? Criticou outra vez, mostrando o que as pessoas menos apreciam: o lado cénico e táctico da política (aquele que pode até destruir reputações porque “convém ao grupo”).

Gostei ainda da entrevista do “Premier” pela honestidade. Seria fácil especular, designadamente sobre a taxa social única e sobre o IVA, mas não o fez, reconhecendo humildemente que não estava em condições de quantificar as medidas, para já.

E no que respeita àquela taxa, sublinho ainda o patriotismo ínsito nas respostas de Passos Coelho, quando confrontado com as “exigências” do FMI no sentido de um corte de oito pontos percentuais. Explicando as razões económicas pelas quais não seguiria a amável sugestão dos burocratas, Passos afirmou-se como político ao dizer que Portugal não seria um laboratório do FMI.

Em igual medida revelou sentido de Estado, infirmando as notícias que davam como certo o avanço do TGV por pressões espanholas e europeias.

Em terceiro lugar, a mesma sensibilidade política e social lhe vislumbrei ao dizer que havia que graduar os cortes na Saúde, Segurança Social e Educação, razão pela qual a despesa está a baixar mais lentamente.

O que gostaria de ter ouvido era uma opinião daquela esquerda que se diz campeã do social e que nunca explica como manteria o sistema actual, pedindo, ao mesmo passo, um corte abrupto na despesa do Estado (sendo que só nos sectores mencionados os cortes farão real diferença orçamental, por muito que todos os sectores devam emagrecer).

A terminar, uma palavra para a serenidade e educação que revelou ao longo de toda a entrevista, não crispando o semblante nem nas questões mais “atrevidas”. Eis as razões por que gostei do primeiro exame, numa televisão que o próprio entrevistado disse que vai ter que mudar de vida.

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