Empreendedorismo

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Elsa Ligeiro

As palavras não enganam. Cada época tem as suas. Hoje, em plena orgia de debate económico, uma das mais usadas é empreendedorismo.

Basta ligar a televisão, abrir um jornal e lá estão dois ou três especialistas (sempre os mesmos) a fazer diagnósticos e a ligar ideias (fraquinhas) sobre o caos que se instalou na economia ocidental.

Palavras e mais palavras, sempre na sombra de um capitalismo ainda eterno e sem prazo de validade.

Na realidade, vas- tos e diversificados discursos e projectos sobre empreendedorismo invadem há alguns anos a terra portuguesa.

Para além das centenas de bons empregos (bem pagos, entenda-se) entregues aos militantes fiéis dos partidos que ganham eleições, nenhum resultado relevante o empreendedorismo português apresentou até ao momento.

Nenhum saldo positivo devemos aos teóricos do Desenvolvimento Regional e do Empreendedorismo (além, claro, dos tais bons empregos e melhores reformas pessoais).

Resumindo, e até prova em contrário, nenhum projecto digno de nota saiu do trabalho dos especialistas em teoria do empreendedorismo.

E, no entanto, Portugal tem milhões de empreendedores que esquece completamente. Pessoas que não esperaram que o Governo deste país resolvesse problemas básicos de emprego, de desenvolvimento regional e social.

Todos eles diferentes, mas todos muito parecidos na ambição de quererem mais do que a nossa classe dirigente conseguiu concretizar neste país.

A História ainda não é muito clara sobre esta nossa maneira portuguesa de reagirmos à adversidade e à nossa incapacidade de criar riqueza, mas a nossa incompetência endémica de fazer planos a médio e longo prazo é um facto que o ouro esbanjado das minas do Brasil, o desastroso colonialismo em África, e a evaporação dos fundos de ajuda comunitária comprovam.

Parece que não acreditamos no futuro, apesar (e talvez por isso) do sebastianismo e do Quinto Império.

Felizmente para Portugal há milhões de portugueses que não se resignaram a este fado e partiram, e continuam a partir para a Europa (na qual nunca deixámos de ser periferia), para a Oceania, para África e Américas.

Grandes portugueses que deviam ser convidados a dar-nos lições de empreendedorismo, e a ensinar em algumas universidades para explicar aos estudantes o que é ser português. Porque continuam a investir em Portugal, quando o podiam fazer no país que lhes deu a oportunidade de um trabalho mais bem remunerado, uma segurança social de confiança e um futuro melhor para os seus filhos.

Têm, pelo menos, muito que ensinar aos funcionários públicos que se dedicam à teoria do empreendedorismo como profissão.

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