Uma morte anunciada

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Francisco Queirós

Nuno era o seu nome. Assim, o conheciam a mulher, os familiares, os amigos e os colegas dos serviços municipais de transportes. Para o filho menor, desconfio que era “o pai”! Tinha 35 anos, trabalhava nas bilheteiras dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra e teve horas de fama com direito a primeira página dos jornais.

Na tarde de 17 de Agosto, um Vereador da Câmara de Coimbra garantiu-lhe a fama. Lê-se nos jornais – e eu presenciei – que “no decorrer da reunião quinzenal de executivo camarário, Carlos Cidade denunciou a situação, com o vereador do PS a perguntar a João Paulo Barbosa de Melo se tinha conhecimento do caso”. O presidente da Câmara não tinha. Mas o dirigente socialista esclareceu o executivo. E já fora da reunião de Câmara informou a comunicação social. Ainda nos jornais, o “caso” conta-se assim: “À margem da reunião do executivo camarário, o vereador do PS explicou que a verba (600 euros) foi desviada na “transacção de caixas” revelando que “implicou a anulação de um papel e a feitura de outro”, dando conta que a pessoa em causa “confessou logo” o ilícito”. O autarca e presidente da concelhia socialista afirmou também que o “que está em causa não é o desvio de dinheiro, é quem deixa fazer isto, já depois de ter reforçado que está em “causa uma gestão (dos SMTUC) em que isto acontece”. E os jornais acrescentam que “Manuel Oliveira (administrador delegado dos SMTUC e presidente da concelhia PSD de Coimbra) revelou tratar-se de “um processo totalmente diferente” do primeiro desfalque, que já está a ser investigado pela Polícia Judiciária de Coimbra”, que “o funcionário foi mudado de serviço” e decorre a normal investigação. Está tudo nos jornais. Na reunião pública de Câmara todos constatámos a denúncia veemente deste “caso” num processo de arremesso político com sabor a julgamento sumário. Está tudo nos jornais de 19 de Agosto.

Já o episódio seguinte mereceu atenção a apenas um diário local. 20 de Agosto de 2011, título de notícia: “Funcionário dos SMTUC encontrado morto em casa. Suicidou-se o alegado autor de um desvio de 600 euros da empresa de transportes urbanos”. Acrescenta o jornalista que “Nuno R. B. (o decoro é de minha autoria, no jornal está escrito por extenso!), de 35 anos, casado e pai de um rapaz era funcionário nas bilheteiras dos SMTUC e foi encontrado sem vida pela esposa, ao final da tarde, na garagem da sua residência, na Rua do P. (decoro meu novamente!), em S. Martinho do Bispo. Aparentemente ter-se-á tratado de suicídio, tendo Nuno B. (outra vez!) usado uma corda para pôr termo à vida.”

Há para aí desvios de milhões! Gatunos que se pavoneiam e vangloriam dos seus saques milionários. Nuno foi um pilha galinhas, desviou umas notas, calculo que numa situação de grande desespero, reconheceu o acto e o “caso”, condenável com certeza, seguia o seu curso normal. Agora, quando já todos sabemos o seu nome, nem a mulher nem os colegas o poderão voltar a chamar Nuno nem o seu filho voltará a gritar “Pai!”.

A política, o governo da cidade é muito mais sério do que isto! A lição que fica é a de que vale tudo, sem olhar a quem! Escabroso! Não se pode matar o pai e a mãe para ter acesso ao baile do orfanato! Assim, não! Nunca!

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