“Muitas empresas foram para Pombal e Cantanhede porque encontraram enormes dificuldades na Figueira da Foz”

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Foto de Jot'Alves

José Manuel Marques é um dos mais dinâmicos empresários da Figueira da Foz. À frente do Grupo Somitel desde finais da década de 1980, não pára de inovar e de diversificar a atividade empresarial.

Qual é o estado de espírito de um empresário na atual conjuntura?

O estado de espírito tem de ser, por princípio, sempre de muita vontade e coragem. Temos de ter a convicção que as coisas vão melhorar rapidamente, e só há uma maneira de isso acontecer: com trabalho. Há que acordar mais cedo, dormir mais tarde e trabalhar mais: não há outra forma de superar estes momentos mais difíceis.

Como é que começou a sua atividade de empresário?

Comecei em 1989. Trabalhava na Soporcel – já nessa altura fazia algumas coisas por minha conta e risco, na reparação de equipamentos de eletrónica e coisas do género. Quando arrancámos com a Somitel (na altura, tinha um sócio), começámos a trabalhar na área das telecomunicações e da eletricidade. Decidi sair da Soporcel e arrisquei. Naquele ano, recorde-se, a conjuntura também não era a melhor.

Com quantos trabalhadores começou?

Com um: eu (risos)! Mas, depois, estivemos alguns meses com quatro ou cinco colaboradores.

Quantos tem agora?

Hoje, o Grupo Somitel tem 380 trabalhadores, mas estão sempre a entrar, e felizmente ou infelizmente, também vão saindo algumas pessoas. Estamos constantemente a admitir novos colaboradores, nomeadamente na área das vendas porque somos uma empresa comercial, até na área da construção.

Se Portugal fosse um produto comprava-o?

Há sempre aqui duas variáveis, a económica e o sentimental. Guiando-me pela sentimental, comprava.

E se Portugal fosse uma empresa, também a comprava?

Sim… por um euro (risos).

Fazia despedimentos?

Se tivesse lá prestadores de serviços e colaboradores que não fossem rentáveis, teria de os despedir.

Que é que despediria em primeiro lugar?

Acho que quem tinha de ser despedido já foi despedido e quem lá está agora ainda não teve tempo para mostrar trabalho…

Quando se candidatou à Câmara da Figueira da Foz (em 2001, como independente pelo CDS/PP) disse que presidir a uma autarquia é como presidir ao concelho de administração de uma empresa. Continua a pensar assim?

Sim. (…) Se tivesse estado à frente da câmara desde 2001, de certeza absoluta não teria havido muitos dos gastos que houve. Sobretudo, despesas que não se traduziram em mais-valias para o cidadão e para o concelho. (…) Fundamentalmente, nas empresas e nas entidades públicas, o ponto de partida é eliminar desperdícios.

Imagine que era chamado a governar a Câmara da Figueira da Foz com a atual conjuntura, aceitava o repto?

Se por acaso isso acontecesse, obviamente aceitaria. Acho que a Figueira da Foz merece muito mais. (Sobre a situação financeira da autarquia) sei que há algum défice. E há também alguns desperdícios difíceis de colmatar, uma série de variáveis jurídicas adjacentes e de procedimentos – a fusão das empresas municipais, por exemplo – que não podem ser resolvidos com um estalar de dedos. Quando estamos a falar de uma empresa, decide-se quase de um dia para o outro. No caso da câmara, não é o presidente que estala o dedo e resolve a situação no dia seguinte.

Tem propostas para o desenvolvimento do concelho da Figueira da Foz?

Sim. Aquilo que eu sempre disse e continuo a dizer, que é tão simples quanto isto: o papel da câmara deve ser o de deixar fazer e não o de mandar fazer. Ou seja, a câmara tem que ter aqui um papel de regulador e não ser um obstáculo à evolução económica. Quando comprámos um terreno na Zona Industrial e quisemos construir o edifício/sede da Somitel, andamos cerca de quatro anos, desde a compra do terreno até ao funcionamento das novas instalações. Em Carregal do Sal, onde temos a Somitel Energia, comprámos o terreno num mês, fizemos a escritura em junho e antes do final do ano tínhamos o edifício construído.

Se não fosse um empresário figueirense teria desistido desse investimento?

É evidente que sim. Aliás, a prova clara disso é que muitas empresas foram para Pombal e para Cantanhede porque encontraram enormes dificuldades na Figueira da Foz. O que acontece neste tipo de situações é haver alguém que quer fazer e depois aparece uma mão cheia de “achistas”, aqueles que acham tudo e mais alguma coisa.

Desistiu definitivamente da política?

Sim.

E de ser presidente da Naval?

Isso, muito menos. Aprígio dos Santos é o meu presidente. A Naval deve-lhe muito. Penso que é a pessoas certa pois não é fácil ser-se presidente da Naval. Dificilmente na Figueira encontraríamos alguém à altura de o substituir.

Já é excêntrico, ou ainda não ganhou o suficiente?

(Risos) Tudo aquilo que eu ganho invisto. Prefiro criar emprego, dinâmica, empresas, atividade, que no fundo acabam por me trazer algum prazer e algum conforto interior. E se tivesse muito dinheiro, a nível pessoal, também não teria tempo para o gastar.

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