Hoje em dia quase tenho receio de escutar noticiários. Um bom exemplo justificativo foi, logo pela manhã, a escandalosa medida da agência de rating Moody’s que, coincidência do diabo, na véspera da contracção de um empréstimo por Portugal aumenta, desmesurada e acintosamente, o risco de incumprimentos por parte do nosso país.
A negociata é clara e creio que as declarações de Passos Coelho e Durão Barroso deveriam ter sido ainda mais duras: o que se passa é que, como ainda há gente (muita e muito rica) que dá ouvidos a estes vampiros das agências, subindo o juro cobrado a Portugal em função da nossa alegada falta de fiabilidade, ganham os amigalhaços especuladores que vivem disto.
Que se dane o facto de se estar a atirar para o desemprego (mais juros é igual a mais dificuldades para o Estado, o que, por sua vez, vai levar a mais “tareia” sobre cada um de nós)! Pouco importa a falência de centenas de empresas! E que ninguém sinta remorsos por emporcalhar indevidamente o nome de uma Nação a caminho dos 900 anos de independência!… O que é relevante é que estas sanguessugas possam alimentar os parasitas especuladores que, por seu turno, gastarão boas maquias nestes Deus ex machina do rating.
Eu, que não sou ninguém, bem ando a escrever (aqui e noutras paragens) e a dizer (quando tinha actividade partidária), há anos, que estamos a deixar o mercado ir longe demais! O que faz de mim um social-democrata ou um reformista é precisamente o facto de acreditar no mercado temperado pelo papel regulador do Estado. Ora, numa economia globalizada será às instituições internacionais que cumprirá preservar algum poder e não deixar andar a matilha raivosa à solta.
Mais me choca o que se passa se pensar que este Governo tem agido de modo a conter a gula do Estado, pedindo, ao mesmo passo, sacrifícios adicionais e graúdos aos portugueses. Acresce que o próprio Povo Português tem dado uma lição de enorme compreensão e civismo, não se assistindo aos tumultos da Grécia e de Espanha, ou tão pouco aos de tantas outras cidades de outros países europeus, onde se vê violência a cada medida mais penalizadora.
Não nos iludamos: o que está em perigo não é só o futuro de países como Portugal ou sequer da União Europeia!… Se ninguém puser travão a esta sangria provocada pela especulação, o que as pessoas começarão a questionar (compreensivelmente) será a própria validade do regime democrático. Já tivemos na Europa os demagogos que hoje criticamos na América Latina, no Médio Oriente e na Ásia; a continuarmos assim, um dia destes voltaremos ao tema…
Por cá, convinha que Seguro e Assis não pusessem a campanha do PS à frente de Portugal, pois criticas ao imposto extraordinário como as que fizeram são gasolina no fogo. Talvez seja de deixarem o circo para extrema-esquerda, que é boa nisso.
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