Maria Manuel Leitão Marques
Foi com algum espanto e admiração que vi como grande título de primeira página de um jornal diário a história da viagem do Primeiro-Ministro para Bruxelas em classe económica.
Não porque ache errada a opção, mas porque de todo não é novidade no Governo.
Em 2005, mesmo sem todas as exigências de contenção em que vivemos, essa foi essa a regra definida pelo então ministro António Costa para os voos inferiores a quatro horas, creio, mas não o posso jurar, seguida também por outros membros do Governo.
A excepção foram os voos cedidos pela TAP. Neste caso, a companhia disponibiliza aos membros do Governo lugares em classe executiva, mesmo quando expressamente são solicitados em económica (foi essa a minha experiência). Penso e compreensivelmente que será por se tratar da classe onde tem mais lugares vagos, visto que a cedência depende sempre dessa disponibilidade. Quando assim acontece e ao contrário o que foi dito por aí, mesmo suportando as taxas aeroportuárias, o custo da viagem é inferior ao de adquirir um voo normal em classe económica. Só uma grande irracionalidade, existindo tal acordo, levaria assim alguém a desprezá-lo.
Devo acrescentar que no meu caso levei até mais longe o estipulado e viajei em económica mesmo em voos de longa duração. O meu princípio foi o de não fazer o Estado pagar por uma viagem oficial um preço que eu não pagaria se a viagem fosse a título pessoal. Não o recomendo. Ainda que não se morra disso, é bastante cansativo fazer um voo de mais de 12 horas, coordenar uma reunião de sete horas e voltar de seguida ao trabalho demorando outras 14 horas.
Enfim, acho que a dita história valerá pelo exemplo. O que me pareceu excessiva foi a pompa e circunstância em torno dela. Alguma discrição pode ser conveniente sob pena de o feitiço se virar contra o feiticeiro na primeira oportunidade, por mais justificada que ela seja. Atribuamos este excesso à intensidade da graça mediática do Governo. Longa seja ela, que alguma paz ajuda à governação.