O míldio e a podridão negra (black rot), duas agressivas doenças da vinha, estão a provocar elevados prejuízos na região do Dão, com vinhedos em que a destruição ultrapassa os 80 por cento, disse fonte da comissão vitivinícola.
António Mendes, vogal para a produção da Comissão Vitivinícola Regional do Dão (CVRD), explicou que nesta fase “ainda é cedo para se ter uma ideia da dimensão dos estragos”, mas frisou que, “em algumas vinhas, a podridão negra devastou 80 a 90 por cento da produção”.
“Mas convém ter em conta que há casos em que as vinhas estão completamente limpas, sem qualquer impacto desta doença”, acrescentou.
O também presidente da direção da adega de Mangualde referiu que a qualidade é igualmente muito afetada, aconselhando os produtores a fazerem “uma boa seleção dos cachos menos tocados na altura das vindimas”.
A podridão negra é uma doença nova no Dão, onde foi detetada pela primeira vez há seis anos – mas com atuação grave apenas há dois -, considerando João Paulo Gouveia, enólogo e professor de viticultura na Escola Superior Agrária de Viseu (ESAV), que “urge investigar o surgimento desta doença na região”.
“É uma doença que não tem tratamento curativo, podendo apenas ser prevenida”, disse João Paulo Gouveia, explicando que essa prevenção é normalmente feita com cuidados nas chamadas intervenções em verde na planta, nomeadamente arejar e permitir a entrada de luz na área dos cachos.
João Paulo Gouveia, que integra a Confraria dos Enófilos do Dão, notou ainda que o surgimento intensivo de doenças criptogâmicas como o míldio deve-se à ausência, ou menor atenção com os tratamentos químicos para um ano de condições climatéricas adversas, com chuva intensa numa fase adiantada de maturação da uva.
“O míldio debilita a planta e, concomitantemente, este ano surgiu a ‘black rot’, que levou a uma situação muito desagradável, com uma perda média que se pode estimar em mais de 35 por cento”, adiantou.
O professor da ESAV sublinhou que as castas mais sensíveis à ‘black rot’ foram as mais devastadas, como é o caso do alfrocheiro e da tinta roriz, duas das mais importantes da região, com situações de perda “muito elevadas”.
O problema com o míldio em conjugação com a “black rot” foi notado há cerca de duas semanas, como contou à Lusa João Teixeira, produtor da área de Silgueiros, sublinhando que “a conjugação do míldio com a podridão negra não é, de todo, normal no Dão”.
“É completamente atípica esta situação. Se o míldio não nos surpreende e estamos, normalmente, preparados, já para a ‘black rot’ ainda não temos os radares devidamente afinados”, visto que se trata de “uma doença desconhecida no Dão até há muito pouco tempo”, explicou este produtor de Oliveira de Barreiros.
João Teixeira estima que as suas perdas se situem nos 35 por cento, embora aponte o dedo essencialmente à “black rot” porque para o míldio “estava atento”, e foi a junção das duas que “trespassou a barreira dos tratamentos” numa altura “de grande melindre para a vinha”, que é a fase de maturação em que esta se encontrava “na altura dos ataques”.
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