Há uma deriva liberal, neste PSD?
Não. Evidentemente que há uma abertura à iniciativa privada em alguns setores, mas não a todos. Na Educação, por exemplo, não há indicações para alguma privatização. Quanto à Saúde, há um ou outro subsetor a rever. O que há é uma forte retirada do setor empresarial do Estado. Em primeiro lugar porque é um contribuinte muito forte para o défice, mas também porque nós entendemos que há áreas em que o Estado tem de estar de fora. Quanto aos modelos de privatização, há também diferenças, embora seja preciso estar de posse de todos os dados. Nalguns casos pode haver alienação de capital, total ou parcial, noutros casos pode haver lugar a um regime de concessão. Nós temos uma matriz social-democrata, de modernidade…
Em tempo de crise, qualquer plano de privatização é um risco…
Nem todas as privatizações têm de ser feitas a curto prazo, até porque a nossa estratégia de revitalização da economia passa por fazer com que sejam empresa nacionais, mesmo pequenos investidores, ou seja, capital nacional, a entrar nas empresas a privatizar. Por isso, vamos procurar fazer tudo de forma controlada, aproveitando alguma melhoria que o mercado possa vir a sentir e que cremos que vai acontecer..
O mau entendimento pessoal entre Sócrates e Passos Coelho é um problema para o próximo governo?
Espero que não, porque espero que o governo que saia das eleições não tenha de incluir o Partido Socialista. Mas também vejo que, no PS, há pessoas que poderão apoiar medidas governativas nossas. Isto mesmo que o apoio do PS não seja necessário no quadro parlamentar, mas que seja simplesmente um imperativo nacional, do ponto de vista social. Ou seja, para um governo do PSD ou de coligação PSD/CDS, entendo que há medidas que devem merecer o apoio de figuras destacadas do PS e algumas medidas devem mesmo ser previamente conversadas com o PS. É claro que vejo em José Sócrates um óbice a tudo isto, pela forma como conduziu o país nos últimos seis anos e por algumas das suas posturas. Mas não confundo o PS com José Sócrates e acho mesmo que o partido é bem melhor do que o seu ainda líder.
O que melhorou em Passos Coelho, após o início da campanha?
Várias coisas. A primeira foi a capacidade de Pedro Passos Coelho chegar às pessoas. Ele tem claramente uma grande empatia, uma capacidade de comunicar bem com as pessoas. E isso distingue-o de José Sócrates, que é apenas um bom comunicador mediático. Por outro lado, houve o programa do PSD, que conseguiu vencer a barreira de algum ceticismo de quem pensava que o PSD não tinha experiência e condições para governar. E, por fim, houve também o desgaste do líder do Partido Socialista.
Como avalia a ausência dos históricos do PSD na campanha?
Não é verdade que não estejam. Veja que Pedro Passos Coelho conseguiu agregar o apoio de todos os principais dirigentes históricos do PSD. Todos os antigos líderes do partido, todos, enviaram mensagens vídeo de apoio e também os seus opositores internos de há um ano e pouco atrás estão com ele – Paulo Rangel é eurodeputado e José Pedro Aguiar-Branco é cabeça de lista pelo Porto e foi o responsável pela orientação do macroprograma do PSD. Também em campanha têm estado algumas figuras que não apoiaram Pedro Passos Coelho, como José Luís Arnaut, Morais Sarmento, Rui Rio…
Outra crítica forte tem a ver com a falta de experiência…
Admito que possa faltar experiência governativa, mas o facto é que há experiências pessoais e profissionais extremamente relevantes. Dou apenas o exemplo de duas pessoas que conheço muito bem. Uma delas porque trabalhou diretamente comigo, que é Carlos Moedas, um engenheiro civil qualificado por Harvard, um empresário, com trabalho em grandes empresas internacionais e na criação do próprio negócio, e uma pessoa que tem um gosto enorme pela política e que, com o seu trabalho, de proximidade com o prof. Eduardo Catroga, tem uma qualidade enorme. É cabeça de lista por Beja e merecia ser eleito. Outra pessoa é a candidata por Setúbal, que é um distrito que conheço bem pois vivi lá entre os três e os 18 anos. A Maria Luís Albuquerque é uma pessoa de enormes qualidades, na área financeira, uma especialista em crédito público, extremamente ponderada e qualificada.
Que expetativas tem para 5 de Junho?
Resultado mínimo: eleger novamente o Nuno Encarnação que . é outra vez o quarto e, em 2009, foi o último deputado a ser eleito, quando o distrito ainda elegia 10. Ficaremos satisfeitos se o conseguirmos. E acho que merecemos manter os quatro. Pedro Saraiva foi um excelente deputado, o Nuno Encarnação também. A Nilza Sena é uma pessoa extremamente competente e vai manter a sua ligação ao distrito. Mas o que sentimos nas ruas e nos apoios que recebemos permite-nos sentir que vamos crescer e ter mais votos do que o PS – algo que só aconteceu, recordo, nas maiorias do prof. Cavaco Silva. Agora, evidentemente que, neste cenário de perda de um deputado, tudo é mais difícil.
Que áreas-chave identifica para a intervenção política no distrito?
Em primeiro lugar, o fomento de atividade empresarial e, com isso, fazer crescer o emprego. Depois, as questões sociais. Portugal é o sétimo país mais envelhecido do mundo, pelo que o apoio à 3.ª idade, o incentivo à natalidade. Por último, as infraestruturas e acessibilidades, em que ainda há coisas a fazer no distrito. Desde logo, o Porto da Figueira da Foz, que tem de ver a sua capacidade alargada. Nas estradas, há que concluir o IC6 e retificar a Estrada da Beira. E, claro, o o Metro Mondego…
Disse querer transferir verbas do QREN para o metro mas nem explicou como nem parece que seja acompanhado pelo líder do PSD…
Vejamos, esse é um compromisso meu e da nossa lista, por Coimbra. Aliás, a nossa posição é a que consta do projeto de resolução, entregue na Assembleia da República e aprovada por unanimidade. Ou seja, em primeiro lugar, repor a ligação Coimbra Serpins, reparando a enorme injustiça que foi feita àquelas populações. E, depois, encontrar uma solução de financiamento para o projeto. E é aí que entram os fundos comunitários. Sabemos que há a possibilidade de, até Julho de 2011, renegociar até 70 por cento das verbas afetas ao TGV, para infraestruturas de transporte e ambiente, pelo que é aí que temos de investir.