Interioridade

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Fernando Serrasqueiro

O discurso do Presidente da República no Dia de Portugal dá que pensar. Falou na necessidade de repovoar o Interior utilizando a agricultura como instrumento de fixação de populações numa altura em que a questão da produção de bens essenciais se tornou urgente. É um facto que tendo sido Portugal um país agrícola em determinada altura, correntes a que não é alheio o então primeiro-ministro Cavaco Silva, foram defendendo uma estratégia de abandono da terra e incentivando a viragem para a indústria e serviços com predominância do turismo.

A produção agrícola foi decrescendo por suposta falta de competitividade das nossas terras, com recurso mais intenso às importações que a Política Agrícola Comum incentivou ao proteger outros interesses europeus. Se hoje a discussão energética já estabilizou em que a substituição de importações se pode fazer com um incremento da produção por via das energias alternativas (embora economicamente mais caras), importa agora também considerar igual análise para a produção agrícola e seu aproveitamento industrial.

É claro que temos de diminuir as nossas importações e por isso apoiar os agricultores que produzam em detrimento daqueles que os fundos europeus incentivaram a não cultivar a terra ou a dirigir a sua acção para a captação de subsídios ou culturas que nada têm a ver com a nossa realidade, como foi o caso do tabaco.

Uma política deste teor reforçaria o peso do Interior do país, mais agrícola, e faria deslocar indústrias cuja proximidade da produção tornaria mais competitivas.

Estou seguro que uma determinada regionalização que fundisse todos os serviços descentralizados regionais, incluindo as CCDR, sem acréscimo de custos, já teria despertado para esta realidade e motivado até os autarcas para a prioridade ao desenvolvimento regional, com forte alavanca na agricultura.

Nos últimos tempos, com o apoio às fileiras agrícolas, várias áreas se foram desenvolvendo sem que o país se apercebesse muito disso. O Portugal Fresh que organizou o sector dos legumes, frutas e flores, o desenvolvimento dos olivais, a qualificação da vinha e melhoria do vinho, permitiram que o volume de exportações aumentasse significativamente, indicando o caminho que outros sectores têm de percorrer. O trabalho será facilitado com as informações que a indústria presta sobre as suas necessidades em produtos e quantidades e com a organização de cada sector.

O país tem vindo a associar certas regiões ou cidades a uma marca, na maior parte das vezes ligada ao sector animal, industrial ou turístico e menos ao agrícola, porque mais envergonhado. Disputa-se a capital do móvel, mas não a capital da melancia.Quando se justificaria mais a ligação entre as universidades e este sector, assiste-se à diminuição drástica dos alunos que procuram as escolas agrárias o que é bem o exemplo do afastamento que a actividade agrícola tem tido da população activa.

O Interior tem aqui uma oportunidade de se afirmar, é desejável que os autarcas, enquanto não existir regionalização, possam dar mais atenção aos sectores produtivos e menos às infraestruturas, numa altura em que as prioridades vão para o incremento do produto e redução de despesas não reprodutivas. Um país agrícola não é incompatível, antes pelo contrário, com uma forte mancha industrial e uma maior diversividade turística. Complementam-se.

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