Talvez os portugueses estejam inquietos e insatisfeitos com o futuro, mas acabaram de votar e têm de aguentar as consequências dos seus votos. Muitos ainda não sabem quais são as medidas que a troika nos impôs. Sabem apenas que vai haver sacrifícios. Sabem todos que os partidos do arco do poder tudo fizeram para esconder a origem e tamanho da dívida. E, parabéns, conseguiram. Na noite das eleições muitos se acotovelaram nos corredores que levam ao poder e eram multidão. Vimos.
Com outros protagonistas, repetiu-se o que sucedeu há quase cento e vinte anos, quando “A multidão dos inquietos e insatisfeitos comoveu-se, aplaudindo A. Ayres, e esta vaga de popularidade guinda-o às cadeiras do poder no gabinete de José Dias Ferreira em 92.” Eram também tempos difíceis e, para os homens do poder de então, como não havia um estado social para desmantelar, era tudo mais complicado. Por isso Oliveira Martins logo desistiu de endireitar as contas e partiu.
Agora tudo é mais fácil pois só há que cortar na saúde e na educação. O que complica mesmo a vida do governo nosso de cada dia é a comunicação social por Internet já que ninguém a consegue reduzir ao silêncio. Entretanto, e só agora alguns vêm falar de coisas submersas ou submersíveis que antes submergiram. Que gente chocha!
Outros, começam agora a falar da clara incompetência dos governantes que agora cessam funções, mas estiveram todo este tempo calados, deixando o país descambar no pântano em que estamos. Contudo, não devem ter deixado de ver as enormes manifestações de professores, nem as de todos os trabalhadores. Muitos dos que agora falam deram a Sócrates os silêncios que tanto o desculparam e que tanto os beneficiaram. Outros, também, conseguiram emprego enquanto o desemprego se tornava chaga social. E, agora é a hora de falar para os que não tiveram coragem de falar antes.
Agora que o ano lectivo se aproxima do fim, tal como alguns dos meus alunos me perguntam, é tempo de perguntar sobre o que são “As Novas Oportunidades”. E perguntar também o que é e deve ser a avaliação dos professores. Há também que explicar porque os alunos estão tão indisciplinados e desmotivados. Há também de explicar as elevadas taxas de abandono escolar e a inadequação dos programas das disciplinas. Têm também de explicar a falta de qualidade das obras da Parque Escolar. Alguns dos mandantes e dos mandados do poder cessante têm também que explicar o que andam e andaram a fazer nas escolas para, no fim, produzirem documentos de avaliação docente tão díspares e disparatados. E este estudo não deve ser só pedagógico. Deve ser também de avaliação da capacidade profissional desta gentalha.
De facto, se nos deixarem, há muito que “investigar”.