Um beco quase sem saída

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Chegados aqui, não adianta fazer mais análise política. A metodologia utilizada pelo Governo deste Partido Socialista revela pouco respeito pelas instituições de soberania nacional e desprezo pelos princípios básicos da democracia portuguesa. Mais do que isso, ficou evidenciado que com este Governo, a táctica política sobrepõe-se ao interesse nacional, numa lógica política doentia, sem respeito pela verdade e pela ética.

Propositadamente, referi “deste Partido Socialista” porque há aqui particularidades que a maioria das pessoas livres e simpatizantes do PS não se revêem. Na realidade, há em todo este processo, erros e omissões demasiado graves que, nesta altura, deverão apenas servir para formatar o que Portugal deverá fazer no futuro.

Para planear esse novo Portugal é essencial perceber como chegámos até aqui e o que devemos fazer de diferente, a partir daqui, pelas novas gerações e pelo futuro.

1. A economia portuguesa não se preparou para a entrada no Euro. Amortecemos a nossa falta de produtividade, desvalorizando a moeda, deixámos que a inflação ajudasse a melhorar artificialmente o nosso poder de compra, desprezámos o sector primário e a indústria produtiva porque esses eram sectores onde era muito mais difícil resistir à competitividade global ;

2. Nas últimas duas décadas, a estratégia económica e de emprego, se é que existiu, foi alavancada nos sectores dos bens não transaccionáveis, desde o Estado, através da criação de inúmeros institutos, empresas e fundações, aos sectores da energia, telecomunicações e ao sector dos Serviços em geral, para os quais se captaram os nossos melhores talentos e recursos, acrescentando ainda mais dificuldades aos sectores produtivos ;

3. Quando entrámos na Zona Euro, o excesso de liquidez da Banca conjugado com taxas de juro extremamente baixas, fizeram aumentar o nosso consumo e a nossa divida de forma desmesurada, com o Estado Português a dar mau exemplo e sinais políticos completamente errados ;

4. Se a entrada no Euro trouxe vantagens, também é verdade que trouxe uma nova palavra para o léxico político que, desde o início desta década, nunca mais nos largou: o défice! Na realidade, a entrada no desejado clube europeu, pressupunha um conjunto de obrigações, entre as quais, manter as contas públicas em ordem ;

5. Até aqui, os Governos têm reduzido o défice através do aumento dos impostos das famílias e das empresas ou utilizando alguns artifícios para arranjar algumas receitas extraordinárias, seja através de venda de património, privatização de empresas públicas, transferência de fundos de pensões ou parcerias entre públicos e privados. Na maioria das decisões políticas, jamais esteve subjacente um plano estratégico, outrossim esteve sempre a urgência do cumprimento da meta do défice do respectivo ano ;

6. Fomos assim conduzidos para um beco quase sem saída, ao longo de sucessivos anos pelos sucessivos governos de Portugal. Na última década, Portugal não conseguiu crescer

economicamente, destruiu emprego, criou uma sociedade mais desigual e tem um número recorde de pessoas a viver no limiar da pobreza. A crise financeira simplesmente veio antecipar o desastre, agudizar o problema da dívida soberana e evidenciar a falta de estratégia nacional ;

7. Nos últimos 16 anos, o PS governou 14 anos! É importante evidenciar este facto porque há muita gente que na espuma dos problemas, pensa que a responsabilidade deve ser igualmente repartida. Deve juntar-se a este facto, um dado político muito importante. Nos últimos seis anos, os Governos do Eng.º Sócrates têm a característica de terem a certeza de quase tudo e terem negado a realidade de forma permanente.

8. A crise financeira atrás da qual, este Governo quer esconder todas as suas incompetências estalou em 2008, ano em que o Primeiro-Ministro chegou a afirmar que Portugal estaria imune a tais acontecimentos. Afirmações, aliás, que serviram de base para preparar “eleitoralmente” o Povo Português, tendo, em 2009, descido o IVA, aumentado os funcionários públicos em 2,9%, entre outras medidas que, um ano depois, foram negadas e retiradas de forma brutal ;

9. De PEC em PEC, sem reformar estruturalmente o Estado, não reconhecendo os nossos verdadeiros problemas para encontrar as verdadeiras soluções, será impossível mudar de rumo e evitar esta recorrente imposição de sacrifícios aos mesmos de sempre: as famílias e as empresas.

Em conclusão, sem emoções, precisamos que os Portugueses escolham um novo Governo que desgraçadamente não tem nenhum espaço para errar, deve ser abrangente e transversal, de modo a representar verdadeiramente a sociedade Portuguesa, e necessita de governar com os vários actores sectoriais, sejam professores, juízes, autarcas, empresas e cidadãos, com uma liderança consciente da realidade actual e ambiciosa sobre as metas para o futuro de Portugal.

Quanto à experiência governativa, considerando o histórico traçado, quanto menos melhor, uma vez que a experiência de governo se poderia confundir com cadastro político. Exige-se, sim, experiência de gestão de organizações, conhecimento dos problemas dos portugueses e lucidez para envolver toda a sociedade portuguesa, num projecto de mudança nacional.

 

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