José Miguel Júdice é um fantástico candidato à Câmara Municipal de Coimbra

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Foto Luís Carregã

Em 2007 deixa Coimbra e aceita o desafio da Microsoft Portugal, em Lisboa. O que o levou a dar este passo?

Efetivamente, em Agosto de 2007 entro na Microsoft Portugal. Todavia, a ausência gradual de Coimbra verificou-se desde 2005, altura em que assumi a presidência da Fundação para a Divulgação das Tecnologias da Informação. Sem prejuízo de ter mantido durante esses dois anos a ligação à CAPA – Sociedade de Advogados, de que sou sócio em Coimbra. Desejava mudar de vida! Ora, a Microsoft é a maior empresa de tecnologia do mundo e tem a inovação no seu ADN. É uma referência académica e é também uma companhia referência na área de responsabilidade social. Foi um desafio absolutamente inquestionável.

Desencantou-se com Coimbra?

Não. Não me desencantei com Coimbra. Desencantam-me algumas pessoas e características de Coimbra. A cidade é fruto de quem a dirige, no fundo, de quem a protagoniza. Existem de facto, alguns responsáveis que conduziram a que, hoje, esta não seja mais a terceira cidade do país, não seja mais o pólo de referência académico, não seja mais um pólo de referência em determinado setor empresarial. Coimbra está um pouco perdida e reencontrar-se é o maior desafio da cidade a curtíssimo prazo.

Fala em responsáveis. Políticos?

Eu diria que há uma quota parte de responsabilidade de todos os cidadãos. Mas, de facto, os dois principais partidos, que manifestamente têm governado a cidade desde o 25 de Abril, têm uma grande quota parte de responsabilidade. Porque eles próprios não se conseguiram regenerar e, por isso, não conseguem reproduzir positivamente esse efeito de mudança junto daquilo que é o contexto e o meio, designadamente na cidade e na região.

Coimbra não está, então, em boas mãos?

Diria que Coimbra deveria e poderia já estar em melhores mãos, mas para isso teria que existir gente disponível. E essa é a grande questão. As pessoas deixam de estar disponíveis a partir do momento em que as oportunidades surgem num outro contexto geográfico e passam a organizar as suas vidas profissionais e familiares fora de Coimbra. Isso é absolutamente evidente no que respeita à minha geração. Hoje, conheço gente das mais diversas áreas políticas e de formação profissional a viverem nos quatro continentes com elevadíssimos desempenhos profissionais, com enormes méritos e que, no que respeita a Coimbra, são absolutamente indiferentes. Também porque Coimbra não chama por eles.

O que pode Coimbra fazer para inverter essa realidade?

Coimbra tem que perceber, em primeiro lugar, o que é que quer ser hoje. E só depois pode compreender mais facilmente para onde pretende caminhar amanhã. E para isso importa fazer desde logo um profundo exercício de reflexão. Deve perceber se quer continuar a ser uma cidade de serviços, designadamente públicos; se quer ser uma cidade de indústria com elevado índice tecnológico; se quer ser uma cidade profundamente dedicada ao saber e ao conhecimento; se quer ser um pólo de atração regional ou uma pequena urbe de média dimensão? E Coimbra tem capacidades para ser o que quiser. Tem condições históricas e culturais. Tem património e capital humano intrinsecamente bom.

O que falta, então?

A Coimbra falta, sobretudo, liderança. Repito: liderança. Quando, por exemplo, em Coimbra se constroem pequenos pólos tecnológicos e num raio de 30/40 quilómetros há outros pólos tecnológicos que já são nacional e internacionalmente reconhecidos não só não se está a olhar para o erário público, como também não estão estrategicamente a compreender o que se está a passar. Quando em Coimbra, a universidade se fecha sobre si própria e esquece que também num raio de 70/80 quilómetros há outra universidade internacionalmente reconhecida, em áreas de inovação, não compreendendo que todos tinham a ganhar se se juntassem num importante pólo universitário com dimensão ibérica… Em suma, o que falta a Coimbra é o que falta a Portugal, dimensão e escala. De que servem, por exemplo, estas pequenas associações comerciais e industriais que proliferam como cogumelos, quando se devia perceber que a única solução para as empresas portuguesas é a internacionalização?

Como pode Coimbra fazer as coisas de maneira diferente?

A cidade tem que definitivamente se sentar com a universidade e vice-versa. Depois, sentarmo-nos todos com os distritos à volta. A União Europeia facilitou-nos a vida forçando a organização em unidades administrativas regionais. Porém, a verdade é que nós só nos organizamos regionalmente, quando é para sacar dinheiro a Bruxelas. É curto e já percebemos que isso resulta muito pouco. É preciso ambicionar mais.

A regionalização poderia ajudar Coimbra e o Centro?

Acredito profundamente que a regionalização é uma reforma administrativa necessária para o nosso país. Na exata medida em que acredito também que não precisamos de ter as centenas de municípios e os milhares de freguesias. Isso implica aglutinarmos freguesias e concelhos e criarmos modelos de organização administrativa, política e económica, por consequência, regionais. Já não estamos a falar da mesma regionalização de 1997/1999, do tempo dos referendos. A realidade é outra, porque o país evoluiu e, forçosamente, as soluções têm que ser diferentes também.

Por que acha tão difícil avançar com uma medida que é considerada fundamental?

Já reparou que os partidos vão perder patamares de distribuição de regalias e de lugares? Quando acabarem as freguesias acabam lugares para as juntas; se acabarem municípios, acabam candidatos a presidentes de câmara. Essa é a primeira verdade. Em segundo, os cidadãos ainda não perceberam as virtudes dessa discussão e dessa reforma. Portanto, estão alheados e estando alheados, não pressionam. E nesta fase da nossa vida também, com tantos constrangimentos, diria que as reformas administrativas são as que ficam para último lugar.

Acredita que este novo reitor poderá dar um contributo para que a universidade se sente à mesa com a cidade?

Eu acho que este novo reitor tem, até pelo seu percurso académico e de vida, a obrigação de dar um abanão na Universidade de Coimbra. É um homem de vocação tecnológica, a quem a palavra inovação diz muito, que tem um percurso de vida e familiar muito curioso, com ligações a preocupações ambientais de longa data. Por tudo isso, acho que o magnífico reitor João Gabriel Silva tem todas as condições para poder tirar o mofo e algum espírito naftalina que existe na Universidade de Coimbra.

E em relação à câmara. Quem gostaria de ver liderar esse processo?

Aquilo que eu gostaria francamente de ver e que acho que mais ano menos ano, é forçoso que aconteça, seria uma candidatura independente, mas independente mesmo. Coimbra precisa verdadeiramente de alguém que não tenha um compromisso partidário evidente, mas que tenha, sobretudo, um compromisso com a cidade. Alguém que tenha um percurso de vida, académico ou empresarial e, sobretudo, cívico absolutamente inquestionável e que esteja naquela fase da vida em que lhe seja permitido dizer tudo. Sem dependências de modo a que, face a Lisboa e ao Poder Central, possa defender os interesses da cidade.

Um nome para esse perfil?

Sem dúvida que aquele é o perfil que acho adequado para o presidente da Câmara de Coimbra. E reconheço que é muito difícil de encontrar porque nos principais partidos, a começar pelo Partido Socialista em Coimbra, existem muito poucos que se encaixem nesse perfil. Mas, também, porque o partido nunca quis que existissem. Arriscaria dizer, de consciência muito tranquila, que uma figura como a de José Miguel Júdice era, do meu ponto de vista, um fantástico candidato à Câmara de Coimbra. Tem ligações familiares históricas à cidade, é um empresário, bem como a sua família, reconhecido, que nunca deixou de investir nesta cidade e num setor estratégico. É independente de espírito e já o provou por diversas vezes, está numa fase da sua vida em que lhe é permitido dizer tudo e tem um profundo amor a Coimbra. Hoje é perfeitamente equidistante dos vários partidos. Acredito que quando se trata da gestão de uma cidade, as questões de esquerda e direita não são determinantes. E no estado a que nós chegámos em Coimbra, não podem ser essas a discriminar negativamente quem pode ser protagonista da mudança. Dir-lhe-ia nomes da esquerda à direita que considero interessantes para protagonizar este projeto. Mas o que eu sonhava era um dia poder existir uma espécie de “melting pot” político em que diferentes figuras, de diferentes origens partidárias e cívicas se pudessem juntar e emprestar o seu tempo e dedicação à cidade. Considero que há dezenas de pessoas disponíveis para isso. É preciso que se queira juntá-los.

Hoje volta a aceitar outro desafio da Microsoft no Brasil. É uma responsabilidade maior?

É verdade que a responsabilidade é maior na exata medida em que estamos a falar de um país extraordinariamente grande e hoje uma das maiores potências. É um desafio fantástico porque nos próximos anos, o Brasil vai ajudar a definir e a influenciar a agenda de inovação mundial. Sendo um país ainda com enormes assimetrias e imensas coisas por fazer, está num caminho absolutamente singular de desenvolvimento. Por tudo isso, este é um momento muito interessante para um português poder assumir funções naquele país e numa empresa com esta natureza.

Esta escolha poderá afastá-lo de Coimbra?

Este é um projeto por tempo indeterminado e, portanto, alguns podem ficar descansados que eu não volto tão cedo. Mas, a distância vai permitir-me fazer leituras mais objetivas da minha cidade e do meu país.

Foi deputado por Coimbra. O melhor e o pior dessa experiência?

Infelizmente, é mais fácil dizer o que não gostei. Antes de mais gostaria de sublinhar que não sou deputado há nove anos, que há nove anos que eu não tenho cargos políticos nem partidários. Mas não me afasto nunca do exercício da minha cidadania, por muito que isto custe a alguns. Passados todos estes anos, de facto o Parlamento continua a não estar sintonizado com aquilo que são a maior parte das preocupações dos cidadãos, continua a ter uma agenda e um modo de funcionamento muito peculiar que a esmagadora maioria dos portugueses não compreende, continua a ser cometida a injustiça de a imagem que muitas vezes passa para o público ser feita por jornalistas que esquecem que isso também contribui para a degradação do próprio Parlamento. Mas fiz alguns bons amigos nos mais diversos partidos, e isto, é sabido por quem por lá passou, não é fácil. Este é um dos elementos que mais guardo na memória. Diria que outro foi, naturalmente, a experiência de vida que alguém com vinte e poucos anos teve ao assumir responsabilidades profundamente republicanas de representar os seus e de tentar fazer o melhor por aqueles que em nós confiam. Esse sentido da responsabilidade e sentido republicano de que Fernando Valle tanto falava, eu mantenho-o bem guardado.

Gostava de voltar à política ativa?

Não.

Está desencantado?

Sobretudo com alguns dos protagonistas. Para podermos intervir civicamente não temos forçosamente que intervir nos partidos. E mesmo estando nos partidos, não temos forçosamente de ser candidatos ao lugar A ou B. Dá-me um prazer profundo continuar a discutir com amigos que tenho dentro e fora da política e não prescindir de exercer os meus direitos de cidadania que são intransmissíveis.

Se não tivesse começado tão cedo na política, hoje a resposta seria a mesma?

Se não tivesse começado tão cedo, hoje não estaríamos a falar de política por que o caminho teria sido, porventura, outro.

Porquê o PS?

O PS é o partido no qual eu ainda, e apesar de tudo, me revejo em absoluto. Cada vez mais pela sua história e se calhar um pouco menos pelo seu futuro, mas ou é ali ou em lado nenhum. Acho que os partidos todos sem exceção, deveriam dar um salto qualitativo para uma reforma profunda. E eu gostaria que o PS fosse o primeiro. Repare-se no que aconteceu nos países do Médio Oriente e nos países árabes e que um destes dias será aqui dentro das nossas portas. As reformas fazem-se não pelos próprios partidos. Começam a surgir na rua, com movimentos nas redes sociais, por gerações que não têm sequer background político. Em Portugal, começaram a ser convocadas manifestações pelo Facebook e Twiter. Isto são sinais que os partidos ainda não conseguiram compreender. E quando começarem a entender e, instintivamente, a querer controlar, já vai ser tarde. Nós europeus, que estamos a viver uma crise profunda da Europa, não estamos livres de nos acontecer algo idêntico ao que se passa neste momento no mundo árabe. A extrema direita, em França, vai à frente nas sondagens para as presidenciais. E as pessoas não estão nem aí.

José Sócrates ainda tem condições para se manter à frente do Governo?

Acho que ele tem toda a legitimidade eleitoral. Mas a questão é que já não se trata do José Sócrates, do Passos Coelho, do Paulo Portas ou do Louçã. Hoje, o contexto é muito mais forte do que a personalidade ou o indivíduo que nos governa.

Mas os principais protagonistas ainda não perceberam isso?

Não, na verdade parece que ainda não perceberam nada. Pela forma como uns e outros se comportam e se comunicam, parece que se mudássemos de protagonista mudaria o contexto, e isso não é verdade. E a prova é de que hoje em dia já percebemos que existe mesmo aquela entidade intangível e oculta que se chama mercado. E existe na exata medida em que sempre que nós cá dentro não sabemos comunicar ou sempre que se ameaça uma crise, há efeitos nas taxas de juro e nos mercados. É pena que a maioria deles não tenha compreendido isso e que as agendas individuais e as partidárias se sobreponham ao interesse nacional. Portanto, Sócrates tem legitimidade. As condições são as mesmas que outro teria neste exato momento e nestas circunstâncias.

Qual é a verdadeira realidade do nosso país?

Manifestamente não sei e o problema é que poucos o saberão. Todos os dias somos confrontados com estratégias difusas por isso, diria que hoje dificilmente haverá alguém que possa fazer uma radiografia inequívoca daquilo que é o nosso estado. Sabemos todos que não é nada bom e as soluções passam quase sempre pelos mesmos caminhos ou seja, pelos agravamentos fiscais. E esta não me parece a via mais adequada porque retrair o investimento das empresas, e algum do consumo não ajudará nunca a libertar-nos. Honra seja feita, Sócrates tem uma determinação inabalável e uma energia inesgotável. Não sei se é o caminho adequado. Mas haja caminho.

E por falar em caminho… a sua Académica está no bom caminho?

Bem. Confesso que essa é uma questão que me toca muito. Se há investimento que gostaria de fazer – e fá-lo-ei – é meter-me num avião e vir ver a Académica no Jamor quando formos à final da Taça de Portugal. A Académica é o reflexo de tudo aquilo que falámos até aqui. De uma cidade que não cuida dos seus e daqueles que são de Coimbra não cuidam da cidade. O atual presidente José Eduardo Simões é, porventura, a pessoa que tem o melhor palmarés desportivo e uma das melhores heranças enquanto dirigente na Associação Académica de Coimbra. E repare que continua a ser um mal amado. Isto é curioso. Desde logo, o próprio deveria refletir sobre isto. Mas deveríamos todos pensar um pouco no porquê.

O processo judicial que envolve José Eduar­do Simões pode prejudicar o clube?

O processo impacta forçosamente no visado e não acho que devamos confundir as duas coisas. José Eduardo Simões é o presidente da Académica mas não está a ser julgado enquanto tal. E, sejam quais forem os resultados, a Académica já existia antes e vai continuar a existir depois. Mas a verdade é que é hoje uma instituição a que falta muita coisa.

E porque é que a cidade “não cuida” da Académica?

Nos últimos anos, quando a cidade mais esteve envolvida com a Académica foi no período da liderança do saudoso dr. João Moreno. Ele era um carismático e naquele momento foi um líder. E, ainda que os resultados desportivos tivessem sido interessantes, foi de facto um momento em que a cidade se envolveu verdadeiramente com a Académica. Considero que não tem havido nos últimos anos da parte da autarquia o reconhecimento da importância estratégica que a Académica tem e pode ter para um projeto de cidade enquanto entidade de formação cívica, de formação social. Um município é gerido por uma autarquia e esta tem estado manifestamente desinteressada face ao que se passa na Associação Académica de Coimbra – OAF e até na outra, na velhinha Associação Académica. Eu diria que os principais responsáveis estão na praça 8 de Maio.

Vai descansado com o atual treinador?

Vou muito mais descansado do que com o anterior. Temos que dar o benefício da dúvida a um treinador que acaba de chegar, dar-lhe confiança e acreditarmos todos que é possível. E, sobretudo, reverter uma situação de uma época em que foi um dos melhores inícios de sempre e que de um momento para o outro a equipa quebrou. O melhor exercício de reflexão é tentarmos entender o que é que se passou. Nós na Académica estamos habituados a sofrer até ao fim e por isso a melhor prenda seria irmos à final do Jamor e revalidarmos a Taça de 39. Era absolutamente fantástico.

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