Fábricas fantasma substituídas por indústria tecnológica e comércio

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17 anos já era comum dizer-se que Coimbra vivia à sombra da universidade. Podia ser verdade em várias áreas, mas no setor empresarial isso não acontecia, ao contrário do que se regista agora. Não quer dizer que essa mudança de paradigma seja negativa, mas na época, a grande maioria das unidades industriais ainda se desenvolvia em meio próprio, enquanto atualmente este tipo de empresas está cada vez mais ligado à universidade: ou porque surgiram na incubadora do Instituto Pedro Nunes e no Biocant (em Cantanhede), ou porque são lideradas por docentes da universidade e politécnico, ou porque beneficiam de investigação universitária ou porque têm apoio dos meios académicos no desenvolvimento de projetos.

É a demonstração de que vertente tecnológica das indústrias emergentes é cada vez maior, substituindo progressivamente as indústrias pesadas de mão-de-obra intensiva.

Abate dos têxteis e cerâmica

As fábricas de têxteis e de cerâmica, que povoavam várias zonas da cidade como Fornos, Eiras, Estrada de Eiras, Pedrulha, Coselhas, Taveiro e Antanhol, fecharam quase todas, dando lugar, nessas ou noutras zonas, a empresas de cariz tecnológico. São empresas modernas como a farmacêutica Bluepharma (antiga Bayer), em São Martinho do Bispo, Critical Sofware (que nasceu na incubadora do IPN, passou por instalações na Solum e construiu uma infraestrutura de raiz em Taveiro), ou Olympus Portugal, de material fotográfico com sede nos Fornos.

Na área privada da saúde, também foram feitos investimentos avultados nestes 17 anos, de que se destaca o Centro Cirúrgico de Coimbra, (junto à via rápida de Taveiro), por iniciativa de nomes consagrados da medicina como António Travassos, Joaquim Murta e Linhares Furtado. Inaugurado a 4 de julho de 1999, foi sendo depois ampliado, com a construção sucessiva de dois outros edifícios, em 2007 e 2008.

Setor privado da saúde

Entretanto, a Clínica de Montes Claros sofreu obras de modernização enquanto a Casa de Saúde Santa Filomena (Sanfil), na Av. Emídio Navarro, anuncia obras para breve. A Casa de Saúde “Coimbra”, na rua da Sofia, espera por uma profunda requalificação. Ainda na área da saúde, o cluster da cidade foi enriquecido por uma forte aposta do Centro de Tomografia Computorizada Diaton, que comemorou em 2010 três décadas de existência, tendo já que construído um edifício modular nos Olivais.

A prestação privada de cuidados de saúde e as ciências médicas e biomédicas têm sido, efetivamente, uma alavanca de desenvolvimento económico do concelho, anunciando-se para breve a abertura do Centro de Diagnóstico Integrado de Coimbra, na circular Externa dos hospitais, exatamente nas instalações da antiga fábrica Ideal que foi há falência nos últimos anos.

Ruínas à beira-rio

Um outro edifício da têxtil Ideal, na travessa do Arnado, é um dos piores exemplos de arqueologia industrial, marcando negativamente a paisagem da beira-rio, sem que se vislumbre uma solução para aqueles terrenos. Todavia, o território da cidade mais marcado por edifícios fantasma de fábricas abandonadas é, a norte, a zona da Pedrulha, onde existiu até 2002 a fábrica da Cerveja Topázio e Onix, as unidades industriais de bolachas e massas da marca Triunfo e o gigante da louça sanitária Estaco.

40 hectares por requalificar

Ao todo, o polígono industrial em causa estende-se por 40 hectares, incluindo ainda os terrenos do antigo matadouro e da ex-Termec, para os quais há um plano de pormenor, que passaria pelo relocalização da Estação Velha, caso o projeto do TGV avançasse.

O setor da cerâmica foi um dos mais sacrificados pela mudança de paradigma industrial operado no país e na região nos últimos 17 anos. As fábricas foram à falência e os trabalhadores, mais de uma década depois, continuam sem receber as indemnizações devidas. O dirigente sindical Jorge Vicente recorda o encerramento da Estaco em Outubro de 2001, que deixou 420 trabalhadores no desemprego, mas que ainda têm para receber 6,5 milhões de euros, de um total de 18 milhões de dívidas da antiga fábrica.

Ainda neste setor, recorde-se o encerramento da Sociedade de Porcelanas de Coimbra no centro da cidade, a Miderâmica, na estrada de Eiras, desaparecida em 2005, a Ceres, nos Fornos, (que chegou a ter meio milhar de trabalhadores e só fechou as portas definitivamente no ano passado) e a Poceram, em Cernache, que encerrou sensivelmente na mesma altura, com dívidas de 21 milhões de euros e 153 operários no desemprego.

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