Aires Antunes Diniz
Desde sempre a ciência de Coimbra foi questionada tanto pelos alunos como pelos próprios professores. Mas, isso não importava. O importante era reproduzir os quadros da monarquia e mais tarde os da República, que logo aproveitou para alterar o ensino médico e criar duas faculdades de Medicina em Lisboa e Porto. Também por essa altura foi criado o ensino da Engenharia com a autonomização do curso superior de Engenharia do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa no Instituto Superior Técnico. Também o curso superior de Comércio se autonomizou, transformando-se nos cursos de economia e de finanças nas suas múltiplas variantes conforme as idiossincrasias locais.
Coimbra manteve-se limitada aos cursos tradicionais, permitindo que muitos dissessem na hora de partida. “De Coimbra, não respirarei mais nem os ares nem a ciência dos lentes, por higiene. São expressões de repúdio de um tipo de ensino que ainda agora se mantém nalguns cursos, mas outros atingem já níveis de excelência que tornam injusta este tipo de apreciação.
De facto, a introdução dos cursos de Engenharia na Universidade de Coimbra transformaram-na radicalmente, dando-lhe maior inserção no mercado de trabalho, que infelizmente é estreito na nossa região. Antes, as falhas no sistema educativo coimbrão facilitaram o descalabro da economia local e nacional. Foi o caso do ensino da veterinária e da agronomia, pelo que não existiu na Universidade excepto com Brotero, embora antes alguns o tivessem pensado e proposto. Outras artes como a Música existiram efemeramente quase só através de José Maurício, que foi lente desta cadeira nos inícios do século XIX, perdendo-se depois a memória deste ensino.
De facto, o reitorado do professor engenheiro Seabra Santos correspondeu em quase todas as faculdades à quebra deste tipo de paradigma, caracterizado pelo imobilismo e servilismo em relação aos poderes constituídos. Contudo, muitos continuam enconchados em imobilismos que ouço criticar aos meus amigos cientificamente mais competitivos. Outros sentem-se incomodados pelas novas exigências da carreira docente. Outros ensaiam até formas de lhe escaparem.
Contudo, a competitividade a que somos obrigados pela Estratégia de Lisboa impõe-nos a inserção activa “na economia do conhecimento mais competitiva e dinâmica do mundo, antes de 2010, capaz de um crescimento económico duradouro acompanhado por uma melhoria quantitativa e qualitativa do emprego e uma maior coesão social”, obrigando à manutenção e ao reforço destas regras.
Infelizmente, a austeridade cega que atinge a nossa cultura e ciência faz perigar o cumprimento destes objectivos, obrigando os decisores a escolhas do tipo “entre sila e caribdes”. Esperemos que sejam felizes.