Coimbra fez perder 180 mil euros em receitas

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Foto Gonçalo Manuel Martins

P – Qual é o grande trunfo do Centro em termos de turismo?

R – O Turismo Centro de Portugal ou a marca Centro de Portugal é mais-valia no conjunto nacional e internacional pelo conjunto de produtos turísticos que encerra e que diferencia a oferta turística desta região. É uma região heterogénea, no território, nas marcas e nos produtos. É provavelmente, a única região do país que pode oferecer sol e neve no inverno; sol e mar nos meses de verão.

P – Mas isso não chega para cativar turistas?

É certo. Por isso temos identificados oito produtos de excelência. Termalismo, saúde e bem-estar que tem no Centro, provavelmente, o maior parque de balneários termais e de melhor qualidade. Uma região riquíssima em gastronomia e vinhos, desde a carne ao peixe, desde a doçaria conventual aos queijos. Um património cultural edificado fantástico, desde os castelos e muralhas medievais até à Arte Nova. Temos no náutico e o golfe. Juntando a isto, há um conjunto de marcas que estão na memória coletiva, como o Luso, o Buçaco ou a Curia. Mas temos hoje novos nichos que se começam de alguma forma a projetar e a potenciar a marca Centro de Portugal. Pensarmos numa Aveiro mais moderna, numa Viseu que há dois anos recebeu o galardão de uma das melhores cidades para viver; Castelo Branco com uma afirmação completa no âmbito do turismo de natureza, com o Geoparque Naturtejo; Coimbra com o seu património edificado e universidade.

P – A região tem Coimbra, mas a Turismo Centro de Portugal não…

É um namoro longo que ainda não deu em casamento. Mas é importante para Coimbra estar na Centro de Portugal e vice-versa. Não é pensável que uma marca turística não integre uma pequena parcela desse território que promove. Porque Coimbra tem um valor intrínseco criado não apenas pelo seu património mas pelo ativo que tem hoje em muitas instituições de onde se destaca a universidade. Mas também porque os recursos financeiros hoje não são tantos que nos possamos dar ao luxo de cada um de nós ter uma empresa municipal ou ter uma estrutura para promover o turismo quando outros o podem fazer, e bem.

P – Quem perde mais?

Do ponto de vista factual, perdemos todos. A Turismo Centro de Portugal perde uma arrecadação de receita anual na ordem dos 60 mil euros. E desde 2008 há pelo menos 180 mil euros que se perderam de receita para a região. O município também perde porque, por força da lei em vigor, não tem possibilidade de se poder candidatar a programas específicos do Turismo de Portugal. Do ponto de vista da promoção, também aqui tem que haver bom senso. Continuo a achar que da mesma forma que a Turismo Centro de Portugal foi solidária com Coimbra durante estes três anos perdendo receita mas promovendo, chegou a hora de Coimbra ser solidária não com a Turismo Centro de Portugal mas com a região Centro.

P – A mudança de presidente pode promover o casamento?

Eu julgo que muita da decisão de não adesão recaía sobre a opinião pessoal de Carlos Encarnação.

P – Quando se fala em Centro está a falar-se numa realidade mais ampla do que a entidade de Turismo do Centro. Como é feita a promoção da marca?

R – O Centro de Portugal que nós identificamos com a NUT II Centro tem duas organizações distintas. Na promoção interna, a Turismo Centro de Portugal, os pólos da Serra da Estrela e Leiria-Fátima. Na promoção externa a única entidade reconhecida governamentalmente, chama-se Agência Regional Promoção Turística Centro de Portugal que tem sede em Viseu à qual eu também presido. Isso permite-nos fazer um trabalho mais validado de promoção, rentabilizar meios, dar coerência a uma estratégia de afirmação da marca Centro de Portugal e fazer uma afirmação no todo do território e dos produtos nos mercados externos. Quando estivemos em Amesterdão ao lado de cerca de 60 países em afirmação da marca Centro de Portugal e do nosso país, no âmbito do turismo de natureza; quando estamos na FITUR, em Madrid, e concorremos com 140 países, percebemos bem que é importante uma visão integrada do território e dos produtos. Quando vamos, no próximo dia 9 de março, para Berlim e concorremos com 177 países no mesmo certame, então percebemos quanto é a pequenez e às vezes alguns egoísmos e individualismos que traduzidos na prática são perfeitamente irrelevantes no contexto do mercado internacional. Uma das primeiras conquistas que a Turismo Centro de Portugal alcançou é o facto de ser hoje reconhecidamente uma instituição incontornável no panorama turístico regional e também no contributo que dá para a marca Portugal.

P – O que contribuiu para essa conquista?

R – Pensarmos hoje a instituição Turismo Centro de Portugal e o trabalho que desenvolveu nestes últimos dois anos pode ser facilmente explicável e comprovado em meia dúzia de projetos que lideramos. Um dos projetos de referência é o consórcio que estabelecemos para tornar possível o investimento de nove milhões de euros em 2010 e 2011 através de candidatura ao QREN e que a Turismo Centro de Portugal lidera a par das outras quatro entidades da Serra da Estrela, Leiria-Fátima, Lisboa Vale do Tejo e o Oeste e em parceria com a CCDR Centro. O segundo projeto que temos em parceria com a recém-apresentada Agência para a promoção dos Castelos e Muralhas Medievais e que envolve sete municípios, mais a universidade e o IPN. Um terceiro projeto que se chama “Caminhos da Espiritualidade” entre Coimbra e Ourém, com os municípios do Sicó, a CCDR Centro, o pólo Leiria-Fátima. O Promar – um projeto de cerca de meio milhão de euros e em que iremos estar na linha da frente com a comunidade intermunicipal da Ria de Aveiro. Vamos ser responsáveis pela promoção da marca Dão-Lafões. Por tudo isto nós somos hoje um parceiro que reconheceu e alcançou também o respeito internacional das outras instituições.

P – A presença de municípios e empresas municipais em eventos como a BTL é sinal de falta de estratégia?

R – Ainda precisamos de evoluir muito na cultura da promoção, da animação e de procura de uma identidade turística para a região. A BTL, do ponto de vista da FIL, é um bom negócio para quem paga o metro quadrado. Por isso, para a FIL é desejável que mais instituições, inclusive juntas de freguesia possam estar presentes. Para a cultura de marca turística é evidente que tudo o que possa dispersar a atenção de uma estratégia integrada de cultura, fragiliza. Embora no mercado nacional se possa pensar que o estar presente ajuda a que as pessoas conheçam melhor, no mercado internacional essa é uma pura mentira. Tenhamos consciência da nossa dimensão e da nossa pequenez. Um cidadão olha para o mundo inteiro quando pensa em férias. E nós, honestamente, temos também outras questões com que nos devemos preocupar. Pensar que os municípios não têm todos o mesmo grau de desenvolvimento, por exemplo.

P – E qual é a missão do Turismo Centro de Portugal?

R – É fazer com que as oportunidades possam vir para todos. O individualismo nunca contribuiu para acrescentar valor à comunidade. Contribui muitas das vezes para nalguns casos, infelizmente, aumentar vaidade individual. E para aumentar a heterogeneidade e a discrepância entre os que têm e os que não têm. Considero, então, que há um caminho a fazer na criação de uma cultura turística do Centro que já existe para muitos outros setores de atividade.

P – Quais são os principais problemas do Centro?

Desde logo, essa alta de cultura de marca. A marca Centro é ainda hoje pouco implantada no panorama. Porque viveu muitos anos à volta desses pequenos individualismos. O Centro foi aquela região onde havia mais regiões administrativas individualizadas e proliferação de marcas. Hoje, as coisas começam a seguir outro caminho e os investimentos que estamos a fazer provam-no. Mas não podemos esquecer que somos um território com uma grande heterogeneidade – para o bom e para o mau. Temos municípios com uma grande capacidade turística e outros, no Interior, que não têm respostas. Mas temos ainda o problemas da sazonalidade que temos que contrariar. O caso do Festival da Lampreia é um dos projetos para atrair turistas noutros meses do ano.

P -Várias têm sido as respostas lançadas. Quais são os resultados?

São, sem dúvida, francamente bons quando estamos a falar de anos de crise. Tivemos um crescimento de 6,4 por cento em 2010, por comparação com 2009, num ano particularmente difícil. Crescemos mais 131 mil hóspedes. Aumentámos cerca de 178 mil dormidas o que se reflete no aumento de cerca de 189 milhões de euros nos proveitos globais. Um outro aspeto relevante é que mais de 73 por cento das unidades hoteleiras do Centro pediram a sua reconversão, o que qualifica a nossa resposta em termos de alojamento. Por fim, gostaria de sublinhar o facto de acompanharmos mais de 100 projetos novos de investimento na marca Centro Portugal. Estaremos hoje muito acima da fasquia dos 100 milhões de euros de investimentos em matéria de turismo em toda a região do litoral ao interior.

P – Ajudava um aeroporto?

Objetivamente sim. Em Portugal, a única região plano que não tem um aeroporto é o Centro. E do ponto de vista económico e imediato, julgo que teríamos condições de discutir a abertura de um aeroporto. É uma estrutura que serviria não só o turismo mas toda a atividade económica.

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