Os “Jettatores”

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Traz-nos a Argentina a ideia de um tempo em que tudo corre mal, onde como caricatura da superstição se atribui a certos indivíduos uma funesta influência magnética – os “Jetattore!, uma personagem criada por Gregorio de Laferrère, um autor teatral (es.wikipedia.org/wiki/%C2%A1Jettatore! acesso em 14/12/2010). Também Albino Forjaz de Sampaio, bom conhecedor deste termo atribui este carácter funesto, a um “nosso estadista, nos seus tempos de Coimbra, não podia acariciar um gato, que o animal não morresse logo. Hão-de concordar que já é ter mau-olhado”. E parecendo ser dirigida a Salazar, refere-se de facto a João Franco que tinha fama de ser um gaticida exímio. Mas, Salazar não tem esta má fama, nem sequer José Sócrates.

Na verdade, João Franco, ditador por para tal ter sido designado pelo Rei D. Carlos I, conduziu em 1908 o país para a República ao dividir as hostes monárquicas. Conhecido pela sua inabilidade nas questões de administração pública, marcou o momento trágico do regicídio e desapareceu politicamente.

Vinte anos depois, em 1928, Salazar, o mago das Finanças, fez aquilo que Franco não tinha conseguido fazer, equilibrar o orçamento ao esmifrar o povo. Mas, conservou o poder e nunca o entregou a um Rei. Usou-o para fazer o país marcar passo, levando-o a um subdesenvolvimento da agricultura e da indústria, que o despovoou. De facto, levou-nos às grandes migrações dos anos sessenta, abrindo caminho para a desertificação a que agora assistimos. Homem funesto marca ainda um pensamento sempre temeroso de quem está no poder, já que muitas vezes usa a ideia de uma sapiência inquestionável que Salazar usou para justificar uma auto-suficiência e afastar dúvidas e que muitos próceres usam como argumento invisível.

Sócrates ocupa desde há mais de cinco anos o poder, primeiro com uma arrogância, que lhe dava a maioria absoluta e agora, a que lhe dá a aliança tácita com uma “oposição de direita” que lhe presta apoio quando necessário. Em qualquer caso, Sócrates tem sido um jettatore que leva continuadamente o país para o desastre, agravando os problemas no sector bancário sem nunca dar solução aceitável aos BPN, nem aos BPP. Nem sequer pensa em cobrar impostos aos que ganham bom dinheiro. Apenas sacrifica os mais pobres e miseráveis, agravando a situação económica. Prossegue sempre implacável na sua marcha para uma situação cada vez mais difícil, sem que nos dê uma mensagem de que os sacrifícios valem a pena. Atraído pelo efeito magnético da pobreza e da miséria, segue um caminho em que tudo se agrava sem que vejamos qualquer final feliz à vista. Nem sequer suportável. Ignorando o real, atribui todo o mal ao mercado de trabalho, esquece que o mercado de capitais precisava bem mais de reforma.

Como “jettatore”, exerce uma influência magnética sobre a miséria e a pobreza, fazendo-nos desejar que o ano que aí vem quebre este seu e nosso mau-olhado.

E parta.

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