Foi necessário acautelar que a cerimónia se realizasse com recato, num local discreto e com proibição de fotografias, para garantir que o primeiro casamento gay em Viseu ocorresse em paz. Foi no sábado passado que dois homens, de 35 e 50 anos, formalizaram legalmente a sua união na presença de uma conservadora da cidade.
O facto, que começa agora a ser encarado com naturalidade no país, reveste-se de contornos específicos nesta cidade, onde se registou em 2005 uma série de queixas de perseguição a homossexuais e ameaças de morte. Nessa altura falou-se que Viseu era a “capital da homofobia”, até porque chegou a sair à rua uma manifestação contra a homossexualidade.
A recente cerimónia do casamento gay registou-se um ano após a aprovação em Conselho de Ministros da proposta de lei sobre casamento de pessoas do mesmo sexo, data que se assinala na próxima sexta-feira, 17 de dezembro, embora a lei n.º 9/2010 só tenha sido publicada a 31 de maio deste ano. Logo a seguir, nas celebrações do Natal de 2009, durante a missa, o bispo de Viseu criticou com veemência a proposta de lei do Governo, considerando-a “infeliz, despropositada e injusta”.
Ao mesmo tempo, na Internet, o bispo D. Lídio Leandro publicou uma mensagem onde lembrava que “o governo de Portugal brindou o Povo Português, nesta quadra natalícia, com uma decisão que é, no conteúdo, na forma e no tempo, um atentado à família”.
Entretanto, parece ter-se operado algumas alteração de mentalidades no que diz respeito à liberdade de orientação sexual de cada um. Um fenómeno reconhecido por Carlos Vieira, da Associação Olho Vivo em declarações ao Diário de Notícias: “a realização do primeiro casamento homossexual numa cidade conservadora mostra que Viseu está mais tolerante e que, também aqui, se cumpre a Constituição”.
Nesta cidade, tal como em outras do país, há agentes de forças de segurança que estão a receber formação da associação Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero (Ilga) Portugal, para atender queixas de situações de ódio contra homossexuais ou transexuais. “A noção que temos é de que há uma subnotificação em geral dos crimes contra as pessoas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgéneros) motivada pela homofobia”, disse, a propósito, Paulo Côrte-Real, presidente da Ilga, que anunciou há cerca de dois meses, as ações de formação.
Paulo Côrte-Real ainda se lembra da milícia anti-gay que perseguia e agredia homossexuais em Viseu há cinco anos. À época, a PSP identificou cinco homens e duas mulheres, com idades compreendidas entre os 20 e os 30 anos, como suspeitos de alegadas ameaças e injúrias.
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