Salvar a Irlanda

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Nos últimos tempos falou-se mais da dívida pública do que nos últimos anos. É tema de conversas e análises técnicas e dá motivo a que se veja o que é hoje a interligação das diferentes economias. Os mercados aproveitam para atacar um a um todos os Estados periféricos e cavam a nossa ruína.

É verdade que esses Estados se habituaram a viver acima das suas possibilidades e o recurso ao crédito é hábito adquirido que esconde o problema. Só que o credor exige que se lhe devolva o empréstimo e isso obriga a que cada País faça um ajuste efectivo da sua economia por forma a recuperar a competitividade desperdiçada.

Os ataques seleccionados aos mercados exigem coordenação europeia, para lá das eleições que cada Estado possa vir a ter, solidariedade sobre o Euro e na defesa da sua base larga de utilização e resolução rápida dos problemas que afectam os Estados periféricos. Assim, salvar a Irlanda dimunuirá a possibilidade de arrastar a desconfiança a outros Estados Membros.

A Irlanda precisa que se financiem os seus bancos, todos fortemente falidos no início da crise que atravessamos e sem condições de viabilidade se não forem apoiados.

Mas também se pede à Irlanda que suba a sua taxa de IRC actualmente em 12,5%, porque constitui uma concorrência desleal à captação de investimento num país carente de consolidar as finanças públicas no imediato. É um verdadeiro dumping fiscal com menos receita, pois a taxa é inferior a metade da média europeia, provocando uma captação de multinacionais estrangeiras ávidas de impostos baixos.

Falo da Irlanda porque é este país que nos está a arrastar para valores de juros da dívida bastante elevados. Quanto mais rapidamente conseguirmos provar que o nosso país pouco se assemelha à Irlanda, mais depressa sairemos da pressão em que os mercados nos colocaram.

Conhecidos, ainda que não na sua totalidade, os dados macroeconómicos da Irlanda mostram que tem um cenário de défice mais de quatro vezes superior ao nosso, uma dívida pública 30 pontos acima da nossa, uma dívida externa incomparavelmente superior e uma economia muito mais dependente do exterior.

O problema português é neste momento mais de natureza financeira do que económica. Os dados conhecidos há dias sobre o crescimento do PIB colocam-nos na média europeia e mostram um país em que as exportações mais cresceram, em valor, em incorporação tecnológica e em diversificação de mercados e produtos.

Pede-se agora que o Orçamento não seja adulterado na discussão na Especialidade a pedido de várias corporações sempre disponíveis na banalização das providências cautelares e que a sua execução não seja dificultada por movimentos sociais de resistência à mudança.

Temos de fazer o trabalho de casa ao longo de 2011 pois só assim evitaremos reformas impostas, tanto mais que a União Europeia começou já dar sinais exigindo alterações à legislação laboral. O que é necessário é que a Europa perceba a emergência de um plano para o equilíbrio das finanças públicas que fomente o crescimento e o emprego.

“É que quem paga manda”. O violento nessa solução não é a recusa em obedecer mas voltar a recorrer a credores que paguem as nossas despesas.

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