Na percepção bem fundada de que alguma coisa vai mudar em breve e que o futuro da igreja de Santa Maria de Coimbra terá de adaptar-se à vida das comunidades que serve, empenha-me a dar este contributo para que ela possa continuar a ser a igreja mãe da Diocese de Coimbra. A função religiosa que nela se realiza faz com que seja reconhecida como igreja aberta ao culto. Para os cristãos é casa de Deus e Porta do Céu.
Construída com materiais que se degradam com o tempo, necessita de obras e obras de grande exigência para a conservar sem alterar. Até ao século XX a entidade responsável por tudo era a Igreja. No século XX o Estado começou a intervir por motivos de clara penúria em que a Igreja vivia e não tinha recursos para conservar condignamente o Património que criou e manteve durante oito séculos.
A concordata entre o Estado Português e a Santa Sé estabeleceu o regime em que a intervenção do Estado se faria em casos como este. O Estado mantém o imóvel e a Igreja ocupa-se da sua animação religiosa.
Veio o turismo e com ele uma nova serventia para as igrejas do património religioso. Mais um campo a exigir acertos e colaborações entre as entidades civis e a Igreja. Temos encontrado caminhos certos e colaborações excelentes.
Há anos encetámos o projecto de dignificação da Sé Velha porque sentimos a necessidade de a tornar mais conhecida, mais atraente, mais amada. O primeiro problema que nos surgiu foi o da própria identidade da Sé Velha. Será ou não a igreja Catedral de Coimbra, a igreja Mãe das igrejas paroquiais, conventuais, capelas, oratórios e santuários de toda a Diocese? Será ela o símbolo da unidade que proclamamos no Credo? Se nas paróquias não há só 1 Bispo não se compreende que possa ter duas Catedrais.
No nosso projecto de dignificação da Sé Velha, foi possível torná-la mais conhecida, cuidar as liturgias com fidelidade, acolher bem os turistas, abrir as portas à cultura e à arte, falta só a confirmação pública da Autoridade diocesana que, a seu tempo, não deixará de se fazer.
A dignificação da Sé Velha há-de completar-se com a identificação das duas catedrais ou Sés numa só. Os actuais dois edifícios que servem ás celebrações diocesanas habituais, além de continuarem a ser sedes de duas paróquias podem valorizar-se com um bom museu a instalar na Sé Nova e com outras valias ao serviço da pastoral diocesana.
Na Sé Velha, por exemplo, poderia integrar-se uma secção de prática pastoral para os candidatos ao Sacerdócio e ao diaconato; uma espécie de paróquia do Seminário onde os alunos poderiam fazer estágios de formação.
Também, dada a sua ligação histórica à Universidade e ao seu valioso património artístico e cultural porque não criar na Sé Velha uma base da Pastoral universitária, talvez com alguma configuração com uma paróquia universitária? Outra iniciativa que poderia integrar-se na Sé Velha seria criação de um centro promotor duma pastoral do turismo com apoio e informação das ciências eclesiásticas para a leitura da simbologia cristã integrada no património religioso.
Outras muitas iniciativas poderão ser incrementadas para que a animação religiosa não fique, apenas, reduzida à vivência paroquial que está sujeita a muitas vicissitudes e incompetências.