Não estão dentro de água nem têm bancadas cheias a aplaudir e a dar-lhes vivas pelos resultados. Não ganham prémios chorudos, nem abrem telejornais: fazem remo indoor.
Fomos ao encontro de 60 aspirantes à seleção nacional, que vai estar em Caminha no próximo mês a representar Portugal no Mundial de remo indoor adaptado… ou seja, para portadores de deficiência intelectual.
Fazem tudo como os outros: usam, igualmente, um ergómetro, chegam até a fazer médias bastante parecidas com os atletas ditos normais… mas não conseguem fugir do rótulo de “especiais”.
Neste caso, o ser especial não é necessáriamente bom, já que as bancadas vazias no dia do Open de Portugal não escondiam a indiferença.
Os jovens (e outros menos jovens) que encontrámos em Montemor-o-Velho, no fim-de-semana passado, encontraram no desporto um veículo para a inclusão.
Todos os meses encontram os adversários, mas, principalmente, amigos, de vários pontos de Portugal e até representam o país, talvez até mais desinteressados e com mais orgulho das cores verde-rubras.
“Antes de mais, já sentem orgulho por representar a instituição. Quanto à seleção nacional, já para nós é um orgulho, quanto mais para essoas com estas limitações”, disse ao DIÁRIO AS BEIRAS o diretor da Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados de Mira (CERCIMIRA), Eduardo Barreira.
No entanto, porque “são alvos de elogios diários, não é fácil lidar com o sucesso e insucesso”. A afirmação é partilhada por Carla Agostinho, diretora da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) de Montomor-o-Velho.
“Qualquer um quer ser o melhor. Cabe-nos limar essas arestas, porque há alguns utentes que têm dificuldade em lidar, fundamentalmente, com o insucesso”, acrescenta a responsável.