Metro descarrilou sem carris!!!

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Confrontamo-nos, diariamente, com as mais desencontradas notícias, abrangendo todos os vectores e valores da sociedade, umas repletas de esperança, outras negras como o tição, outras mescladas de cor de rosa e outras perfumadas como a boa laranja. Uma “salada” diária de opiniões, afirmações e diversões, que retalhada nos seus ingredientes, praticamente não oferece calorias, ou melhor, pretende entreter o intelecto ocupando-lhe parte da sua reserva mental.

Neste contexto de muitas quadraturas, neste “labirinto” de palavras, que procura, geralmente, condicionar e mesmo aprisionar o nosso pensamento, dissolvendo nele o que lemos, ouvimos e vemos, quotidianamente, sublinhamos as interrogações, as afirmações, as dúvidas, os “intermezos”, os desesperos, a ineficácia, o desânimo e a incredulidade, que surgem neste horizonte ilimitado e que desejávamos compreender: a construção do metro de superfície, a moderna (?) mobilidade ferroviária que encurtaria distâncias, reduziria o tempo de desperdício e proporcionaria mais qualidade e conforto ao utilizador.

Um tema com “barbas”, glosado neste longo período de “vazio”, de todas as maneiras, acarinhado e odiado, precursor de mudanças positivas para as populações que serviria e era garante de uma maior valia para o desenvolvimento de três concelhos – Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã – com consequências benéficas, em diferentes áreas, para a região envolvente e para o País.

Mas, continua a ser um sonho, que divulgado, regularmente, nas tais notícias que bebemos, sofregamente, na comunicação social, parece querer manter-se apenas sonho. Hoje, uma página de alegria – o metro entrou nos carris –, amanhã, a desilusão porque houve descarrilamento antes de entrar na linha. E, neste claro/escuro, ora pálido, ora nebuloso, agora brilhante, logo escuridão, esvaem-se os meses e os anos, quantificam-se, mais uma vez, os custos, calculam-se, informaticamente, as pessoas a viajar e a receita que proporciona, E, tendo sido diagnosticada a doença centenária que o consumia, aplicou-se o medicamento para “matar o vírus”: arrancaram-se os carris.

Admiramos a frontalidade, a denúncia e a exigência exemplares para o projecto continuar, do Dr. Carlos Encarnação, presidente do Município de Coimbra e da sua vereação; o inconformismo e a coragem denunciante da presidente do Câmara mirandense, Drª. Fátima Ramos e da sua equipa, um concelho severamente castigado por esta inquietante situação; acrescida das moderadas intervenções do Dr. Fernando de Carvalho, presidente do concelho que melhor identifica o projecto: “linha ou comboio da Lousã”.

E, nesta embrulhada, nesta teia de Penélope, recordamos, com saudade, as nossas viagens de Miranda a Coimbra e vice-versa, quer como utilizadores em idas com os meus pais, em criança, partindo de camioneta da vila do Espinhal para a estação mirandense, deslumbrando-nos, durante o trajecto ferroviário, com os túneis, as pontes e a passagem na Baixa parando o trânsito automóvel, e, mais tarde, já estudantes, a tomar o comboio das sete horas e tal, que permitia assistir à primeira aula da manhã.

Também, por isso, lamentamos que se tenha apagado um passado/presente, um património nacional, em utilização, sem se equacionar a vertente do empreendimento substituto chegar ao fim ou saber quando circularia, novamente, nos carris. O cidadão que é considerado um número árabe, nós somos, apenas, um número em engenharia financeira, que se apaga, se necessário, ficou à mercê do futuro, sendo ele o elemento imprescindível para a existência e funcionamento do Metro.

Por vezes, a realidade que desejamos ver, empalidece a realidade que vivemos, caso deste intrincado e nebuloso projecto. Haverá metro? Entrará nos carris?

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