Deputados pobres

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“Ou é parvo ou está a fazer pouco dos pobres!” – disse a minha filha de 10 anos ao ouvir as palavras de Ricardo Gonçalves, deputado da Nação e dirigente nacional do PS. “Eu e muitos deputados da província quase não temos dinheiro para comer”. Histórica declaração de um provinciano representante do povo! Propõe o eleito que a cantina da Assembleia da República esteja aberta à hora de jantar, desse modo acudindo aos pobres deputados, exauridos nos seus proventos.

Ó Gonçalves, Ó Gonçalves! Qual Morgado em tempos idos! Varão esse que de sexual petisco manducara poucas vezes e que sendo pai de um só rebento, da procriação, prova do truca-truca, só usara – parca ração – uma vez! Ficara capado o Morgado, no imortal poema de Natália Correia.

Eis agora o Gonçalves! Faminto! Paupérrimo! O deputado do PS argumenta que aufere somente 3700 euros por mês, mais 60 e picos diários de subsídio de refeição! O professor de filosofia com dez anos de serviço que lhe garantiriam um vencimento de mil e poucos euros não ficará rico como deputado. Dispense-se a demagogia! Há deputados e ministros que ficam ricos, depois de um estagiozito em cargo público são promovidos a administradores de uma dúzia de empresas, recebendo de vencimento em cada uma várias vezes mais do que antes.

Ricardo Gonçalves maltratou os portugueses. Cuspiu na sopa de milhões de pobres. Ofendeu a D. Alda que recebe 300 euros e tem cinco filhos por criar, uma renda de casa, água e luz para pagar. E os filhos precisam de comer! “O quê, D. Alda?” “Arroz, massa, sabe Deus.” Deus sabe, Gonçalves não! A D. Ester, reformada, sem dinheiro, enche a barriga de fome. Os comprimidos para o coração, diabetes e que sei lá, deixa-os na farmácia. Não há dinheiro…

Gonçalves insulta os seus colegas professores e a classe média que faz contas à vida todos os dias e não janta à conta do Estado.

Gonçalves devia ter visitado a casa da D. Bina. Paredes a ruírem, tecto a cair, pele de cobra dependurada das traves do telhado e contudo uma dignidade imensa que não se rendia, “naperons” e “bibelots” espalhados pelo casebre, um cheirinho a sopa que não esquecerei. Gonçalves nunca viu casebres ou barracas. Não conhece Binas. Gonçalves não cheira, não vê, não sente.

Gonçalves: puf, nada! Gonçalves nunca entenderia o mar de alegria no olhar da D. Bina, feliz por agora ter um tecto digno. Gonçalves não cheira sopas de pobres, nem sente o desespero dos desempregados ou o sofrimento dos reformados. Gonçalves está convidado – convido-te, ó Ricardo! – a acompanhar-me nos atendimentos aos munícipes de Coimbra! Talvez então descubra Portugal! – Se gritares, se chorares, se vomitares, não será por isso que te levarei a mal, ó Gonçalves!

Há muitos milhões de portugueses a viverem na merda! A vida é vernácula! Gil Vicente não te perdoava, ó Gonçalves! O que diria Natália Correia?

Há um povo inteiro e digno, cansado da miséria, esgotado de sonhar com dias melhores. Desesperado. E há fome!

Ó deputado Gonçalves – há muita fome e há uma soberba desmedida!

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