“Café e Saúde”

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Há pouco tempo, ao abrir um exemplar da revista da Ordem dos Médicos, caiu-me nas mãos uma pequena brochura em anexo com o sugestivo título “Café e Saúde”. Ao analisar o suplemento verifiquei que continha uma súmula de artigos, de entrevistas e artigos de opinião sobre o café. Nada de novo, porque há muito tempo que se sabe do papel do café relativamente a certas patologias.

O que me surpreendeu, confesso, foi o facto de um suplemento dedicado a um tema tão específico ter “aproveitado a boleia” da revista oficial dos médicos e que deverá ter chegado aos cerca de 38.000 profissionais inscritos na ordem. Poderão dizer: – É uma forma como qualquer outra de informar os mais distraídos e esclarecê-los quanto ao papel benéfico do café. – Hum!! Leio o artigo de opinião, o primeiro, e verifico que os portugueses bebem em média “apenas” 3,09 kg de café per capita por ano, enquanto os europeus consomem 5,79 kg e os finlandeses chegam mesmo aos 13 kg por pessoa/ano. Ou seja, “bebemos menos 35% de café que a média europeia”! Concluo – talvez seja um pouco precipitado da minha parte –, que haverá “interesses” em fomentar o consumo de café numa perspetiva médica. Quais as indicações médicas de tão apreciado produto? O café protege o fígado da cirrose alcoólica, protege os consumidores do cancro, a cabeça da demência, as artérias da aterosclerose, isto só para falar de algumas. Não tarda e ainda vamos ouvir conversas de treta para bebermos dois a três ou até quatro cafés por dia, mas só do… Aqui, faço um parêntesis, porque gostava de saber quem são os promotores deste suplemento. Considero ridículas estas iniciativas e ainda por cima à boleia de uma revista como é a da Ordem dos Médicos.

Agora, espero, pacientemente, receber novos suplementos com os mais variados títulos: “Vinho e Saúde”; “Cerveja e Saúde”; “Água e Saúde”; “Pão e Saúde”; “Margarina e Saúde”; “Alho e Saúde”; “Cebolas e Saúde”; “Tomate e Saúde”; “Morangos e Saúde”; “Amoras e Saúde”; “Azeite e Saúde”; “Vinagre e Saúde”; “Sardinhas de escabeche e Saúde”; “Bacalhau e Saúde”; “Maçãs e Saúde”; “Chá e Saúde””; “Bagaço e Saúde”; “Feijão-frade e Saúde”; “Tabaco e Saúde”; “Masturbação e Saúde”; “Lagosta e Saúde”; “Fuga aos impostos e Saúde”. Bom, o melhor é parar por aqui, porque são temas capazes de preencher as próximas vinte edições da revista da Ordem dos Médicos, e pode ser que possamos ficar mais cultos, mais informados e alguns mais ricos…

Meu Deus, a saúde serve para muitas coisas, até para aumentar o consumo de um produto de que eu gosto tanto, o café. Só espero que os vendedores promovam a venda de café de boa qualidade, porque beber um café saboroso é coisa rara. Não preciso que me aconselhem a beber café, o que eu queria era beber café do bom, muito bom, daquele em que ao fim de duas horas ainda possa “senti-lo” na boca, no olfato, no cérebro, como se fosse uma longa onda de prazer. Espero que numa das próximas edições de “Café e Saúde” possa ler os locais onde encontrá-lo. Descansem que eu vou lá mesmo, pelo prazer anunciado da bebida e não pela saúde que me possa propiciar.

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