É claro que para a condição de Lisboa como condomínio fechado nós damos um bom contributo. Todo o país anda a ajudar. Não é só a descapitalização feita durante décadas para empreendimentos lisboetas de duvidosa qualidade e nulo retorno regional, é sobretudo uma questão psicológica. Que, obviamente, acaba por ser sociológica, cultural, e, claro, novamente e sempre, económica. Há em tudo isto, como era de esperar, um círculo vicioso. Que, como todo os vícios, é difícil de atacar e mais ainda de vencer. Daí ser sobretudo um problema político, ou a necessitar de intervenção política. Que os grandes políticos do condomínio deviam fazer, se quisessem ficar na história nacional por uma grande obra, mas que não fazem porque pertencem ao condomínio (embora alguns sejam ainda cristãos-novos) além de estarem cercados por exércitos de condóminos militantes. De facto, enxameiam o condomínio micropolíticos zumbidores que, cheios de ambição, e não querendo, claro, deixar de pertencer, fazem um enorme contra-vapor para que tudo continue como está. A comunicação social de Lisboa, de uma maneira ou doutra, faz de voz do dono, e como se consideram também donos do condomínio e navegam nas mesmas águas, trabalham para o valorizar. Ora, isto é ainda político.
Viciosamente político.
Mas, sendo assim, como é que a Província ajuda? Descapitalizando-se de dinheiro e gente. E porquê? Porque a Província não os consegue manter por falta de forças suficientes e sedução bastante. Isto é, não tem empresas, indústrias, empregos, serviços e cidades suficientemente atractivos. Ou julga e diz que não tem, mesmo nos casos em que já tem bastante e com condições para ter muito mais. Daí não o notar, nem sentir obrigação de colaborar no processo de desenvolvimento, nem de o dizer. Poderia assim criar sentimentos colectivos que geram dinâmicas de desenvolvimento, e faria um serviço à sua terra e ao País, mas frequentemente faz o contrário.
Se repararmos, verificamos que em muitos pontos do País, e em muitos sectores, se têm feito grandes esforços para romper com este círculo. Há exemplos notáveis de empresas, universidades, centros de investigação, pequenos empresários, produtores culturais que mostram que em muitos aspectos o País está a reagir a este fado. E alguns, na Região Centro, são exemplos notáveis. Mas ao ter de remar contra a maré são obrigados ao dobro do esforço, obtendo metade dos resultados. Por outro lado, na era do marketing, que, segundo parece, é capaz de produzir ou fazer desaparecer “realidades” (não se diz que o que não aparece não existe?) alguma mentalidade regional, agarrada a certos quadros antiquados, sem grande capacidade de análise ou simplesmente amante da maledicência, é frequentemente, para o condomínio de Lisboa, um excelente complexo vitamínico sob musical celestial.
Por exemplo, não há “teórico” coimbrinha (ou coimbricida?) que, quando lhe dão possibilidade de abrir a boca, fazendo embora juras de amor à cidade, não venha com os chavões do costume. A perda de peso político, a perda de influência regional, a “regionalização” da Universidade, a decadência industrial, o marasmo, etc. Ou seja, umas tantas ideias que ou são completas tolices, ou perderam o prazo de validade, ou, quando muito, são meias verdades que precisariam de ser analisadas, contextualizadas e comparadas. Mas a que a comunicação social, ao dar guarita e realce, e até com chamadas de atenção em letra mais grossa, reforça, contribuindo para o condomínio lisboeta com um capital psicológico que nos faz muita falta e que em Lisboa já transborda. Querem exemplos recentes?