P – Que leitura faz do tecido empresarial da região Centro?
Não é muito distinto do nacional: composto esmagadoramente por PME´s sem sustenção e com muitos empresários que não são empreendedores. Porém, a proporção de empresas com indicadores de inovação é superior à média nacional. Isso é um bom sinal a que não será alheia a presença de importantes pólos de conhecimento: Coimbra e Aveiro. Finalmente, assimétrico, ou seja, com algumas (poucas) empresas-bandeira e muitas sem expressão, decorrente do facto de ter um elevado índice de micro-empresas.
P -Em termos empresariais e económicos, o Centro tem algum peso a nível nacional?
Nas actividades tradicionais – trabalho intensivo e tecnologicamente pouco evoluídas – a região Centro está em segundo lugar nacional na proporção de Valor Acrescentado Bruto, porém isto significa uma baixa produtividade. Por outro lado, nas actividades intensivas em conhecimento (TIC, biotecnologia, produtos para a saúde, energias renováveis) tem havido um incremento. Uma vez mais ligado ao motor científico e académico, demonstrando ser esse o caminho. Os indicadores de investigação e desenvolvimento da região são elevados também. Não esquecendo, obviamente, o peso do turismo na região, com enorme potencial (termalismo, turismo rural, aldeias históricas, turismo religioso, parques naturais) que a distingue no todo nacional.
P – … e a nível internacional?
Não quero cometer uma imprudência, mas desconfio que a região não tem ainda expressão internacional, salvo situações muito excepcionais em produtos/serviços de elevado valor tecnológico e nalguma especialidade médica. Não obstante, tem enorme potencial.
P – Que deve fazer a região para cativar investimentos de grandes grupos internacionais?
O primeiro dos passos seria uma profunda introspeção estratégica, definindo assim duas ou três áreas onde se pode distinguir na Península Ibérica (repare que já não falo em Portugal) e acrescentar valor às empresas que aqui se queiram fixar; depois, recordo por me rever integralmente numa sugestão do José Miguel Júdice há dois anos: as Universidades de Coimbra e de Aveiro deveriam deixar de estar de costas voltadas e unirem-se criando o maior e melhor centro universitário do país e um dos mais importantes da Ibéria. Este passo seria determinante para atrair empresas ligadas aos sectores mais emergentes a nível mundial e para impulsionar os empreendedores portugueses.
P – Os empresários, investidores, políticos e “ forças vivas” do Centro já perceberam que é urgente alargar horizontes?
Num Mundo tão competitivo e global as empresas portuguesas não têm dimensão para vingar isoladamente. Consórcio e parceria estratégica deviam ser o focus de quem gere e de quem deseja “voar mais alto”, de outro modo os custos são elevados e o retorno inexistente ou a longo prazo. Quando ouço falar em missões empresariais do concelho “x” ou “y” ou da associação comercial e industrial da cidade tal ou tal até me arrepio, porquanto é preciso ganharmos escala. Os concelhos que compõem a região Centro valem pouco isoladamente, assim como os tecidos empresariais concelhios. Todos somados poderão começar a ter dimensão para ser mais competitivos. Isto implica uma nova mentalidade e uma nova geração de decisores que olhe além do seu quintal… Antes de partir implica perceber que modelo estratégico queremos para o Centro: um spot tecnológico ligado aos centros de saber; uma referência no sector energético e florestal; um destino de excelência no turismo?.. Isto não está assumido, pelo que sem sabermos quem somos, como poderemos definir para onde vamos?…
P – Que é preciso fazer para ir à procura de novos mercados?
O mercado português tem dimensão reduzida pelo que quem quiser ganhar escala e crescer precisa inexoravelmente de ir para fora. Internacionalizar – entendido como estar presente nos mercados externos e produzir para os mercados externos – não serve apenas as empresas em concreto, é a tábua de salvação para a economia nacional, conforme está provado. De outro modo, definharemos numa dependência insuportável. À atávica “diplomacia de canapé e rissol” que caracteriza os nossos diplomatas as regiões deveriam opor-se pela organização de missões para a internacionalização bem estruturadas e continuadas no tempo: por exemplo, ir ao Brasil e estar quatro dias para regressar passado um ano ou trocar meia-dúzia de mails não trás resultados. As empresas desperdiçam demasiado tempo e dinheiro. A região centro deveria escolher meia-dúzia de mercados estratégicos e fixar ali delegações em representação das empresas que a compõem. As regiões espanholas fazem isto com enorme sucesso. Não esperam pela diplomacia de Madrid…
P – Está numa das maiores empresas a nível mundial, se não mesmo a maior. Felizmente, já não é caso raro. Porque é que isso acontece?
Os portugueses têm características absolutamente singulares: criatividade e improviso únicos, forte capacidade colaborativa, que são actualmente mais-valias num quadro de elevada competitividade, por isso é normal que as multinacionais nos recrutem. Os portugueses quando em ambiente internacional têm dos melhores resultados e são dos mais eficientes. Isto tem que ver com o modelo organizativo das empresas assente em graus de exigência que evoluem na razão directa do reconhecimento do mérito. Em Portugal, o mérito é desprezível, por isso as taxas de sucesso e de produtividade são tão baixas. A forma e o modelo como o capital humano é interpretado na Microsoft deveria estar sempre em cima da mesa de qualquer primeiro-ministro, iria ser de enorme utilidade!
P – Porque é que Portugal ainda não tem a capacidade de atrair profissionais de topo de outros países?
Portugal tem condições únicas para ser uma grande plataforma mundial. Repare-se: a situação geográfica privilegiada como “porta” europeia, proximidade com África e laços fortes com as Américas; baixíssimos níveis de insegurança; estabilidade política; clima temperado, entre outros, são factores de inegável atractividade. Se acrescentarmos a isso uma nova geração de quadros qualificados temos as condições ideiais para vingar como país. Falta-nos uma estratégia sustentada para internacionalizar definitivamente a nossa economia, que permitiria sem dúvida atrair mais investimento externo e competências.