Organeiro do Lorvão ameaça levar Estado a tribunal

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O organeiro António Simões ameaçou hoje interpor uma providência cautelar contra o Estado, pela retirada de um armazém, à sua revelia, das peças do órgão ibérico do Mosteiro do Lorvão, em Penacova, “que lhe estavam confiadas”.

“Foi tudo feito pela calada, não dei por nada, e, de repente, vejo nos jornais que as peças tinham ido para o Mosteiro”, declarou à agência Lusa António Simões, que mantém há anos um diferendo com o Estado em torno do contrato, celebrado há 22 anos, para restauração do órgão de tubos.

As peças do órgão ibérico, considerado único por ter duas fachadas – a da igreja e a do coro – regressaram ao Mosteiro do Lorvão há cerca de duas semanas, após vários anos encaixotadas em armazém à responsabilidade do organeiro e sem que tivessem sido restauradas.

Depois de alguns anos guardadas em Condeixa-a-Nova, as peças encontravam-se em Ansião, num armazém arrendado ao organeiro e sobre o qual há uma ação de despejo interposta pelo senhorio, dirimida nos tribunais, e que impede António Simões de aceder aos materiais, desde 2007.

O longo atraso na recuperação do órgão do Lorvão motivou há um ano a criação de um movimento em defesa daquele património.

Há uma semana, foi lançado o concurso internacional para a conservação e restauro do órgão, por um preço base de 670 mil euros.

Satisfeito com o regresso das peças ao local de origem, o presidente da Junta de Freguesia do Lorvão, Mauro Carpinteiro, sustenta, em declarações à Lusa, que “o interesse público não se compadece com questões menores entre o organeiro e o Estado”, alertando para a degradação do material.

O organeiro reconhece que “chove no armazém” onde as peças estavam, daí que tenha solicitado, no início do mês, (antes do regresso das mesmas ao Lorvão), durante um encontro informal, uma reunião ao diretor regional da Cultura do Centro, António Pedro Pita.

“Sinto-me chocado porque estou fora do processo de forma indelicada. Só peço que me mostrem o documento (legal) para saber como tudo se processou, gostava de saber como os materiais saíram do armazém”, disse.

António Simões afirma que, ao longo de todo o processo, que se arrastou pelos tribunais, “houve várias hipóteses de acordo com o Instituto do Património que nunca chegaram ao fim por causa das mudanças de governos”.

“Deviam chegar a acordo, dialogando comigo. Se for preciso, vou até ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem”, advertiu.

A Lusa tentou obter esclarecimentos junto do diretor regional de Cultura do Centro, mas sem sucesso, por se encontrar incontactável.

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