Cinco anos que mudaram a face do desporto

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P – O que mudou, na política desportiva, desde 2005?

R – O que mudou foi o modelo de desenvolvimento desportivo. Apostou-se simultaneamente no desenvolvimento do desporto de alto rendimento e no desporto dito de base, que inclui as apostas no desporto escolar e na generalização da prática desportiva.

P – O fomento do desporto de base é uma aposta ganha?

R – Uma das grandes apostas desde 2005 foi dar prioridade ao desporto na escola. Garante-nos a formação de hábitos de saúde e prática desportiva, que se repercutirão em benefícios relevantes, pessoais e sociais durante toda a vida dos cidadãos. Esta iniciativa teve como alvo o 1.º ciclo do ensino básico com uma taxa de cobertura da actividade física e desportiva a nível nacional de cerca de 97,8%, mesmo tendo um carácter não obrigatório. Também ao nível do desporto escolar que atingiu 1,5 milhões de alunos, cerca de 7.000 escolas e 6.000 professores, números nunca vistos em Portugal.

P – Qual o alcance dos incentivos à segurança das instalações desportivas?

R – Foi uma medida que apoiou um total de 361 clubes e associações desportivas com um investimento total de 4,1 milhões de euros. Uma medida determinante para muitas colectividades e pequenas organizações que tiveram a possibilidade de assegurar melhores condições às populações.

P – Vieram depois os relvados sintéticos

R – É verdade. Quisemos apetrechar todos os municípios que não tinham nenhum grande campo de jogos relvado com um equipamento de primeira necessidade para servir todos os cidadãos. Construímos, em parceria com as autarquias, 82 campos de relva sintética num investimento que atingiu 32,7 milhões de euros. Esta medida permitiu corrigir desequilíbrios e injustiças, especialmente no interior do país, garantindo igualdade de oportunidades, designadamente dos mais jovens, no acesso condigno às instalações desportivas.

P – Para além dos sintéticos, há ainda os mini-campos

R – Foi algo que teve grande impacto junto das populações e estimulou a prática desportiva de proximidade, sobretudo em bairros mais carenciados e em pessoas com menos mobilidade. Em quatro anos construímos cerca de 200 mini-campos campos desportivos, em parceria com a Federação Portuguesa de Futebol, num investimento total de 2,6 milhões.

P – Entretanto, houve “mexidas” nas federações

R – O investimento foi na modernização das Federações Desportivas, dotando-as de meios como sejam o apetrechamento desportivo, a aquisição de equipamento ou mesmo o apoio à contratação de recursos humanos. Este programa permitiu uma melhoria significativa, tanto a nível organizacional como em termos operacionais.

P – O senhor assumiu funções na “ressaca” de dois momentos altos do desporto português, o Euro’2004 e os Jogos Olímpicos de Atenas. Quais os pontos marcantes do seu “consulado”?

R – Os pontos altos de um mandato são aqueles em que se conseguem resolver os problemas que ainda não tinham sido resolvidos até ao momento. Essas são as grandes vitórias do interesse público e a maior gratificação que um político pode obter. E no nosso mandato foram muitos os problemas que foram resolvidos.

P – Por exemplo…

R – Por tudo o que já disse. E também pelo aumento e estabilidade do financiamento do sistema desportivo, pela alteração da lei dos jogos sociais; ou pela defesa intransigente da ética, e a aposta sem tréguas na luta contra a dopagem, não permitindo que o desporto seja hipotecado a interesses outros que não sejam o de serviço público e de valor social, aliás como vem consignado no Modelo Europeu do Desporto e no Tratado da União Europeia.

P – Falta falar nos centros de alto rendimento…

R – Essa é a medida mais estruturante para o futuro do desporto portuguêrs. Trata-se de uma rede de 18 centros de alto rendimento, específicos para 21 modalidades desportivas, num investimento total de 66 milhões. Foi a última oportunidade para obter fundos europeus para este fim, depois da forma desorganizada como antes foram investidos milhões em infra-estruturas desportivas hoje desajustadas.

P – Sei que houve resistências à criação desses centros…

R – Os centros não foram uma decisão unilateral do Governo. Auscultámos as autarquias e as federações desportivas. E seguimos as melhores recomendações que nos fizeram chegar quanto aos melhores benefícios que cada localização podia dar em termos de sustentabilidade, e benefício para o desenvolvimento do desporto.

P – Qual a lógica da distribuição geográfica?

R – Foi uma lógica que teve em conta, por um lado, uma distribuição descentralizada pelo país, numa lógica de coesão territorial, e, por outro, a valorização do património do Estado como são os casos dos centros localizados no Jamor – râguebi, golfe, atletismo e ténis – e do de voleibol, que ficará localizado no antigo Centro de Estágios de Lamego.

P – Já há datas para a abertura dos centros que faltam?

R – A rede nacional contará com 18 unidades, espalhadas por todo o país. Para já temos seis em funcionamento, que correspondem a 14 modalidades. Para além das já referidas, há também o ciclismo, esgrima, ginástica, judo e trampolins, aqui perto, em Anadia. Depois, nas Caldas da Rainha há o badminton e a natação é em Rio Maior. Finalmente, este, de Montemor-o-Velho, para canoagem, remo, triatlo e natação de águas abertas. As restantes unidades estão em fase de construção, ou em candidatura. Em 2011, contamos abrir mais oito novos

P – Como é que vão sobreviver os centros?

R – Os contratos de parceria e cooperação que estiveram na origem das próprias localizações prevêem que o Estado, através do IDP, as federações, as autarquias, as universidades e a própria iniciativa privada garantam a sustentabilidade de cada um, numa lógica de desenvolvimento local.

P – Como assim?

R – Explico mais concretamente o caso do Ténis, que foi o centro que abriu há mais tempo: a federação já tem uma estrutura técnica liderada pelo João Cunha e Silva, que treina ali os nossos melhores tenistas jovens. Por outro lado, já se realizaram ali várias competições nacionais e internacionais e até já temos vários atletas estrangeiros a estagiar no Jamor, bem como nas Caldas da Rainha, em Anadia, etc. Ao mesmo tempo faz-se a exploração comercial das instalações.

P – O paradigma de fomento do desporto de competição vai continuar a ter os clubes e as associações como eixos fundamentais?

R – Vai continuar a ter os clubes e as associações como factores fundamentais, mas sempre com os atletas em primeiro lugar. E não apenas do desporto de competição. O mundo mudou e a realidade desportiva também. A acção do Governo, a partir de 2005, baseou-se na assumpção de que o desporto passou a ter um significativo impacto na vida dos cidadãos, na economia, na imagem e no prestígio dos países. Não apenas pela oportunidade que dá para se ser saudável e activo, mas também pelas trocas económicas, pelo emprego e pela riqueza que gera. E ainda, por causa da sua dimensão social.

P – Como avalia o trabalho de revisão do edifício legal que tutela o desporto?

R – Os clubes e as associações necessitavam de se enquadrar nesta mudança, para não perderem o valor e o peso que tinham antes. Se não tivéssemos feito esta reforma legislativa e esta reorganização do sistema desporto português, pugnando por uma visão de serviço público e pela defesa da ética, o contributo dos clubes e das associações seria engolido pelos interesses económicos e pela subversão que ameaça constantemente os valores sociais do desporto.

P – Que expectativas tem para o Europeu de Remo, em Montemor-o-Velho?

R – A firme expectativa de um grande sucesso organizativo, não tenho dúvidas. Uma excelente oportunidade para os nossos atletas competirem em casa e a certeza de que Montemor-o-Velho ficará na rota obrigatório do Remo europeu.

P – Como avalia a capacidade instalada, em Montemor e na região envolvente, para receber uma competição desta dimensão?

R – O Campeonato da Europa de Montemor-o-Velho é já o Europeu mais participado da história dos campeonatos da europa de Remo. Temos 34 países, cerca de 700 atletas, o que significa cerca de 1.100 participantes. O eixo urbano Coimbra, Montemor, Figueira dá-nos garantias de capacidade para receber um tão elevado número de participantes e público.

P – Qual a repercussão desta competição na economia da região?

R – Penso que não tem qualquer discussão. Por outro lado Montemor-o-Velho passará a ser passagem obrigatória dos principais países da Europa usufruindo de um local de treino num município e num país que sabem acolher, mas sobretudo, tem condições físicas que conciliadas com as climatéricas, poucos países na Europa podem oferecer.

P – A cooperação com as entidades locais e regionais, nomeadamente, a Câmara de Montemor-o-Velho, tem correspondido às expectativas?

R – Quero deixar aqui uma palavra de profundo reconhecimento a um município, que soube perceber a importância desta infra-estrutura para o seu desenvolvimento e fez este avultado investimento.

P – Até que ponto este investimento mudou a face do concelho de Montemor?

R – A realidade mudou em Montemor-o-Velho. A cidade tem hoje novos residentes em permanência, motivados pela presença desta infra-estrutura, que estudam no concelho, que estudam na Universidade de Coimbra. As federações criaram aqui alojamento para os seus atletas, estruturaram os seus planos de desenvolvimento em função deste equipamento. Montemor-o-Velho tem hoje campeões da Europa e do mundo a viver na sua cidade e isto tem muito valor, o desporto português está progressivamente a deixar de ser só Lisboa e Porto.

P – Uma revolução em cinco anos…

R – Não sei. Sei que fizemos, em cinco anos, o que as pessoas esperavam há 20 ou 30 anos.

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