A desertificação foi a grande culpada. Levou para longe os filhos da terra e, com eles, os costumes e as tradições da aldeia. A festa em honra de S. Domingos era em tempos uma das maiores romarias da freguesia do Cadafaz. Realizava-se sempre a 4 de Agosto – fosse ou não dia de semana. Embora houvesse bailarico, era a vertente religiosa que mais gente reunia na aldeia. A procissão, depois da missa, era o ponto alto das festas.
Este ano, volvidos 17 anos, não foi possível levar as sete imagens para rua. “Seriam necessárias 28 pessoas para levarem os andores. E não há tantas pessoas disponíveis na aldeia”, lembra Jorge Alves, nascido e criado na Sandinha.
O sossego da aldeia que levou para longe os naturais da terra, é agora aquilo que os traz de volta à Sandinha. As casas de xisto estão a ser recuperadas e nelas se dá o reencontro com o passado. Foram alguns filhos da terra, que regressam à aldeia aos fins-de-semana e nas férias, que motivaram o retomar das festas.
Foram eles que, juntamente com os mais velhos – aqueles que não arredaram pé da aldeia –, uniram esforços para que este ano houve esse de novo espaço de convívio. E, de novo, a população regressou para um bailarico que durou até altas horas da madrugada. Um dos elementos do grupo que animou a noite cresceu, também ele, na Sandinha.
Iguarias da aldeia
O leilão de ofertas – à semelhança da missa – foi um costume que nunca se perdeu ao longo destes 17 anos. No sábado à tarde repetiu-se, no Largo do Terreiro. Os produtos da quermesse foram quase todos ofertados pelos moradores: desde jeropiga caseira a mel, passando pela típica chanfana ou o cabrito assado. E houve também filhoses, tortas, bolos cozidos em fornos de lenha. Se alguns levaram os produtos para casa, outros ofereceram os bens licitados à “comissão de festas”. Numa mesa colocada propositadamente no largo, iam sendo colocadas as iguarias. E, findo o leilão, os participantes foram, uma vez mais, convidados a provar os sabores da aldeia.
A festa em honra de S. Domingos foi um sucesso – tendo em conta que, nesse mesmo dia, e ali bem perto, decorria a concentração motard em Góis. Por isso, para o ano é quase certo que os festejos se repitam. “Dá muito trabalho, mas é um gosto ver a terra em festa”, adianta Jorge Alves. Estima-se que não sejam necessários outros 17 anos para que o bailarico regresse. Em 2011, Sandinha voltará a engalanar-se para a festa. E os filhos da terra, esses, não faltarão.