As ruas das freguesias de S. Martinho do Bispo, Ribeira de Frades e Taveiro, em Coimbra, estiveram bem compostas de pessoas que queriam beijar a imagem do Círio de Nossa Senhora da Nazaré.
Seis séculos depois, a tradição manteve-se. E, segundo a organização, “com mais gente na rua”. A passagem da imagem do Círio de Nossa Senhora da Nazaré continua a atrair multidões que, nalguns casos, acompanharam a procissão através das suas bicicletas, motos, moto quatro, tractores e carroças puxadas a cavalo.
Outros houve que aguardaram à porta de suas casas na expectativa de ver a imagem e até beijá-la. Um momento sempre emocionante, pois os muitos devotos da santa não conseguiram segurar as lágrimas, acabando por lhes cair pelo rosto.
Para o padre António Coelho, esse é o principal sinal da devoção das pessoas a uma tradição que remonta ao tempo em que os frades que viviam em Coimbra vinham a estas zonas “cobrar as dizimas, vinham levantar o arroz, as batatas… e traziam um círio”. O pároco recordou que o círio tornou-se “o símbolo da fé do centro de espiritualidade que era, na altura, o mosteiro”. Uma espiritualidade que, como fez questão de lembrar, ainda se encontra muito enraizada nos seniores destas freguesias da margem esquerda do Mondego.
O que é certo é que, nos últimos anos, a população jovem começou também a mostrar a sua devoção. Sinais dos tempos? António Coelho desconhece, mas regista com agrado que tal aconteça. “Muitos deles procuram estar com respeito à passagem da imagem, o que me apraz muito”, disse.
A presença de muitos jovens ao longo do percurso também agrada a Jorge Veloso. O presidente da Junta de Freguesia de Ribeira de Frades desconhece as razões, mas acredita que os momentos de crise e a devoção das pessoas com mais idade ajudou a que tal acontecesse.
A forte aposta publicitária feita para a presente edição das festas também contribuiu, de acordo com o autarca, para que na manhã de ontem mais pessoas e, principalmente, jovens, estivessem ao longo do trajecto.
Uma imagem que, pela sexta vez, foi “carregada” por José Luís Pereira. “É com muito gosto que o faço”, disse. E para que a tradição nãose perca, o ribeirense revelou que em 2011 a comissão de festas será apoiada por um grupo de jovens. O objectivo é claro: “incentivar, ainda mais, os nossos jovens a participarem num costume com mais de seis séculos e que não se deve perder”.
Uma tradição que foi cumprida ao final da tarde de ontem com o regresso da imagem à Igreja de Santa Cruz.